O “não” à independência fez o Berwick Rangers respirar de alívio

A história da única equipa inglesa que joga no campeonato escocês.

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O Berwick Rangers joga na quarta divisão escocesa DR

Consequências desportivas de um hipotético “sim” no referendo da independência da Escócia: o Reino Unido perdia o seu campeão de Wimbledon, Andy Murray e perdia sete medalhas de ouro conquistadas em Londres 2012 (entre elas uma de Andy Murray, nascido em Glasgow, e duas do ciclista Chris Hoy, um cavaleiro do reino nascido em Edimburgo).

Como ganhou o “não”, o Reino Unido mantém intacto o seu palmarés desportivo. E havia um clube de futebol inglês preocupado com o resultado do referendo, não pela perspectiva de perder títulos, mas porque a sua vida iria mudar completamente. Porquê? Porque o clube em causa joga no campeonato de futebol da Escócia e está muito satisfeito com isso.

O Berwick Rangers Football Club é a equipa de Berwick-upon-Tweed, uma pequena cidade de 12 mil habitantes no Nordeste de Inglaterra, a apenas quatro quilómetros da fronteira com a Escócia. A própria cidade já mudou de nacionalidade várias vezes ao longo dos séculos, de acordo com as oscilações da fronteira, mas fixou-se como uma cidade inglesa a partir de 1707. Com uma história destas, não admira que o clube da terra tenha alguns problemas de identidade, mas, tendo passado os últimos 63 anos a defrontar equipas do lado norte da fronteira, já não quer mudar.

Para o Rangers FC, jogar na Escócia – está na League Two, que corresponde à quarta divisão – é, sobretudo, uma questão prática. O treinador Colin Cameron é escocês, quase todos os jogadores são escoceses e os adversários escoceses ficam mais próximos do que qualquer potencial adversário inglês caso tivessem de jogar em Inglaterra. Um  “sim” no referendo teria criado muitas complicações logísticas ao clube e este teria de integrar os campeonatos ingleses com o risco, dizem os seus responsáveis, de acabar a curto prazo.

“O nosso medo era que passasse a haver um controlo na fronteira e, nesse caso, não saberia o que fazer. Podia ser um desastre em termos logísticos e será extremamente difícil continuar a jogar na Escócia. A maior parte dos nossos adeptos vai ficar contente se o "não" ganhar”, dizia o treinador Colin Cameron antes do referendo.

O Berwick Rangers está integrado no futebol escocês desde 1951, depois de ter passado os primeiros anos após a sua fundação ainda no século XIX nas ligas amadoras de Inglaterra. O clube pediu para ser integrado num escalão acima, o que fez durante uma época antes de, segundo o site do clube, ser convidado a sair porque os seus adversários não queria fazer deslocações longas. Assim, o Rangers acabou por pedir a integração na Federação Escocesa em 1905 e foi disputando campeonatos com outras equipas fronteiriças.

Desde que deixou as competições regionais e passou às competições nacionais o máximo que o Berwick Rangers conseguiu subir foi até à segunda divisão da Escócia. Os seus maiores feitos aconteceram na Taça da Escócia, com destaque para um triunfo por 1-0 sobre o poderoso Glasgow Rangers, perante 13 mil espectadores no Shiefield Park, em Berwick, um recorde de assistência na história do clube.

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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