Os mais e os menos do Tour do histórico Nibali

A Volta à França tem sido dominada pelo ciclista italiano, mas a prova não se reduz a Nibali. Rafal Majka ou Frank Schleck são boas surpresas; já a equipa Sky é uma das grandes desilusões.

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Nibali tem sido o grande dominador da presente edição do Tour Jacky Naegelen/Reuters

Salvo catástrofe natural ou extradesportiva, Vincenzo Nibali está a seis dias de se tornar o segundo italiano a vencer o Tour em 48 anos — depois de Marco Pantani em 1998 — e de entrar na restrita lista de vencedores das três grandes voltas. Mas o italiano da Astana é só a surpresa maior de uma Volta à França de surpresas, mais negativas do que positivas.

Rafal Majka
A história do polaco confunde-se com a de Alberto Contador. Em 2008, o madrileno estava de férias, na praia, quando foi convocado à última hora para alinhar no Giro pela Astana. Parado há semanas, sem preparação, esperava-se que abandonasse a “corsa rosa” assim que possível. Mas Contador aguentou e ganhou. O mesmo aconteceu a Rafal Majka nesta edição. De férias, depois de um Giro2014 brilhante — sexto classificado e melhor jovem —, foi requisitado para o Tour uma semana antes do arranque em Leeds, devido à suspensão de Roman Kreuziguer. Contrariado, arrastou-se na prova francesa durante a primeira semana. Perdeu às meias horas. Disparou contra a Tinkoff-Saxo, alegando que a equipa não se preocupava com a sua saúde. Depois, chegaram os Alpes e com ele a glória do jovem polaco. Na primeira etapa alpina, foi segundo atrás de Vincenzo Nibali. Na segunda, festejou no alto de Risoul, depois de 150 quilómetros em fuga, num percurso que incluía o mítico Izoard. Nada mau para quem nem queria estar na Volta a França. 

Frank Schleck
Falar dos Schleck até este Tour era falar de desilusão. E continuou a sê-lo, quando Andy, o vencedor de 2010, abandonou. Já ninguém esperava nada dos irmãos luxemburgueses, os primeiros a ocuparem dois lugares do pódio em Paris (2011), mas o mais velho, Frank, está a surpreender. Discretamente, sem darem por ele, está na 14.ª posição, um lugar impensável para alguém que há um ano falhou o Tour devido a uma suspensão decretada por um positivo registado um ano antes — foi expulso da prova francesa, no dia de descanso, depois de acusar o diurético xipamide. Escolhido pela Trek para tentar um lugar nos dez primeiros em Paris, o luxemburguês de 34 anos está a fazer uma corrida de trás para a frente, tendo chegado com os primeiros nos Alpes. 
 
Alessandro De Marchi
Ser o mais combativo do Tour em duas jornadas consecutivas não é fácil para ninguém — perguntem a Tony Martin, o mais lutador da nona e décima etapas. Mas sê-lo em duas tiradas alpinas, muito menos. Por isso, Alessandro De Marchi é o mais forte candidato ao prémio de mais combativo da 101.ª edição, quando a Volta a França acabar em Paris. Ofuscado pelo brilhante Peter Sagan, numa Cannondale que faz do verde do eslovaco o seu motor, o italiano de 28 anos procurou o seu “nicho” e fez-se figura maior. 

Sky
Nem plano A, nem plano B, nem plano C. Tudo falhou a esta Sky. Depois de duas épocas de domínio absoluto, com os triunfos de Bradley Wiggins (2012) e Chris Froome (2013), a formação britânica enfrenta o seu primeiro ocaso. Perdeu Froome numa queda na etapa dos pavés e Richie Porte num golpe de calor na primeira etapa alpina. Dave Brailsford, o director desportivo, reuniu os seus pupilos de emergência. A amarela estava irremediavelmente perdida, era preciso tentar outra coisa. Redefinidos os objectivos, Geraint Thomas e Mikel Nieve lançaram-se numa fuga rumo a Risoul. A Sky queria entrar no top 10 e sair dos Alpes com uma vitória. Nem um nem outro conseguiram aguentar o ritmo na longa subida. Afundaram-se ainda mais na geral e precisam de um milagre para chegar aos Campos Elísios nos dez primeiros.

Michal Kwiatkowski
Diz-se no pelotão, meio a sério, meio a brincar, que o polaco é especialista em lugares de honra — com excepção do triunfo na Volta ao Algarve de 2014. Mas, neste Tour, aquele que se esperava ser o da sua afirmação como ciclista de grandes Voltas, nem isso o líder da Omega Pharma-Quickstep, de 24 anos, conseguiu ser. Está na 16.ª posição, a mais de 14 minutos da camisola branca que, à partida, se assumia como sua. E, a julgar pelas dificuldades que tem demonstrado na montanha, mesmo quando é rebocado pelos seus companheiros, é pouco provável que repita o brilhante 11.º da sua estreia em 2013 ou que alcance qualquer vitória de etapa. 

Garmin-Sharp
Foi talvez dos momentos mais surrealistas deste Tour. Andrew Talansky pedalava em sofrimento, aproximava-se da berma da estrada, saía da bicicleta, mãos a agarrar as costas, sentava-se num rail de protecção com a certeza que a sua Volta a França acabava ali. Ao mesmo tempo que o director desportivo tentava convencer o chefe de fila da Garmin-Sharp a regressar à corrida (acabou por abandonar no dia de descanso), na frente do pelotão uma massa azul impunha um ritmo fortíssimo. Enquanto Talansky, absolutamente sozinho (como se justifica que nem um elemento da equipa tenha ficado com o seu líder?), fazia o impossível para não chegar fora do limite, em sinal de respeito pelos seus colegas, estes dificultavam-lhe a vida ao máximo, liderando o grupo, sem ter uma única aposta credível para disputar a etapa. 

Jurgen Van den Broeck
Primeiro foi a Tinkoff-Saxo a envolver o seu nome na queda de Alberto Contador — dizem os responsáveis da equipa que o espanhol caiu quando tentava passar para a frente do belga, porque tinha receio de seguir na sua roda. Depois foi Jakob Fuglsang a culpá-lo pelo trambolhão na 13.ª etapa — no twitter, escreveu que o chefe de fila da Lotto-Belisol tinha atirado um bidão para a frente da sua roda, um desabafo depois retirado. Jurgen Van den Broeck tem tendência para cair e todo o pelotão sabe disso. Foi assim em 2011, quando, um ano depois de ser quarto em Paris, saiu do Tour de maca, com costelas partidas e um ombro fraturado. E também em 2013, quando abandonou à partida para a sexta etapa, depois de contrair uma lesão no joelho numa queda na véspera — em 2009 também caiu, mas não abandonou. Este ano, também não falhou: à quinta etapa, saiu em frente numa curva. Mais uma vez, quando se esperava que subisse finalmente ao pódio, Van den Broeck está fora do top 10. Culpa das quedas ou dele?

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