O “Moçambola” já não é uma Liga colonial mas tem sabor português

Há cinco treinadores portugueses a orientar clubes moçambicanos no arranque do campeonato local de futebol.

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Litos quando era treinador do Portimonense Fernando Veludo/nFactos (arquivo)

A ligação do futebol moçambicano a Portugal contou, durante o período colonial, com diversas referências aos principais clubes do futebol português. Maxaquene e Costa do Sol, dois dos principais clubes do campeonato moçambicano, comummente conhecido como “Moçambola”, já foram em tempos designados como Sporting Clube de Lourenço Marques e Sport Lourenço Marques e Benfica, respectivamente.

Mas houve muitos outros, recorda Nuno Domingos, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, em O futebol português em Moçambique como memória social: “A primeira filial do Sporting Clube de Portugal em Moçambique, o Sporting Club de Lourenço Marques, terá sido fundada em 3 de Maio de 1920, embora outras fontes indiquem o ano de 1916”. “O Sport Lisboa e Beira, fundado em 1 de Julho de 1916, inaugurou a presença do Benfica em Moçambique”, prossegue Nuno Domingos, acrescentando ainda: “A mais importante filial do Futebol Clube do Porto era o Clube de Malhangalene, importante bairro em Lourenço Marques”. Mas não eram só os três ditos “grandes” que estavam representados. “Um dos clubes mais antigos de Moçambique, o 1.º de Maio, era uma filial do Belenenses”, explica o investigador.

Hoje, a ligação futebolística entre Moçambique e Portugal faz-se por outros meios. Como, por exemplo, a presença de treinadores portugueses no “Moçambola”. A prova vai começar com cinco técnicos nacionais: Litos orienta a Liga Muçulmana, Diamantino Miranda o Costa do Sol, Vítor Urbano o Ferroviário de Maputo, Rogério Gonçalves o Ferroviário de Nampula e Vítor Pontes o Clube do Chibuto. José Fernando podia integrar este grupo, mas foi substituído no comando do Têxtil de Púnguè, a poucos dias do início do campeonato, por não estar qualificado para dirigir uma equipa no “Moçambola”, segundo o jornal O País.

Depois de levar a Liga Muçulmana à vitória na Taça de Moçambique e, já em Fevereiro deste ano, na Supertaça, Litos parte para a nova temporada com “grande ambição”, disse ao PÚBLICO: “Queremos alcançar o título nacional”. No entanto, este início de época não se adivinha fácil para a Liga Muçulmana: “Vamos ter cinco jogos em dez dias. É inadmissível o que foi feito em relação à minha equipa, sabendo que estamos inseridos nas Afrotaças. Pedimos mais tempo para recuperar, mas não nos foi concedido”, queixou-se Litos.

O emblema de Maputo está em prova na Taça da Confederação Africana, tendo afastado o Gaborone United, do Botswana, na pré-eliminatória (3-2). Na primeira ronda, a equipa de Litos perdeu (3-1) o jogo da primeira mão no terreno do Lobi Stars, da Nigéria. Tinha tudo para correr mal, porque a equipa fez uma viagem por terra de quase 800 quilómetros, entre Lagos e o local do jogo, e foi surpreendida com o alojamento, contava O País: “Uma pensão de baixa categoria, ao lado de um clube nocturno”.

Quanto ao futebol em Moçambique, Litos diz que os clubes estão “empenhados em conseguir melhores condições” e “há emblemas com boas condições financeiras”. Os treinadores estrangeiros estão a ajudar. “Com a chegada de treinadores portugueses, brasileiros e de outras nacionalidades, há mais rigor, trabalho e profissionalismo. Não é por acaso que os dirigentes estão a apostar em treinadores estrangeiros”, apontou.

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias e campeonatos de futebol periféricos

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