O carrossel de corrupção da FIFA limitava-se a ser renovado

Procuradora-Geral norte-americana sublinha que a prática era cíclica e que subia até “às mais altas esferas” do organismo. Secretário-geral da FIFA afasta cenário de demissão: “Não tenho responsabilidade.”

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Vivem-se dias de forte turbulência e de grande incerteza na FIFA MICHAEL BUHOLZER/AFP

Vira o disco e toca o mesmo. O furacão de corrupção que tem varrido a FIFA ao longo dos últimos anos tem sobrevivido a demissões e admissões, tem feito o seu caminho independentemente dos actores por detrás do pano. Quem o afirma é a a Procuradora-Geral dos Estados Unidos, Loretta Lynch, que se confessa alarmada com a prática reiterada nos meandros do organismo que gere o futebol mundial.

“Constatámos que a FIFA é corrupta até às suas mais altas esferas. E o que é verdadeiramente preocupante é que as investigações têm mostrado que de cada vez que a FIFA despediu funcionários corruptos após investigações internas, estes foram substituídos por outros que fizeram o mesmo”, confessou, numa entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine.

As detenções realizadas na passada semana, em Zurique, dois dias antes das eleições para a presidência da FIFA — os sete altos dirigentes do organismo continuam detidos na Suíça, em diferentes estabelecimentos —, estão a provocar a derrocada do organismo que reelegeu Joseph Blatter para um quinto mandato que duraria quatro dias apenas. Apesar da coincidência de timing da operação desencadeada pela justiça norte-americana, Loretta Lynch desmente qualquer tipo de premeditação. “A acusação surge depois de anos de investigações. Apresentámo-la quando estava pronta. Nada teve que ver com as eleições”, assegurou.

Certo é que esta operação acabou por conduzir à demissão do recém-eleito Sepp Blatter. Ontem, o suíço despediu-se dos 400 funcionários do organismo com um discurso semelhante àquele com que, na véspera, anunciara ao mundo a sua retirada. Mas não teve nem terá a solidariedade institucional do seu secretário-geral: “Não tenho qualquer razão para dizer que não devo continuar, não tenho nenhuma responsabilidade, não tenho de provar que sou inocente”, declarou Jérome Valcke à estação de rádio France Info.

O francês, que foi recomendado para o cargo pelo próprio Sepp Blatter, argumenta que nada teve que ver com a transferência de dez milhões de dólares (cerca de 9,1 milhões de euros) para contas controladas por Jack Warner, um dos implicados no escândalo, que então era presidente da Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caraíbas (Concacaf).

“No seguimento de uma decisão do Governo sul-africano, a FIFA recebeu uma carta que pedia para retirar do orçamento do comité de organização do Mundial 2010 uma soma de dez milhões de dólares, para que fosse dirigida ao programa Diaspora Legacy. Estes fundos deviam ser geridos pelo presidente da Concacaf Jack Warner, pelo que esta foi enviada para as contas indicadas por Jack Warner”, explicou Valcke, acrescentando que não tem o poder de autorizar um pagamento de valores tão avultados.

O visto favorável foi dado pela comissão de finanças da FIFA, que tinha precisamente em Jack Warner um dos vice-presidentes. “O aval de Julio Grondona [presidente da comissão] foi carimbado e a decisão foi validada”, acrescentou o dirigente francês, manifestando vontade de continuar no cargo: “Sempre disse que era o secretário-geral de Sepp Blatter. No início de 2016, haverá um novo presidente da FIFA e, em geral, um presidente escolhe o seu secretário-geral.”

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