Os bandidos mandaram mais do que os polícias

E no Belize o campeão nacional é... o Belmopan Bandits, que na final da competição bateu a equipa dos agentes da autoridade.

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Sim, há uma Juventus no campeonato do Belize DR

O crime não compensa? Talvez não, na maioria das sociedades desenvolvidas. Mas, no Belize, banhado pelo mar das Caraíbas e que faz fronteira com México e Guatemala, o cenário é diferente. “A criminalidade é elevada no país, com uma taxa de homicídios por habitante extremamente alta. O Belize é oficialmente o sexto país mais perigoso do mundo”, avaliava um relatório publicado em 2012 pelo Conselho de Segurança Externa, uma agência do Departamento de Estado dos EUA. E este clima estende-se ao futebol. Nos relvados, os bandidos superiorizam-se às forças da lei.

Bom, não será literalmente assim. O facto é que o novo campeão do Belize dá pelo nome de Belmopan Bandits. O emblema da capital impôs-se à equipa da polícia e conquistou um título que já lhe tinha escapado em três ocasiões. Mas, desta vez, a equipa orientada por Edmund Pandy foi a melhor na fase regular e, no play-off, não deu hipóteses à concorrência.

O campeonato até começou da pior forma para os Belmopan Bandits, que na primeira jornada perderam em casa (0-1) com o FC Belize. Mas essa seria a única derrota da equipa em toda a temporada. Foram primeiros classificados da zona norte, na fase regular, com 31 pontos e apenas quatro golos sofridos. Juntamente com a equipa do Exército (Belize Defence Force), segunda classificada, apuraram-se para o play-off frente ao campeão e vice-campeão da zona sul: Police United e Placencia Assassins, respectivamente.

Ora, quis o cruzamento das meias-finais que, no apuramento do campeão nacional, numa eliminatória se defrontassem “bandidos” e “assassinos”, e na outra polícias e militares. No início de Dezembro, os Belmopan Bandits bateram os Placencia Assassins (1-0 na primeira mão e 0-0 na segunda); já a polícia começou por bater o Exército por 2-1, e depois em casa segurou um empate sem golos. E assim ficou marcado o grande tira-teimas: “bandidos” contra polícias na final da Liga do Belize.

A final também colocou frente a frente o melhor avançado e o melhor guarda-redes do campeonato. Ao contrário do que se pudesse pensar, o melhor avançado estava nas fileiras da polícia: Danny Jimenez "fez miséria" nas defesas adversárias, sagrando-se o melhor marcador da prova, com 12 golos. Woodrow West, guarda-redes dos Bandits, foi eleito o melhor na respectiva posição e também o jogador mais valioso da fase regular da Liga.

Disputada num estádio cujas bancadas estavam preenchidas por cadetes da academia de polícia, a primeira mão da final resultou num empate: 1-1. O inevitável Danny Jimenez colocou os agentes da autoridade em vantagem no marcador, mas, ainda na primeira parte, Dennis Serano restabeleceu a igualdade. Uma semana depois, no penúltimo dia de Dezembro, os Bandits carimbaram a final e a conquista do título com um golo solitário de Jacinto Bermudez. Os fora-da-lei levavam a melhor.

E, conta a PlusTV, os Bandits não se ficam só com a má fama. Também querem o proveito: o clube não pagou aos 15 agentes destacados para fazer o policiamento na segunda mão da final. “Os Bandits são detidos pelo actual ministro da Segurança nacional, e há quem diga que não se trata de uma coincidência”, pode ler-se. O mesmo responsável fez mudanças radicais nas chefias da polícia, logo nos primeiros dias do ano. Parece mesmo que, no Belize, todos mandam menos a autoridade.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias e campeonatos de futebol periféricos

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