O próximo desafiante de Klitschko tem nome de campeão

Tyson Fury é mais um candidato a desalojar o grande pugilista ucraniano, que já não perde um combate há mais de uma década.

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Klischko e Fury defrontam-se neste sábado, em Dusseldorf Lee Smith/Action Images/Reuters

A carreira de Wladimir Klitschko é suficientemente longa para ter sido contemporâneo de Mike Tyson, mas os nunca se encontraram no ringue. Hoje, na Alemanha, o grande pugilista ucraniano, invencível há mais de uma década, vai fazer mais uma defesa dos seus vários títulos de pesados, defrontar o filho de um grande admirador de “Iron” Mike. O britânico Tyson Fury, que deve o seu nome ao antigo campeão norte-americano, é o desafiante que segue para interromper a hegemonia de Klitschko. Mas será apenas mais um? Ou será Fury um desafiante credível?

O mais novo dos irmãos Klitschko irá hoje em Dusseldorf defender o título pela 19.ª vez e prolongar um dos mais duradouros domínios da história do boxe. O ucraniano já não perde um combate desde 2004 e ninguém lhe consegue arrebatar nenhum cinto de campeão desde 2006 – os seus nove anos e meio de reinado consecutivo apenas perdem para os onze anos e oito meses de Joe Louis, entre 1937 e 1949. “Para alguém me ganhar, só se eu quisesse. Mas eu não quero porque o meu ego é a minha protecção. A única pessoa que me pode derrotar sou eu mesmo”, diz um super-confiante Klitschko.

Do outro lado, estará um pugilista mais novo, mais alto e com uma grande dose de loucura. Tyson Fury tem 27 anos, menos 12 que Klitschko, e mede 2,06m (o ucraniano tem “apenas” 1,98m), para além de ter um alcance de braços muito acima da média, 216 centímetros, mais dez que Klitschko. E é uma personagem colorida, desbocada, a roçar o número de circo. Por exemplo, em Setembro passado, numa conferência de imprensa de promoção do combate, Fury apareceu vestido de Batman e lutou contra um Joker, perante o sorriso amarelo de Klitschko. Depois da “luta”, Fury/Batman apontou para o ucraniano e disse: “És o próximo.”

Fury tem tido tiradas do género “Klitschko tem tanto carisma como as menhas cuecas”, ou “É a minha missão derrotar-te porque és um velho aborrecido”, mas será um erro julgá-lo apenas pelas palhaçadas. Fury nunca perdeu um combate profissional (24 vitórias, 18 por KO) desde que se estreou em Dezembro de 2008, e já conquistou diversos títulos, entre eles campeão britânico de pesados, campeão da Commonwealth, campão europeu ou campeão irlandês.

Pela influência familiar, dificilmente Fury teria sido outra coisa que não um pugilista. Natural de Manchester, mas com herança dos “Irish Travellers” – uma comunidade nómada de raízes irlandesas -, Fury quase que começou a ser pugilista desde o dia que nasceu, pelo nome que o pai escolheu para ele. O pai, John Fury, também foi um pugilista de mérito, tal como outros membros da sua família – os “Irish Travellers” têm, aliás, uma longa tradição no boxe e em combates clandestinos de mãos nuas.

Começou a praticar boxe aos 10 anos, fez o seu primeiro combate amador aos 15 e esteve perto de ser seleccionado para competir pela selecção britânica nos Jogos Olímpicos de 2008, mas não conseguiu o lugar. Também tentou ser o representante da República da Irlanda em Pequim, mas nem sequer chegou a competir nas provas de selecção irlandesas, e este duplo fracasso conduziu-o ao profissionalismo. Para estar no seu primeiro combate, teve de interromper a lua-de-mel em Portugal, mas valeu a pena. Sete anos depois, tem, finalmente, a oportunidade de enfrentar Klitschko, mas à segunda tentativa, porque o ucraniano estava lesionado na primeira data marcada (24 de Outubro).

Conhecido pela alcunha “Dr. Martelo de Aço”, Klitschko, que foi campeão olímpico em 1996, não parece nada intimidado pelas excentricidades do seu adversário. “Ele nunca defrontou um adversário como eu. Estou pronto. Acho que ele é um louco. É um doente que precisa de um tratamento urgente. Como sou um ‘médico’, vou tratar rapidamente dele”, afirma o ucraniano, que é tudo o que o desbocado Fury não é, controlado, metódico, que não deixa nada ao acaso e pouco dado a comportamentos erráticos. “São os pequenos detalhes que fazem a diferença e que compõe tudo. Caos significa emoções. E as emoções são uma desvantagem.”

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