O “menino de ouro” cumpriu o seu sonho

Nelson Oliveira já detinha um currículo preenchido. Agora juntou-lhe uma página dourada numa das Grandes Voltas.

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Lionel Bonaventure/AFP

Há duas semanas, Nelson Oliveira preparou as malas para a Volta a Espanha e dentro delas colocou um sonho quase secreto: o de vencer uma etapa. Ofuscado por Rui Costa, nesta sexta-feira, finalmente, o bicampeão nacional de contra-relógio ocupou o lugar que, por direito e resultados, já era seu: o de uma estrela maior no ciclismo português.

De jeito tímido, o campeão nacional de estrada de 2014 ainda não se habituou aos holofotes do ciclismo. Cora quando abordado para uma entrevista. Envergonha-se diante de um pedido de autógrafo. Mas nunca perde o sorriso, a simpatia natural, que ultrapassa, a espaços, a timidez. Quem o conhece, fora dos ecrãs de televisão, sabe que Nelson é um “menino de ouro”, dono de uma humildade e tranquilidade raras, um “miúdo” cheio de piada de quem todos gostam. Nascido a 6 de Março de 1989 em Anadia, actual capital do ciclismo (culpa do Centro de Alto Rendimento da modalidade), o ciclista da Lampre-Merida tem o melhor palmarés jovem de todos os “emigrantes” portugueses.

Respire fundo e prepare-se para ler num fôlego o currículo impressionante: campeão nacional de contra-relógio de cadetes (2004 e 2005), campeão nacional de contra-relógio júnior (2006), campeão nacional de contra-relógio de sub-23 (2008, 2009 e 2010), campeão nacional de contra-relógio de elite (2011, 2014 e 2015).

Foi contra o relógio que Nelson construiu a sua carreira, numa pressa desmedida. Em 2009, em Mendrisio, sagrou-se vice-campeão mundial de sub-23, e despertou a atenção da Xacobeo-Galicia. No seu primeiro ano como profissional, foi sexto no Giro delle Regioni e na Bayern Rundfahrt, segundo no campeonato da Europa de estrada (sub-23) e terceiro no “crono”. Na Volta a França do futuro, foi 16.º, antes de fechar a época com um quarto lugar no contra-relógio do Mundial sub-23.

A competitiva, mas modesta formação espanhola era pequena para tanto talento. A RadioShack reparou no seu potencial e ofereceu-lhe um contrato duradouro. As três temporadas que passou na equipa permitiram-lhe estrear-se na Vuelta (2011) e no Giro (2012 e 2013), com resultados no “top 20” de etapas da sua especialidade. Foi pouco para se manter na versão “light” da RadioShack, agora denominada Trek.

A Lampre-Merida de Rui Costa piscou-lhe o olho e Nelson não resistiu. Sem olhar para trás, abraçou o desafio de ser leal escudeiro do antigo campeão do mundo e viu a fidelidade tapar-lhe o brilho individual. Nesta sexta-feira, com a sua primeira vitória numa grande Volta, Oliveira pode ter garantido o passaporte para uma equipa maior, uma em que possa explorar a sua paixão desconhecida pelas clássicas e pelos “pavês”. 

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