Algo está a acontecer no futebol da província de Modena, no norte de Itália, mas a equipa da cidade capital provincial passa ao lado do fenómeno. Depois de o Sassuolo ter causado sensação, ao chegar à Serie A em 2013-14, está a preparar-se outro milagre, a escassos quilómetros de distância, em Carpi. Enquanto isso, o Modena – que ostenta no palmarés um terceiro lugar na Liga italiana – está há onze anos ausente do principal escalão.

Há cinco anos seria uma autêntica loucura alguém em Carpi atrever-se a sonhar com a Liga italiana. O clube andava pela Serie D, correspondente ao quinto escalão do futebol italiano, mas um grupo de empresários pegou no clube e revolucionou-o: “Somos pessoas que amam o futebol, apaixonadas pela sua cidade e que querem mostrar resultados. Os meios são modestos, mas os objectivos são ambiciosos”, resumia o sócio maioritário, Stefano Bonacini. Neste período de tempo o Carpi conseguiu três subidas de divisão – e daqui a alguns meses pode comemorar outra. Os biancorossi lideram de forma isolada a classificação a Serie B (há alguns dias venceram o derby contra o rival Modena, que anda pelo meio da tabela) e, caso cheguem ao fim do campeonato em lugares de subida, vão conseguir o feito histórico de estrear-se na Serie A. A missão não podia estar mais bem entregue: no início desta época o Carpi contratou Fabrizio Castori, treinador de 60 anos com nada menos do que sete subidas de divisão no currículo.

Antes da bonança actual, o Carpi viveu anos conturbados. No início do século o clube foi duas vezes à falência e caiu para as provas amadoras. Em 2002 foi refundado como Carpi FC 1909, a identidade actual, e foi galgando degraus. A cidade, com 70 mil habitantes, também conseguiu dar a volta por cima: em Maio de 2012 a região foi afectada por um forte sismo de magnitude 5.9 que provocou estragos avultados. Mas, passado um ano, Carpi via a equipa chegar pela primeira vez na história à Serie B em 2013-14, terminando num honroso 12.º lugar. E à segunda temporada aposta todas as fichas em chegar ao topo, com um orçamento que ronda os três milhões de euros.

Atingir a Série A implicará uma mudança de hábitos para o clube. Desde logo porque o estádio Sandro Cabassi está longe de cumprir os requisitos: inaugurado em 1928 e com capacidade para 4144 espectadores, o recinto mantém praticamente a configuração original – com uma pista de ciclismo em cimento a separar o relvado das bancadas. Já por ali passou Marco Materazzi, cedido em 1996-97 pelo Perugia. Hoje é palco dos sonhos biancorossi.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos