Paraguaio e palestiniano

Nasceu no Paraguai, passou pelo futebol português e está a preparar-se para representar a selecção da Palestina na Taça Asiática.

Cohene, com o número 23, celebra o golo marcado na estreia pela selecção palestiniana
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Cohene, com o número 23, celebra o golo marcado na estreia pela selecção palestiniana DR
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O defesa central nascido no Paraguai (com o número 23) estreou-se numa partida frente a Taiwan DR
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As entrevistas têm-se sucedido. “O prestígio que ganho por representar a selecção da Palestina”, escreveu Cohene no Twitter DR
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Treino da selecção palestiniana durante um torneio particular nas Filipinas. Em Janeiro a Palestina disputa a Taça Asiática Jay Directo/AFP
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O Vitória de Setúbal foi o último clube de Javier Cohene (à esquerda) em Portugal Francisco Leong/AFP

O nome não é totalmente desconhecido para quem acompanha o futebol português: Javier Cohene chegou a Portugal em 2007 e passou por Olhanense, Paços de Ferreira e Vitória de Setúbal. Neste Verão rumou à Sérvia, mas leva boas recordações. Uma final da Taça da Liga e um terceiro lugar ao serviço dos “castores” são um bom cartão-de-visita, mas o defesa central enfrenta aos 27 anos o maior desafio da carreira. Cohene adoptou a nacionalidade palestiniana, estreou-se pela selecção com um golo e em Janeiro vai disputar a Taça Asiática.

Nascido em Pirayú, a 50 quilómetros da capital do Paraguai, Javier Cohene nunca esteve na Palestina, confessou ao PÚBLICO, por e-mail. Mas há algum tempo que vinha a ponderar adoptar a nova nacionalidade, contou: “Isto não foi decidido num mês nem nada, há algum tempo que estávamos a estudar. Foi a melhor opção, porque a selecção da Palestina esteve sempre atenta à minha situação”. Vista assim, a mudança pode parecer inesperada. Mas Cohene tem raízes familiares que legitimam a escolha e agilizaram o processo. “Era uma avó da minha avó. É uma ligação antiga, mas que ajudou bastante. Foram meses de trabalho por parte das pessoas na Palestina e estou muito grato porque fizeram tudo para contar comigo”, acrescentou.

O primeiro contacto de Javier Cohene com os novos companheiros aconteceu num torneio particular realizado nas Filipinas no início de Setembro. O defesa estreou-se na vitória (7-3) sobre Taiwan e até marcou um golo. “É um grupo muito humilde e muito unido. Fui recebido como mais um elemento e, mesmo não percebendo a língua, foi bom partilhar experiências com eles. Aprendi bastante nos dias que estive com a selecção”, sublinhou.

Não foram só os companheiros de equipa a acolher Cohene de braços abertos. Nas redes sociais são inúmeros – e entusiásticos – os desejos de boas-vindas ao defesa, visto como um valioso reforço para a equipa que, em Janeiro, viajará para a Austrália para disputar a Taça Asiática, depois de em Maio ter conquistado o primeiro troféu internacional da sua história: a Challenge Cup, prova da Confederação Asiática de Futebol e dirigida a nações “emergentes”. A Palestina está no Grupo D e vai defrontar Japão, Jordânia e Iraque. Javier Cohene está optimista: “Tenho a certeza que podemos fazer uma boa prestação.”

Só quando o tema da conversa é o histórico conflito entre a Palestina e Israel é que Cohene se retrai. “Eu desse assunto não queria falar. Não queria mexer na ferida. Nós [na selecção] concentramo-nos mais nos treinos. É uma situação delicada... só quero é que volte a paz”, resumiu o internacional palestiniano nascido no Paraguai.

Mas a realidade no terreno é incontornável: a mais recente intervenção israelita na Faixa de Gaza deixou milhares de mortos e, apesar do cessar-fogo que vigora desde 26 de Agosto, o futebol não é alheio às consequências do conflito, lembrava o seleccionador palestiniano, Jamal Mahmoud. “Muitos jogadores têm família em Gaza. Ou ficaram com a casa destruída, ou algum familiar ou amigo morreu. Quando estão a jogar [pela selecção] também estão a pensar no que se passou em Gaza.”

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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