Pontapé de saída do Mundial será dado por um paraplégico

Através de um exosqueleto motorizado, uma pessoa com mobilidade reduzida vai andar no relvado do Itaqueirão e dar o pontapé de saída na cerimónia de abertura do Campeonato do Mundo.

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A cerimónia de abertura do Mundial 2014 terá um pontapé de saída "especial" Miguel Schincariol/AFP

Já imaginou uma pessoa com mobilidade reduzida como um paraplégico, conseguir levantar-se da cadeira de rodas e andar, simplesmente? O Mundial 2014 vai proporcionar esse acontecimento, no dia de abertura da competição, na Arena Corinthians, em São Paulo.

Num momento que junta o futebol à ciência, um paraplégico irá dar o pontapé inaugural da competição, recorrendo a um exosqueleto. Esta tecnologia foi desenvolvida pelo projecto “Andar de Novo”, um consórcio formado por 156 cientistas, engenheiros, técnicos e pessoal de apoio de diversos países e dirigido pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis.

A identidade do paciente é ainda um mistério. Sabe-se apenas que ele (ou ela) utilizará um exosqueleto motorizado, controlado pela actividade cerebral do paciente, que oferece feedback ao mesmo. O exosqueleto funcionará de acordo com as ordens motoras do seu próprio cérebro, que permitem que as pernas possam mexer-se. Depois, uma série de circuitos electrónicos situados nos pés do equipamento permitirão que o paciente recupere as sensações, graças a uma “pele artificial”, instalada no seu braço. Assim, a pessoa paraplégica não só poderá andar, mas também sentir que está a movimentar-se.

“É a primeira vez que um exosqueleto (ou esqueleto externo) é controlado por uma actividade cerebral”, declarou Miguel Nicolelis. O neurocientista acrescentou ainda que sente “uma mistura de cansaço e excitação” pelo culminar de 30 anos de trabalho, de inúmeros testes clínicos e de mais de 200 publicações científicas.

Nicolelis, professor na Universidade americana de Duke, na Carolina do Norte, começou as suas pesquisas para dar mobilidade aos seus pacientes em 1984 e, naquela época, nunca imaginaria que os seus estudos iriam ser vistos num campo de futebol, muito menos num Campeonato do Mundo, no seu próprio país. O neurocientista afirmou que a ideia deste trabalho nasceu em 2002, quando ele e a sua equipa começaram a construir peças robóticas para montar um exosqueleto.

Em 2009, dois anos antes da designação do Brasil como país oficial do Mundial 2014, pediram a Miguel Nicolelis ideias para mostrar um “Brasil diferente, sem os habituais clichés”.

No total, foram realizados 17 meses de trabalho científico e testes clínicos liderados, no Brasil, pelo Instituto Internacional de Neurociências de Natal (INN-ELS) e pela Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD).

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