O poderoso amigo argentino do suíço Blatter

Julio Grondona dirige a federação argentina há 35 anos e é um dos homens mais importantes na cúpula da FIFA.

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Grondona e Blatter vão continuar a ser amigos, ganhe quem ganhar Jorge Adorno / Reuters

Num país louco por futebol como a Argentina, tudo é encarado com um fervor superlativo, muitas vezes de um teor quase religioso. Maradona é um Deus, com direito a uma igreja e seguidores, Messi é a sua encarnação, o Messias que veio para conduzir a albiceleste ao Santo Graal do Campeonato do Mundo. E há também um Papa – não confundir com o “outro”, Francisco, - um homem todo-poderoso que controla a partir dos bastidores os destinos da religião futebolística. É ele Julio Grondona, presidente da Associação de Futebol Argentino (AFA) há 35 anos e um dos homens fortes da FIFA.

Esta terça-feira, a “sua” Argentina defronta a Suíça, a pátria de Joseph Blatter, o líder da FIFA desde 1998, que contou com o importante apoio de Grondona desde a primeira hora. Na verdade, Grondona, com 82 anos, já fazia parte da direcção do organismo mundial desde 1988. Actualmente, tem a seu cargo a poderosa Comissão de Finanças da FIFA e é vice-presidente – apenas atrás de Blatter – da Comissão Estratégica.

O seu percurso teve início em 1956, quando, em conjunto com o seu irmão Héctor, fundou o Arsenal de Sarandí, ao qual presidiu durante vinte anos. Em 1976 chegou à presidência de um dos principais clubes de Buenos Aires, o Independiente, onde permaneceu até 1981. Dois anos antes já tinha alcançado a liderança da AFA, com o beneplácito do vice-almirante Carlos Lacoste, um dos dirigentes da Junta Militar que viria a governar a Argentina entre 1976 e 1983.

Caiu a ditadura militar, mas não caiu “Don” Julio Grondona, que se mantém até hoje à frente dos destinos do futebol argentino. Conta-se que a única oposição que teve de enfrentar foi a de um ex-árbitro cuja candidatura recolheu apenas um voto. O domínio de Grondona foi garantido por uma hábil distribuição das receitas televisivas pelos clubes mais obedientes. “Os clubes sabem que sou o menos mau entre os dirigentes que podem ser presidentes da AFA”, chegou a admitir.

É claro que os sucessos da albiceleste durante os seus mandatos também jogaram a seu favor. Foi o caso da vitória no Mundial do México, em 1986, das duas medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de 2004 e 2008 e das duas Copas Américas conquistadas, em 1991 e 1993.

Numa carreira como a de Grondona foram várias as polémicas que o envolveram. O New York Times dizia em 2008 que durante o seu mandato foram ordenadas cinquenta buscas aos seus escritórios, mas Grondona nunca chegou a ser considerado culpado de qualquer acusação.

Como qualquer decisão, a contratação de Maradona para seleccionador nacional em 2008 foi uma aposta pessoal de Grondona. O afastamento da Argentina às mãos da Alemanha por 4-0 no Mundial 2010 deixou marcas nas relações entre os dois. O último episódio foi a troca de palavras entre os dois, com Grondona a acusar Maradona de dar azar à selecção e com o “Pibe” a responder com um gesto muito pouco abonatório.

Apesar dos desentendimentos, Maradona continua a ser o jogador que Grondona mais admira, pelo menos a fazer crer na sua página no site oficial da FIFA. Mas ao “caudillo” do futebol argentino não lhe podia passar ao lado o talento de Lionel Messi. “Procure os 22, que um já está escolhido”, disse Grondona a José Pekerman, seleccionador argentino em 2005, após as exibições de Messi durante o Mundial Sub-20.

Num perfil publicado no La Nación em 2005, dizia quem o conhecia que Grondona era, no fundo, um “viciado” em futebol. A título de exemplo, contava-se que a sua última visita a um cinema foi em 1956 para ver “E Tudo o Vento Levou”.

“Levo tanto tempo à frente da AFA como o Papa à frente da Igreja”, costumava vangloriar-se Grondona, referindo-se a João Paulo II. Esse campeonato já Grondona venceu há bastante tempo. No Brasil procura o seu segundo Mundial.

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