O “Caldeirão”, lugar mítico para a estreia da selecção de Portugal

O estádio do Saint-Étienne tem muita história para contar.

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O estádio de Saint-Étienne Martin Henrik

É num lugar mítico do futebol francês, que a selecção portuguesa fará a sua entrada no Euro 2016. Benfica e Sporting já lá perderam nos anos gloriosos dos “verdes” e Eusébio e Yachine foram visitantes ilustres do chamado “Caldeirão” de Saint-Étienne. A cidade do maciço central, a 60 quilómetros de Lyon, acolhe a estreia nacional no Campeonato da Europa frente aos "vulcânicos" islandeses, de Eidur Gudjohnsen, que passou pelo Chelsea e pelo Barcelona, o tal que era um rapazinho quando substituiu o pai num jogo da Islândia com a Estónia, há 20 anos. Saint-Étienne esteve inicialmente fora do projecto do campeonato mas a insistência de Michel Platini, que jogou lá três épocas, levou o comité organizador a aceitar a sua inclusão como uma das sedes da competição.

O estádio tem 75 anos e foi o senhor Guichard, dono de um grande cadeia de hipermercados, que ofereceu o terreno para um campo de futebol no meio das chaminés fumegantes das fábricas. A AS Saint-Étienne formara-se como associação para animar os tempos livres dos operários das minas, do gás ou do caminhos de ferro. A construção teve muita ajuda popular e o cenário envolvente fazia lembrar, de algum modo, o mesmo dos tempos áureos do  Barreirense em época de intenso labor industrial. Passaram-se muitos anos, alguns deles de grande turbulência, mas são ainda as glórias da célebre maré verde dos anos 70 que continuam a estimular a paixão pelo clube, mesmo que muita gente não saiba sequer o que representam nomes como os de Rocheteau, Piazza ou dos irmãos Revelli.

O Geoffroy-Guichard já rejuvenesceu em várias ocasiões, desde que em 1957 o clube quis ter um estádio com ambiente “tipicamente britânico”. No Mundial de 1998 recebeu seis jogos, dois deles alucinantes, ambos com empate a dois golos. De um bem pode lembrar-se o argentino Diego Simeone, que dessa vez não perdeu o desempate por grandes penalidades no jogo com a Inglaterra, e já no Campeonato da Europa de 1984, o França-Jugoslávia (3-2), no tempo de Platini, Tigana e Bossis, por si só justificou a escolha.

O “Caldeirão” está ligado a uma época de grande esplendor, quando há 40 anos, a equipa verde chegou à final da Taça dos Campeões, ainda hoje lembrada como a final dos postes quadrados, perdida por 1-0 frente ao Bayern de Munique, de Beckenbauer, Rummenigge e Müller. Os franceses chegaram a Glasgow depois de apaixonantes jogos com o PSV Eindhoven e o poderoso Dínamo de Kiev, onde luzia um dos melhores futebolistas do universo soviético de então, Oleg Blokhin. Apesar da derrota na Escócia, Paris quis mostrar que toda a França estava orgulhosa do percurso dos “verdes”, forçando a escala no regresso, para o desfile nos Campos Elíseos, antes mesmo de chegarem a casa. Como nos recorda um antigo número da revista “France Football”, até os postes do Hampden Park estiveram contra, mas a corajosa exibição da equipa emocionou a França inteira e ainda hoje o grito de “allez les verts” se ouve em diferentes pontos do hexágono, mesmo que o último dos dez títulos nacionais tenha sido conquistado há 35 anos.

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