Paulo Bento está de pedra e cal, aconteça o que acontecer

Técnico garantiu que continuará como seleccionador nacional, independentemente do desfecho da participação no Mundial. Treinador admitiu que a equipa está obrigada a “esgotar as poucas possibilidades” que restam de apuramento para os oitavos-de-final.

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Portugal voltou a recorrer à calculadora e as contas da selecção nacional no Campeonato do Mundo não são fáceis de fazer: a equipa orientada por Paulo Bento está obrigada a bater nesta quinta-feira o Gana (17h, RTP1) e esperar que não haja empate entre EUA e Alemanha para avançar para os oitavos-de-final. Mas não é só isso. Entre um triunfo português e uma vitória alemã (que seria o cenário mais favorável) são necessários cinco golos de diferença, ou seja: Portugal vencer por 2-0 e a Alemanha por 3-0; ou a selecção golear 4-0 e a Mannschaft ganhar aos EUA pela margem mínima, por exemplo. Paulo Bento nem quer ouvir falar de um possível acordo entre os amigos Joachim Löw e Jürgen Klinsmann que sirva a alemães e norte-americanos. E deixou uma garantia: seja qual for o desfecho da participação neste Mundial, vai continuar à frente da selecção.

“Aconteça o que acontecer no jogo de amanhã [hoje], eu não me demito do cargo de seleccionador nacional”, frisou o técnico, lembrando que o seu contrato foi renovado antes do torneio organizado pelo Brasil: “Em Abril cheguei a um acordo com a Federação Portuguesa de Futebol (FPF), que não tinha só a ver com os resultados no Mundial mas também com objectivos para 2016”. Visivelmente irritado com o tema, Paulo Bento encerrou a questão garantindo que colocar o lugar à disposição não está nos seus planos. “Não é a minha intenção e não é a intenção do presidente da FPF”.

Apenas o jogo contra o Gana ocupa a mente de Paulo Bento: “Temos de ganhar. Sabemos que a situação é complicada e outras coisas têm de acontecer”, resumiu, referindo-se ao resultado do EUA-Alemanha. A hipótese de um acordo entre as duas selecções nem lhe passa pela cabeça. “Temos um jogo para fazer. A Alemanha e os EUA têm outro jogo para fazer. Só podemos jogar o nosso. O mais importante é sentirmos a nossa motivação, que tem de ser grande. Devemos lutar e esgotar as poucas possibilidades”, vincou o técnico. E, apesar da vaga de lesões que tem afectado a equipa, Bento reafirmou “toda a confiança no departamento médico” da selecção.

Protagonista, pela negativa, do jogo de estreia de Portugal no Mundial 2014 (foi expulso quando a equipa nacional já perdia por 2-0), Pepe também esteve perante os jornalistas. E defendeu-se: “Um vermelho directo é para uma agressão, que a FIFA pune com dois ou mais jogos. No meu caso está visto que não foi uma agressão, a FIFA só me deu um jogo. Sinto-me triste, deixei os meus companheiros numa situação complicada”. O defesa assegurou, porém, que a equipa nunca esteve de cabeça quente. “Jamais. Falhámos no primeiro jogo, mas nunca perdemos a cabeça. Sabemos quais são as nossas capacidades e que, com os jogadores que temos, não era para estarmos nesta situação. Foi uma expulsão super rigorosa no primeiro jogo. Mas também houve um penálti a nosso favor por assinalar”, acrescentou.

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“Se acredito em milagres? Acredito. Para a gente é possível. Sabemos que é difícil, mas temos de lutar. É isso que vamos fazer até ao final, com as armas que temos. Vamos dar sempre a cara”, concluiu Pepe.

Dinheiro para o Gana
Do outro lado estará uma selecção ganesa que também alimenta aspirações a um lugar nos oitavos-de-final, mas com a vantagem sobre Portugal de ter um saldo de golos mais favorável. Muntari, castigado, não entra nas opções de James Kwesi Appiah para a partida de Brasília. Mas o principal tema de conversa foi outro: dinheiro. Houve notícias sobre uma ameaça de boicote por parte dos jogadores ganeses caso não fosse pago o prémio de presença no Mundial, problema que terá ficado resolvido graças à intervenção do governo. Segundo a BBC, que citava o ministro do Desporto do Gana, maços de notas no total de três milhões de dólares (cerca de 2,2 milhões de euros) atravessaram o Atlântico de avião para que a ameaça não se cumprisse.

“É verdade que houve algumas questões relacionadas com dinheiro”, admitiu o seleccionador James Kwesi Appiah, acrescentando: “Mas os dirigentes e o governo estão a trabalhar para resolver. Deviam ter recebido antes da competição, mas vai resolver-se nas próximas horas”. Em jeito de desabafo, Appiah queixou-se de falta de descanso. “Nem tenho conseguido dormir. Estas coisas normalmente são tratadas antes do campeonato. Mas quando chega a este ponto... infelizmente dei comigo nesta situação, a tentar motivar os jogadores para actuarem ao seu melhor nível. Mas o importante é que o presidente interveio e tudo deverá resolver-se”, sublinhou.

O ex-FC Porto Christian Atsu reiterou as declarações do técnico e esclareceu que, haja ou não dinheiro, os futebolistas ganeses vão dignificar o país. “Estamos na maior competição do mundo. Se não recebermos vamos deixar isso tudo para trás. Os olhos do mundo estão sobre nós. Não vamos dizer que não vamos jogar por causa do dinheiro. Estamos concentrados. Não haverá boicote. Queremos jogar pelo nosso país”, garantiu.

Sobre Portugal, Appiah disse tratar-se de uma boa equipa e rejeitou que a equipa tenha de concentrar-se em anular Cristiano Ronaldo. “Todos sabemos que é o melhor jogador do mundo. Temos de ser muito disciplinados tacticamente. A selecção portuguesa é muito boa, não podemos concentrar-nos num só jogador”, vincou. “Se perdermos a concentração durante um segundo estamos ‘mortos’”, concluiu.

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