O cisne negro e os 50 anos de Mourinho

José Mourinho acaba de completar a bela idade de 50 anos, e também por isso foi notícia. Atualmente um dos melhores treinadores do mundo, campeão na Liga Portuguesa, Premier League, Serie A e La Liga, vencedor da Liga dos Campeões pelo FC Porto e Inter de Milão, entre muitos outros títulos, é um profissional de excelência que merece enorme admiração e todo o nosso respeito. É uma figura global e uma personalidade à escala mundial.

Não pretendo fazer o seu panegírico, mas simplesmente reconhecer o seu contributo para a evolução do futebol português, expondo aqui uma pequena parte do seu trabalho e percurso. Sempre tivemos treinadores de elevada qualidade, mas alguns deixam uma marca indelével na história do nosso futebol. Recordo-me de José Maria Pedroto, Artur Jorge, Carlos Queirós, Manuel José, Jesualdo Ferreira... todos com feitos importantes na promoção do desporto-rei português, que de uma forma ou de outra, ecoaram além-fronteiras. Todos eles tiveram um papel importante e nunca o treinador foi tão valorizado como hoje. É justo reconhecer o contributo decisivo de José Mourinho.

Lembro uma entrevista de Van Gaal, onde ele afirmava que “não há treinadores por geração espontânea”, e o percurso de Mourinho é exemplo disso. Devemos ter a noção de que mais do que olhar para o resultado final, importa reconhecer o percurso e o trabalho até lá chegar. Apostou na sua formação académica e preparou-se muito bem para ter sucesso nos desafios que a atividade de treinador encerra. Teve o privilégio de privar de perto com os diferentes balneários e as vivências do seu pai enquanto técnico de futebol e tomou contato com diversas fontes de conhecimento... Tem uma personalidade forte, e é um homem de ideias e convicções muito vincadas.

José Mourinho representa a paixão, a dedicação (“O futebol ocupa-me as 24 horas do dia, exceto algum tempo para a família”, disse-me um dia) o profissionalismo, a inovação e o sucesso. Trouxe outra linguagem e terminologia. Notabilizou uma nova abordagem ao treino, a descoberta guiada, e uma nova metodologia, a periodização tática, outra forma de operacionalizar o processo de treino, resultado da reflexão e estudo do professor Vítor Frade.

Acima de tudo, fê-lo tendo resultados, e estes acabaram por direta ou indiretamente influenciar a crença e a autoestima no e do futebol português. Quem não se lembra daquela equipa do FC Porto a bater-se com os colossos europeus e a ganhar a Taça UEFA num ano e a Liga dos Campeões no seguinte? Mudou-se para Inglaterra, surgiu o mito do Special One, onde continuou a ganhar e a deixar a sua marca pessoal.

No entanto, soube sempre adaptar-se aos contextos competitivos. Foi introduzindo nuances táticas diferentes, mudou o estilo de jogo e adaptou-se às circunstâncias (no seu segundo ano na Invicta alternava de sistema consoante competia no campeonato português ou na Europa, não apenas para dotar a equipa de outra plasticidade tática mais complexa, mas sobretudo para manter o foco dos jogadores nos objetivos futuros). O FC Porto jogava de forma diferente do Chelsea, este do Inter de Milão e o Real apresenta ainda outra matriz e registo táticos. Além disso, surgem constantemente ecos da sua enorme capacidade de gerir as motivações dos seus jogadores, que o respeitam.

Ao sucesso de Mourinho eu apelidaria de cisne negro, pois, segundo Nicholas Taleb, este é um acontecimento altamente improvável que reúne três características principais: é imprevisível; produz um enorme impacto; e, após a sua ocorrência, as pessoas procuram fazer com que ele pareça mais previsível do que ele realmente era.

José Mourinho, tal como Cristiano Ronaldo, Figo e outros antes, representam a excelência. Quem imaginaria que um dia o futebol português daria um salto qualitativo tão grande e atingiria um patamar tão elevado e de forma tão continuada?

* Artigo publicado respeitando a norma ortográfica escolhida pelo autor

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