O “primo” senegalês de George Weah

A incrível história de Ali Dia, o “jogador” que enganou Graeme Souness e conseguiu jogar 53 minutos na Premier League.

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Ali Dia, 53 minutos infames na Premier League DR

Se há clube na Premier League que gere bem os seus recursos, é o Southampton. Ano após anos, os saints conseguem fazer grandes negócios, reconstruir equipas e mantêm-se competitivos. Mas nem sempre foi assim e o Southampton tem a pouco invejável distinção de ter tido nas suas fileiras aquele que é considerado o pior jogador da história da Liga inglesa. Fez apenas um jogo, ou melhor foi um suplente utilizado que acabou substituído. Foram apenas 53 minutos que fizeram de Ali Dia uma lenda infame do futebol. Mas, 19 anos depois, pouco ou nada se sabe daquele que se apresentava como o primo senegalês de George Weah.

A história é famosa e já foi contada muitas vezes. Um belo dia, em Novembro de 1996, Graeme Souness, então técnico do Southampton, recebeu uma chamada de alguém que se identificou como George Weah, o grande avançado liberiano, na altura um dos melhores jogadores do mundo. “Weah” disse a Souness para dar uma oportunidade ao seu primo Ali Dia, que era um avançado internacional senegalês e que já tinha andado pelo futebol francês e alemão. Souness não verificou as credenciais de Dia, nem se deu ao trabalho de confirmar que tinha mesmo falado com Weah. Quando Dia apareceu no clube, Souness ofereceu-lhe um contrato de um mês, sem nunca o ter visto sequer a treinar.

“Só treinei com ele uma vez. Ele juntou-se à peladinha e lembro-me de pensar logo, ‘Não é grande coisa, não vai ficar na equipa’. É muito difícil julgar alguém só por um treino, mas sempre dá para ver as coisas básicas, se ele sabe controlar uma bola ou posicionar-se em campo. Ele não sabia nada”, contou ao The Guardian Matt le Tissier, a “estrela” do Southampton na altura. Apesar das primeiras impressões negativas, Souness confiou nele o suficiente para o levar a jogo. Dia sentou-se no banco num jogo frente ao Leeds e, quando Le Tissier saiu lesionado aos 32’, o técnico escocês mandou entrar o novo reforço. Souness ainda lhe deu quase uma hora em campo, mas Dia foi ridiculamente mau e acabaria por ser substituído aos 85’. Depois daquele jogo, nunca mais ninguém o viu no clube.

Aqueles minutos a 23 de Novembro de 1996 fizeram dele uma lenda, mas também um mistério que não tem solução. Numa era em que o difícil é não deixar pegadas digitais, ninguém sabe o que é feito de Ali Dia. Claro que não era primo de George Weah e nunca foi internacional pelo Senegal. Andou por clubes finlandeses, passou pela segunda divisão da Alemanha e jogou em várias equipas dos escalões secundários de Inglaterra, antes e depois dos tais 53 minutos com a camisola 33 do Southampton – todos os clubes por onde passou contrataram-no porque ele dizia que era primo de George Weah.

Em 2012, a revista FourFourTwo diz que conseguiu falar por telefone com Ali Dia, mas quem estava do outro lado da chamada desligou quase de imediato e o número deixou de funcionar. Um dado que parece ser consensual sobre a vida misteriosa de Ali Dia é que este se terá formado em Gestão na Universidade de Northumbria, em Newcastle, mas o trilho acaba aqui. Segundo uma investigação recente do site “Bleacher Report”, Dia terá vivido em Newcastle, mas não encontrou nenhuma presença dele ou da família – ele dizia ser casado com uma mulher francesa. Não se sabe se Ali Dia, que terá actualmente 50 anos, era, de facto, o seu verdadeiro nome, ou sequer se ainda está vivo.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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