O futebol português em mudança – o treinador e um futuro sustentável, parte II

* conclusão do texto publicado a 18-12-2012

Depois do processo de decisão de criar e implementar uma academia de futebol, ou um programa de “produção” de jovens futebolistas, há que partir em direção ao passo seguinte: a qualidade. Ter formação ou uma academia não deve ser encarado como algo acessório. É preciso intervir na qualidade da formação, pois há muito a fazer a fim de melhorar a qualidade global dos jogadores formados em Portugal. Urge a necessidade de os estimular a evoluir de uma forma ecológica e sustentada e não apenas permitir que eles cresçam com o que o jogo e a competição lhes transmite e ensina... O treinador como gestor e modelador de recursos e constrangimentos é conhecedor do enquadramento competitivo e respetivas exigências. Este domina também o processo de crescimento e maturação dos jovens futebolistas, e deve ser suportado por uma organização e um programa bem articulado nos seus conteúdos, lógico, exequível e adequado ao contexto socio-económico-cultural de cada clube.

Asseguradas as condições básicas para a concretização de um projeto, e para obter o propósito da criação da academia/programa, há um número de condicionantes primordiais dentro do processo, que o treinador e a organização também deverão fazer cumprir: Deteção e seleção de jovens jogadores com verdadeiro potencial; Desenvolvimento de ligações que permitam aproveitar sinergias e fazer protocolos e parcerias com clubes nacionais e estrangeiros; Formação e treino do staff técnico, através de uma filosofia de investimento em recursos humanos, permitindo desenvolver um corpo técnico residente com um largo conhecimento básico, experiência, competências e uma filosofia sadia de inter-relacionamentos; Infraestruturas adequadas; Criação e desenvolvimento de um ambiente de aprendizagem efetiva.

Para a operacionalização duma academia é necessário desenvolver ligações com clubes e ou instituições. A capacidade do clube para detetar futebolistas com verdadeiro potencial, dependerá do grau de conhecimento, da experiência e das competências da estrutura (staff técnico e gabinete de prospeção – rede de “olheiros” de âmbito nacional e estrangeiro, dependendo da dimensão e ambição do clube). Os recursos humanos numa academia terão de ser assentes numa filosofia de investimento em profissionais qualificados. As instalações de apoio ao programa da academia são uma ferramenta importante e decisiva para o desenvolvimento efetivo de um ambiente de aprendizagem. Não pode haver inconsistências no compromisso do clube e do seu plano de gestão operacional, em relação à necessidade de criação de infraestruturas e instalações (campos de treino de relva natural e sintética, instalações de apoio, dormitórios, sala de audiovisual equipada, etc.), pois não nos podemos desviar do grande objetivo: a academia/programa terá de desenvolver jogadores que tenham sucesso no futebol moderno.

Ao longo dos últimos anos, a capacidade física, a cultura e inteligência táticas e a melhoria da tomada de decisão dos jogadores aumentaram de forma considerável, pois as exigências competitivas são cada vez maiores. O ritmo, potência, capacidade técnica, cultura tática e a capacidade de conviver com a pressão através de uma capacidade mental forte, contribuíram para um progresso ímpar. Estes são fatores críticos de sucesso para o futebolista atual, e o jogo continuará a evoluir...

Há variadíssimas formas e caminhos para chegar ao sucesso no propósito de formar jovens futebolistas. Cada clube terá de escolher o seu. Objetivamente, para chegar ao tal jogador moderno, numa academia devem ser definidas áreas chave na formação dos jovens jogadores e que lhes permitam alcançar o desenvolvimento global. Áreas que deverão ser ao mesmo tempo lógicas, práticas e alcançáveis no tempo, dentro de uma academia de futebol: Programa técnico; Processo e metodologia de treino; Deteção e seleção de talentos; Desenvolvimento físico; Desenvolvimento psicológico; Desenvolvimento fisiológico e envolvimento genético; Programa nutricional; Análise individual e coletiva; Enquadramento disciplinar e social.

Dentro de cada uma destas áreas há variáveis que precisam de uma gestão acompanhada ao longo do processo de planeamento, iniciação, implementação, monitorização, regulação e avaliação. O especialista nestas áreas desportivas terá de trabalhar em equipa com os treinadores, ajudando-os na gestão das diferentes variáveis do processo, que de acordo com o meu ponto de vista deverá ser o mais holístico possível.

Todas estas medidas integradas no programa são, na sua generalidade, fulcrais para o sucesso do projeto em si. O trabalho de uma academia deverá perdurar no tempo e permitirá ao clube continuar a expandir o programa. Atente-se que aqui não refiro como objetivo ganhar títulos nos escalões de formação, mas sim a produção de futebolistas de elevada qualidade. No entanto, será possível que os bons resultados surjam com naturalidade, pois com jogadores de excelência, tudo se tornará exequível. Uma academia com o devido apoio efetivo de um leque de áreas subsidiárias, científicas e não só, terá muito mais hipóteses de desenvolver jogadores para o tal jogo moderno. “Se fizermos o que sempre foi feito, não poderemos esperar mais do que o que foi alcançado.”

* Artigo publicado respeitando a norma ortográfica escolhida pelo autor

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