Paulo Sousa deslumbra Florença e reina em Itália

Treinador português lidera de forma isolada o campeonato italiano, algo que a equipa “viola” não conseguia há 17 anos.

Foto
Paulo Sousa está a convencer os adeptos da Fiorentina FILIPPO MONTEFORTE/AFP (arquivo)

Mal o nome de Paulo Sousa foi confirmado como treinador da Fiorentina, no passado mês de Junho, logo surgiram graffiti nas paredes da cidade italiana a contestar a escolha. Tudo porque os adeptos “viola” não esqueceram ou perdoaram o passado do técnico como jogador da rival Juventus (1994-96). Mas a crítica foi obrigada a calar-se em pouco tempo face aos resultados e à excelência do futebol praticado, que rende o primeiro lugar isolado do campeonato à passagem da 7.ª jornada. Uma saborosa liderança na Série A que não ocorria há 17 anos, quando um outro português, Rui Costa, brilhava no clube toscano.

“A história faz-se trabalhando e vencendo”, garantiu Paulo Sousa, após derrotar em casa a Atalanta, por 3-0, no último domingo. Um resultado que, associado ao empate do Inter de Milão no terreno da Sampdoria (1-1), deixou a Fiorentina solitária no topo da classificação. Mas a grande façanha do técnico tinha sido alcançada na ronda anterior, quando foi a Milão impor uma goleada ao então líder Inter, por 4-1.

Paulo Sousa é o treinador do momento em Itália, onde chegou há três meses com um currículo ainda modesto na bagagem, mas com uma determinação enorme em triunfar, tal como há 21 anos, quando se apresentou aos italianos como jogador. Campeão mundial de sub-20, em Riade, em 1989, fez parte da intitulada “geração de ouro” do futebol português e é já o treinador mais bem-sucedido desta “colheita” de grandes futebolistas. Estreou-se na equipa principal do Benfica no mesmo ano do título na Arábia Saudita, mas só iria agarrar definitivamente um lugar na temporada seguinte. No Verão “quente” de 1993, protagonizou uma polémica saída para o Sporting, alegando salários em atraso no clube da Luz, e, um ano depois, estava a caminho da Juventus.

Rotulado como um dos médios mais brilhantes da sua geração, confirmou os predicados na “vecchia signora”, clube ao serviço do qual ergueu a Liga dos Campeões, em 1996. E no ano seguinte repetiu a façanha, ao serviço do Borussia Dortmund. Na Alemanha começou também a ser fustigado por lesões, que lhe foram retirando o protagonismo no relvado. Regressou a Itália, no arranque da temporada de 1997-98, para alinhar no Inter de Milão, seguindo-se, três anos depois, o Parma, mas longe do brilhantismo da sua primeira passagem.

Orientado por grandes nomes do futebol como Sven Goran Eriksson, Bobby Robson, Marcelo Lippi ou Ottmar Hitzfeld, Paulo Sousa foi um aluno atento, até porque começou cedo a desenhar-se na sua cabeça uma carreira de treinador. Depois de uma primeira experiência nas camadas jovens da selecção nacional, aceitou um convite para treinar o Queens Park Rangers, que militava na segunda Liga inglesa. Seguiram-se o Swansea e o Leicester, também do segundo escalão, antes de aceitar uma experiência no futebol húngaro, ao serviço do Videoton. Pela primeira e única vez, ficou num clube por mais do que uma temporada e foi na Hungria que conquistou os primeiros títulos: uma Supertaça e uma Taça da Liga.

Num trajecto relativamente invulgar para um técnico português, a começar por nunca ter treinado um clube no seu país, Paulo Sousa ruma em 2013 a Israel, assumindo o Maccabi Tel Aviv, ao serviço do qual venceu o título nacional. No final da época, regressa à Europa, desta feita ao futebol suíço, pela mão do Basileia, conquistando também um campeonato. Alcança ainda os oitavos-de-final da Liga dos Campeões, acabando por ser eliminado pelo FC Porto.

O bom futebol praticado pela equipa suíça convenceu os dirigentes da Fiorentina a apostar na sua contratação, para render o italiano Vincenzo Montella, que havia levado a equipa ao quarto lugar da classificação na última temporada. A bitola está alta, mas Paulo Sousa tem estado à altura do desafio. Com um investimento relativamente modesto (29,5 milhões de euros) em comparação com os principais adversários na luta pelos primeiros lugares da tabela, o português tem colocado a equipa a jogar um futebol atractivo, assente na posse de bola e fulminante no ataque. Acima de tudo, está a fazer sonhar uma cidade que só festejou dois títulos nacionais na sua história, nas longínquas temporadas de 1955-56 e 1968-69. “É uma Fiorentina transbordante, que às vezes encanta e surpreende o Franchi [estádio da equipa]”, como resumiu o La Repubblica no domingo.

E não é só a imprensa transalpina que o português está a convencer. Marcelo Lippi também parece rendido ao futebol da Fiorentina: "
Gosto muito do Paulo. Quando foi meu jogador, falávamos muito sobre como fazer pressão sobre os adversários no meio-campo. E vejo muito disso na Fiorentina, uma equipa muito agressiva e com ideias de jogo", confessou à Radio 2.

Sugerir correcção
Comentar