O desporto do crude

O desporto moderno é um palco repleto de actores que cada vez mais parecem levar à cena muito mais do que um espectáculo desportivo, movendo-se de acordo com um argumento capitalista e de afirmação nacional, não se sabendo, por vezes, como diferenciar os dois. Há muito que convivemos com naturalizações de praticantes, permitidas generosamente pelas federações desportivas internacionais e por diversos Estados, que visam tão-somente alcançar vitórias e medalhas.

Também há já algum tempo assistimos à compra de clubes de futebol, nomeadamente na Europa, por parte de magnatas buscando sabe-se lá bem o quê para além, claro está, do exercício de um poder económico quase sem limites. Como que anestesiadas pelo odor do crude as organizações desportivas internacionais assistem, com agrado ou passividade, a mais este operador desportivo por excelência: o crude.

Dentro da mesma lógica, o crude parte para um segundo momento de afirmação desportiva: a realização de grandes eventos e competições internacionais. Veja-se, título de mero exemplo, a atribuição da organização do Campeonato Mundial de Futebol de 2022 ao Qatar. E, a este respeito, tudo o que a envolve.

No automobilismo “virá” o Grande Prémio de Fórmula 1, possivelmente já em 2016 ou 2017. Qatar onde já têm lugar circuitos internacionais de motociclismo.

Tudo bem ou, pelo menos quase tudo bem, até aqui. Todavia, o que é bem demonstrativo de um desporto do crude é o exemplo que nos foi oferecido pelo recente Campeonato do Mundo de andebol.

Realizado no Qatar, a final foi disputada entre a França, que se veio a consagrar campeã e …o Qatar que assim se tornou a primeira selecção nacional não europeia (?) a disputar o título. O seleccionador do Qatar foi espanhol e dos 17 jogadores, 10 são de origem estrangeira (Cuba, Montenegro, Espanha, etc). O guarda-redes nunca viveu no Qatar…

Mas o crude foi mais além, dir-se-ia em domínio quase que impensável. Contratou uma “claque” espanhola para apoiar a selecção do Qatar (?). Assim, entrou, de forma inovadora, num outro patamar do desporto moderno: a aquisição de adeptos.

O International Centre for Sport Security (ICSS), com sede no Qatar, é uma organização internacional que providencia informação especializada em segurança no desporto, incluindo a defesa da integridade desportiva. Fundada em 2001, pelo actual Presidente Mohammed Hanzab, cidadão do Qatar, tem vindo, paulatinamente, a afirmar-se no universo desportivo internacional. Ups!

josemeirim@gmail.com

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