No FC Gspon, o trabalho mais difícil é ser apanha-bolas

O campo mais elevado na Europa fica nos Alpes suíços, a 2000 metros de altitude, e só é acessível por teleférico.

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O campo de futebol do FC Gspon é à beira de um precipício MICHAEL BUHOLZER/REUTERS

Nos Alpes suíços faz-se esqui. Muito esqui. Mas também se joga futebol. Em Gspon, esforçam-se por jogar futebol. A população desta pequena aldeia alpina no cantão de Valais construiu um campo de futebol no único sítio plano disponível do seu território. O problema é que fica a 2000 metros de altitude. Na Europa não há campo mais acima do nível do mar que este, mas, apesar das dificuldades, serve de casa para o FC Gspon, cuja maioria dos jogadores tem de usar um teleférico cada vez que vai lá treinar ou jogar.

Pela altitude e pelas condições climáticas, é impossível manter um campo de relva natural, pelo que a alternativa artificial foi escolhida. O campo tem três-quartos do tamanho de um campo para futebol de onze e fica, literalmente, à beira do precipício. “Olho para os grandes jogos da Liga dos Campeões na televisão e penso que seria fantástico jogar num desses grandes estádios. Mas venho de teleférico para aqui, a dois mil metros de altitude, olho para a vista…”, diz Lukas Furrer, avançado do FC Gspon, que disputa um campeonato de aldeias de montanha em jogos de oito para oito com uma média de 70 pessoas a assistir.

O campo tem um nome famoso, o Ottmar Hitzfeld Arena, em honra ao grande treinador alemão que foi seleccionador da Suíça durante seis anos, para além de ter sido jogador e técnico de vários clubes suíços – Hitzfeld esteve na inauguração do campo, em 2009, mas só lá conseguiu chegar de helicóptero. Claro, que não se pode lá jogar o ano todo. A época começa por volta do final da Primavera e acaba no início do Outono. Fora esse período, o único desporto que se pratica em Gspon é o esqui.

Um grande problema de jogar neste campo são as bolas. O terreno está rodeado por redes, mas algum remate mais potente e com falta de direcção leva a bola para fora do campo, o que, no Ottmar Hitzfeld Arena, significa que vai a rolar montanha abaixo. Em cada jogo ou treino, entre sete e dez bolas vão parar algures na montanha, tornando difícil o trabalho dos apanha-bolas. Ou isso, ou muito do orçamento do clube é dedicado à compra de bolas.

Mais do que a equipa, o campo é que é a verdadeira celebridade desportiva, mas o seu treinador garante que o FC Gspon “é uma equipa séria”, e serve como base para a selecção suíça no mundial de futebol para equipas de aldeias nas montanhas – a próxima edição será em 2016 e vai incluir equipas da Áustria, França, Holanda, Alemanha, Itália e Suíça. Com vários títulos conquistados, o FC Gspon, é um dos “grandes” deste campeonato alpino, mas Lukas Furrer reconhece que a altitude é uma vantagem: “Quem cá vem jogar contra nós sabe que o ar rarefeito beneficia-nos.”

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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