O atleta mais completo do mundo retira-se no auge da carreira

Bicampeão olímpico e mundial do decatlo, Ashton Eaton, diz adeus ao atletismo quando ninguém o esperava.

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Asthon Eaton nos 110m barreiras Steve Dipaola/Reuters

Foi no auge de uma carreira fabulosa e apenas a 15 dias de completar 29 anos de idade, que o norte-americano Ashton Eaton, o atleta mais completo do mundo – o que está longe de significar ser o mais conhecido – anunciou a sua decisão de abandonar o atletismo. Uma decisão surpreendente do recordista mundial do decatlo, mas que aliada ao facto de a sua mulher - a heptlatlonista canadiana Brianne Theisen-Eaton, medalhada de bronze nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro - também se ir retirar ao mesmo tempo (no seu caso também aos 28 anos de idade), levanta especulações acerca de ambos, possivelmente, irem ser pais.

Seja como for, Ashton Eaton deixa o atletismo com dois títulos olímpicos e dois títulos mundiais no decatlo, como detentor das duas melhores marcas de sempre feitas na disciplina das disciplinas e com três títulos mundiais em pista coberta no heptatlo, além de deter também o recorde mundial nesta disciplina.

“É tempo de me retirar do atletismo: fazer algo de novo”, disse Ashton Eaton. “Francamente não há muito mais que eu possa fazer no desporto. Dediquei os fisicamente mais robustos anos da minha vida na perseguição e descoberta dos meus limites neste domínio. Terei conseguido alcançá-los? Verdadeiramente, não estou certo de que alguém consiga”, reflectiu ainda o norte-americano.

Certamente o desgaste de ser um atleta tão completo terá pesado na decisão de Eaton que faz lembrar a tomada pela antiga dominadora das provas múltiplas femininas, a sueca Carolina Klüft, que se retirou no final de 2007 imbatida no heptatlo (ficou só mais umas épocas apenas no salto em comprimento) citando o enorme desgaste que é o de treinar para sete eventos - no caso de Eaton são dez…

Eaton saltou para a ribalta mundial quando a meio de Março de 2010, após o final dos Mundiais indoor de Doha, conseguiu bater o máximo mundial do heptatlo em pista coberta, nos campeonatos universitários norte-americanos, ficando a um ponto da barreira dos 6500p.

Daí para cá nunca mais parou. Em 2011 foi medalha de prata no dectalo dos Mundiais de Daegu, no ano seguinte ganhou o primeiro de três títulos consecutivos nos Mundiais de pista coberta, em Istambul, estabelecendo o máximo global que ainda prevalece, com 6645p. Renovaria esse título em Sopot, na Polónia, em 2014, e literalmente em casa, em Eugene, ainda em Março de 2016.

Nesse ano de 2012 obteve o título olímpico em Londres, com o grande total de 8869p, já depois de nas qualificações olímpicas americanas de Eugene, a 22 e 23 de Junho, ter batido, com 9039p, o recorde mundial que o checo Roman Sebrle estabelecera, com 9026p, 15 anos antes. Só estes dois, ainda hoje, superaram a barreira mítica dos nove mil pontos no decatlo.

Com toda a lógica, a partir do primeiro título olímpico, Eaton dominou o decatlo dos Mundiais de 2013, em Moscovo (com 8809p), e de 2015, em Pequim. Nestes últimos retocou o seu recorde mundial para os actuais 9045p.

Em 2016, era favorito único para bisar o título olímpico e fê-lo no Rio de Janeiro ao totalizar 8893p, igualando o recorde do certame. Juntou-se a apenas dois lendários atletas que na história do atletismo haviam renovado o ceptro olímpico, e que foram o norte-americano Robert Mathias (em 1948, nos primeiros Jogos após a segunda Grande Guerra, e 1952), e o britânico Francis Daley Thompson, em 1980 e 1984.

Atleta talentoso a quem não se poder exigir mais, e velocíssimo, acaba a carreira com alguns recordes pessoais incríveis para um especialista de…tudo, como 10,21s aos 100m, 13,35s nos 110m barreiras, 8,23m no comprimento ou, ainda, um recorde mundial para decatlonistas de 45,00s nos 400m.

O seu talento sem fim ficou provado na temporada de 2014, quando tirou um ano de férias no decatlo e se dedicou aos 400m obtendo com 48,69s uma marca improvável que, nesse ano, lhe deu o nono lugar mundial entre os especialistas.

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