O racismo voltou ao Calcio e partiu de onde menos se esperava

Carlo Tavecchio, candidato à presidência da federação italiana de futebol, apontou o dedo a jogadores que chegam ao país "a comer bananas" e acabam a jogar na série A.

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Paul Pogba volta a estar no centro de uma polémica relacionada com o racismo Reuters

A temporada em Itália ainda não começou, mas nem por isso o racismo deixa de estar na ordem do dia. Desta vez, (ainda) não houve cânticos racistas ou bananas atiradas contra jogadores negros. Só que isso não impede que a polémica volte a estar lançada, sendo que agora tem por base um inesperado protagonista: Carlo Tavecchio, apontado como um dos mais fortes candidatos a ganhar a corrida à presidência da federação italiana de futebol, nas eleições de 11 de Agosto.

O rastilho acendeu-se quando, num discurso que visava apresentar a sua candidatura ao organismo máximo do futebol transalpino (o outro candidato é Demetrio Albertini), o dirigente deixou escapar a seguinte afirmação: “Em Inglaterra, eles identificam os jogadores que chegam e, se forem profissionais, podem competir. Aqui, chega um Opti Poba que antes comia bananas e agora joga na Lazio. Em Inglaterra, têm de mostrar primeiro o seu valor.” 

Ora, mesmo tratando-se Opti Poba de um nome fictício, a imprensa não tardou a associar a referência a Paul Pogba, da Juventus, e a controvérsia depressa subiu de tom, tanto mais quanto, na época passada, por diversas vezes jogadores negros foram “brindados” com bananas vindas da bancada – o caso de Dani Alves foi o mais comentado, mas, em Itália, também Mario Balotelli, Kevin Constant e Nigel De Jong, do Milan, foram vítimas de um episódio deste cariz. 

Tavecchio, actual presidente das ligas amadoras, defendeu-se dizendo que aceita “todas as críticas mas não a acusação de racismo” porque toda a sua vida “testemunha o contrário”, mas era demasiado tarde para travar o coro de vozes que rapidamente se agigantaram para exigir que este fosse afastado da corrida à presidência da federação italiana. 

Se o líder da Associação de Jogadores de Itália, Damiano Tommasi, assumiu estar “chocado” e “desconcertado”, a vice-secretária do Partido Democrata, Debora Serracchiani, defendeu que as palavras de Tavecchio são a “fotografia” de algo que “não se pode voltar a permitir”. 

O assunto ganhou uma dimensão tal que até já Mateo Renzi, primero-ministro italiano, se decidiu pronunciar. “Essa afirmação acerca de estrangeiros que comem bananas é inexplicável”, comentou Renzi, em declarações ao jornal L’Avvenire, fazendo mesmo uma metáfora futebolística: “Trata-se de um autogolo incrível.” 

Também o sub-secretário para os assuntos estrangeiros, Benedetto Della Vedova, comentou o assunto, na sua conta do Twitter: “A política é irrelevante neste caso. Mas, se depois de uma época marcada pelo racismo no futebol, eles escolhem a voz de Tavecchio, não podem lamentar que os adeptos gostem cada vez menos do futebol.” 

Esta não é a primeira vez que Paulo Pogba dá por si no epicentro de polémicas racistas, visto que já por diversas vezes foi alvo de cânticos deste cariz, enquanto jogava pela Juventus. Um destes episódios ocorreu no Giuseppe Meazza, na 30.ª jornada da derradeira temporada, quando o jovem médio francês se preparara para entrar em campo e foi “recebido” pelos adeptos do Inter com gritos de macaco. O cenário repetir-se-ia meses depois, num encontro da Supertaça, frente à Lazio, sendo que, dessa vez, a resposta de Pogba esteve à altura do sucedido: “Que posso dizer? São ignorantes!”

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