Paulo Bento: “Se fosse só a vontade do presidente, possivelmente continuaria a ser seleccionador"

Treinador garantiu que não foi sua a iniciativa de romper o contrato com a federação. E desmentiu qualquer interferência de Jorge Mendes na selecção.

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Paulo Bento no treino na Friends Arena, em Solna Pontus Lundah/Reuters

O ex-seleccionador nacional de futebol garantiu nesta sexta-feira que não foi dele que partiu a iniciativa para rescindir contrato com a Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Em entrevista à RTP Informação, Paulo Bento disse também acreditar que, se dependesse exclusivamente do presidente do organismo, Fernando Gomes, provavelmente ainda ocuparia o cargo.

A iniciativa para a quebra do vínculo contratual partiu de Paulo Bento ou de Fernando Gomes? “Nem uma coisa nem outra. Após o jogo com a Albânia, através de uma conversa com o presidente, na terça-feira, dois dias após o jogo, e de comum acordo, veio à baila a questão da rescisão do contrato. Na quarta-feira, o presidente comunicou-me que não iam continuar a contar com os meus serviços”, explicou o treinador, assumindo claramente: “Não partiu de mim [a iniciativa]”.

A propósito, o técnico deu a entender que o líder federativo terá sido pressionado no sentido de romper o vínculo que durava até ao final do Campeonato da Europa de 2016. “Muito possivelmente, se fosse só a vontade do presidente, possivelmente continuaria a ser seleccionador nacional”, prosseguiu. “Dentro da federação, chegou-se à conclusão de que seria melhor prescindir dos meus serviços. Não foi uma decisão só do presidente”, atirou, sem querer particularizar.

Para além do fracasso no Mundial 2014 e da derrota em casa frente à Albânia (0-1), Paulo Bento aponta outra razão para o abandono do cargo de seleccionador. “Não estou seguro que partilhássemos todos da mesma ideia. Havia uma expectativa de que essas alterações [a renovação da selecção] fossem maiores que aquelas que eu perspectivava. E acho que isso acaba por ter algum peso, agregado ao Mundial, claro. Havia um pensamento comum que era preciso renovar, mas se calhar o pensamento não era tão comum na dimensão dessa renovação”, explicou.

O treinador que levou a selecção às meias-finais do Euro 2012 entende que se limitou a ser frontal, ao assumir perante a direcção da FPF que não sentia que tinha as condições que considerava óptimas para continuar: “Não sei se abri a porta para sair. Sei que fiz aquilo que normalmente faço com a gente com quem trabalho, que é ser honesto com elas. Eu não podia dizer ao presidente uma coisa que não sinto. E foi o que fiz”.

E o que mudou entre a conferência de imprensa de Fernando Gomes, pré-início da fase da qualificação para o Euro 2016, e o pós-jogo com a Albânia? “Um resultado negativo faz sempre vir à tona outras coisas. O Mundial teve consequências. Não tenho a certeza que o pensamento e a convicção que o presidente tinha, de seguir até 2016, era a mesma convicção das pessoas que trabalhavam com ele”, insistiu.

Esclarecida a questão da ruptura, Paulo Bento abordou também as razões que estiveram na base do afastamento de algumas figuras da selecção, como Ricardo Carvalho, Bosingwa ou Danny, ao longo do seu reinado. “Durante quase quatro anos, a par de vários outros objectivos, o meu grande objectivo foi sempre que houvesse compromisso e orgulho por representar a selecção, independentemente de ser durante 10 minutos ou 30 minutos ou como titular. E nessa altura não senti esse compromisso”, declarou, a propósito do avançado do Zenit. “Ele sabe a compreensão e a solidariedade que tive quando precisou, mas também sinto que no pós-jogo com Israel não tive compreensão da parte dele”, completou.

Olhando para o outro prato da balanço, Paulo Bento não teve também problemas em apontar os atletas que mais o marcaram neste período. Elegeu Cristiano Ronaldo como “o melhor jogador” com quem trabalhou e João Moutinho como “o mais completo”, elogiando o profissionalismo e a capacidade de leitura de jogo do médio do Mónaco.

A pretensa influência do empresário Jorge Mendes no balneário da selecção também foi um tema ao qual Paulo Bento não fugiu. “Representa muitos jogadores, representa o seleccionador nacional, como já representou outros. E recentemente ouvi uma barbaridade, que Jorge Mendes não poderia representar o seleccionador nacional. Então também não podia representar treinadores? A minha relação com o Jorge é uma relação profissional e de amizade, mas cada um sabe aquilo que são as suas funções. O melhor que posso dizer, por ser verdade, é que nunca, em momento algum, o Jorge teve algum tipo de interferência. Ele conhece-me o suficiente para saber que não seria possível”.

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