Renovação, sim. Revolução, não

Após o fracasso no Mundial 2014, a selecção portuguesa inicia frente à Albânia a qualificação para o Euro 2016.

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“Queremos começar a fase de qualificação da melhor maneira”, disse Paulo Bento Francisco Leong/AFP

Passaram sensivelmente dois meses e meio desde que a selecção portuguesa disse adeus ao Brasil e ao Mundial 2014, num desempenho desapontante resumida pelo presidente da Federação Portuguesa de Futebol em três palavras: “Não fomos competentes”. Houve tempo para digerir a eliminação na fase de grupos do Campeonato do Mundo, fazer mudanças no departamento médico e pensar no futuro. O leme continua nas mãos de Paulo Bento e será com um grupo renovado que Portugal parte para a qualificação para o Euro 2016: o percurso começa neste domingo frente à Albânia (19h45, RTP1) mas não se adivinha uma revolução. As ausências, por lesão, de Bruno Alves e Cristiano Ronaldo devem ser supridas por homens que estiveram no Brasil (Ricardo Costa e Vieirinha). O mesmo aplica-se a Hugo Almeida e Hélder Postiga, que ficaram fora da convocatória – Éder será a referência atacante. Só Adrien Silva, a entrar no “onze” inicial (para o lugar de Raul Meireles), será uma novidade absoluta e um sinal de renovação.

Paulo Bento não deu pistas concretas sobre a equipa que alinhará em Aveiro. “Não há nenhuma equipa que fique mais forte sem o melhor jogador do mundo”, salientou o técnico, que abordou também a escassez de avançados: “Temos dois, Éder e Ivan Cavaleiro. São jogadores com características diferentes, é um facto. Temos dificuldade em termos de quantidade, mas já se passou o mesmo com essa mesma posição noutras alturas.”

O rejuvenescimento deve ficar-se pela convocatória de Paulo Bento. A média de idades dos 24 convocados (Bruma foi ontem descartado para reduzir a lista oficial aos 23 exigidos pela UEFA) é de 25,6 anos, mas mesmo sem contar com o jovem ex-Sporting fica abaixo dos 26 anos. Pelo contrário, a média etária do grupo que o seleccionador levou ao Mundial 2014 estava nos 28,2 anos. Nove jogadores tinham 30 ou mais anos no dia do primeiro jogo de Portugal no Brasil, enquanto na convocatória para o encontro contra a Albânia há apenas cinco “trintões”: Eduardo, João Pereira, Pepe, Ricardo Costa e Raul Meireles. Rafa, com 21 anos, era o “benjamim” da selecção no Brasil mas nem entrou nas opções de Paulo Bento para o jogo frente à Albânia. Porém, há quatro futebolistas mais jovens do que o médio do Sp. Braga na lista mais recente: Bruma e Ricardo Horta, com 19, e Rúben Vezo e Ivan Cavaleiro, com 20. “Existe só uma selecção nacional, não há uma que esteve no Brasil e outra que vai encarar a qualificação para o Euro 2016. Há gente nova que chegou e vamos tentar identificá-los com a nossa forma de jogar. Queremos começar a fase de qualificação da melhor maneira”, apontou Paulo Bento, na antevisão do jogo desta noite.

Mundial “não muda nada”
Começar bem será começar com uma vitória, embora o passado recente (um empate e um triunfo obtido apenas no tempo de compensação) aconselhe Portugal a usar alguma prudência. “Uma equipa que é candidata a qualificar-se para a fase final do Euro 2016, independentemente daquilo que acontecesse na fase final do Mundial 2014, seria na mesma favorita. Isso não muda nada. Temos de focar-nos no nosso plano de jogo, nas dificuldades que o adversário pode colocar-nos. Com mais ou menos pressão, o essencial é jogar bem porque estaremos mais perto de ganhar”, sublinhou o seleccionador nacional, resumindo: “Queremos ir ao Euro 2016 e queremos ir em primeiro lugar.”

Isso também será uma melhoria em relação aos mais recentes grandes torneios disputados pela selecção portuguesa, habitualmente apurada no play-off. Num comentário à reflexão de Fernando Gomes e à falta de competência da equipa nacional no Brasil, Paulo Bento lembrou o seu trajecto na selecção: “Já fui seguramente mais competente, quando nos qualificámos para o Euro 2012 e fomos às meias-finais, quando fomos ao Mundial 2014... Mas fui menos competente [no Brasil]. Não demonstrámos a competência suficiente no Brasil, porque não alcançámos o objectivo mínimo que tínhamos pela frente.”

Sobre o adversário de domingo, Paulo Bento disse que é “uma equipa muito organizada do ponto de vista defensivo e que tem também um contra-ataque rápido, com jogadores velozes e agressivos.”

O italiano Gianni De Biasi, que desde Dezembro de 2011 comanda a selecção albanesa, admitiu que “um ponto até pode ser muito bom”. “Mas depende da partida, pois se mandarmos quatro bolas ao poste e o guarda-redes fizer muitas defesas pode saber a pouco”, salientou o técnico de 58 anos. “Esperamos Portugal a atacar nos primeiros minutos, pois vai jogar em casa e são favoritos. Portugal fez um Mundial decepcionante e vai ter o desejo de limpar essa imagem e provar que é uma boa equipa”, analisou De Biasi, que no entanto prometeu que a Albânia vai fazer “um jogo aberto, sem ficar só na defesa”. A ausência de Cristiano Ronaldo foi desvalorizada: “É um jogador fantástico, mas Portugal tem uma boa equipa, por isso não esperamos facilidades.”

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