Ninguém pensou que João Mário e Slimani fossem fazer tanta falta

A actual crise desportiva do Sporting assenta muito na saída de dois jogadores que foram fundamentais na boa performance da época passada.

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Slimani e João Mário têm feito falta no Sporting Reuters/RAFAEL MARCHANTE

Com menos dez pontos no campeonato do que na temporada passada, quando liderava por esta altura, e afastado de todas as restantes frentes competitivas, o futebol do Sporting está a atravessar a pior crise da era Bruno de Carvalho. A equipa é menos competitiva, tem poucas soluções, um futebol previsível e a política de reforços não teve em conta a importância estratégica da saída de peças tão fundamentais como João Mário e Slimani. Bas Dost, a única contratação segura para o “onze” titular, é goleador, mas sem as características combativas do ponta-de-lança argelino. Já a saída do internacional português não foi devidamente acautelada e o seu impacto é indisfarçável na qualidade e rendimento do conjunto. Estas são algumas das ideias-chave de analistas de futebol contactados pelo PÚBLICO para falar sobre o actual momento dos “leões”.

“A grande diferença que se sente em relação à época passada deve-se, em grande parte, às saídas de jogadores como João Mário e Slimani. Imagine-se o que seria o Benfica sem Pizzi ou Jonas, por exemplo?”, compara o antigo jogador Pedro Henriques, salientando ainda as perdas de Téo Gutierrez e Freddy Montero no ataque. “O Slimani e Téo Gutierrez tinham um tipo de movimentação à perda de bola que ajudava muito o meio-campo, que hoje é enganado com mais facilidade. Aquela pressão na primeira fase de construção, onde funcionava também bem o João Mário.”

Opinião partilhada por Luís Freitas Lobo, particularmente em relação ao jovem médio das escolas “leoninas”. “Saíram dois jogadores fundamentais. Entre Slimani e Bas Dost, acho que as coisas ficaram equilibradas dentro do possível. Mas não foi bem avaliado o impacto táctico da saída do João Mário. Ele foi fundamental no Sporting, em todos os momentos do jogo, e é fundamental na selecção portuguesa. Tacticamente era o jogador mais importante”, reforça este analista, que aponta o dedo aos responsáveis pelo futebol “leonino”: “Que a equipa é mais fraca, acho que isso é claríssimo e não houve consciência disso, nem externa, nem interna.”

E para o treinador Daúto Faquirá não será no mercado de Inverno que o Sporting irá conseguir corrigir estas lacunas. “A equipa tem de se organizar de uma forma diferente porque os jogadores não são os mesmos. Do Gelson [Martins] espera-se que resolva, mas ele não é o João Mário. O Bas Dost marca 13 ou 14 golos, mas não é o Slimani. Tem de perceber-se que o contexto é diferente e é preciso organizar a equipa de modo diferente.”

Mas Faquirá não reduz a crise desportiva dos “leões” apenas à deficiente política de reforços. O técnico critica ainda a “política comunicacional” e a gestão que tem sido feita em alguns jogos. “Criaram-se expectativas altas esses objectivos foram colocados internamente de forma natural tendo em conta a época passada.”

A derrota com o Rio Ave (3-1) para o campeonato, após a excelente exibição em Madrid, frente ao campeão europeu Real, para a Liga dos Campeões, é apontada por estes analistas como o momento-chave desta temporada, que terá marcado a espiral descendente do conjunto de Jorge Jesus. “Há um momento fundamental: o jogo de Madrid, que embebedou as hostes leoninas e que não foi bem gerido”, refere Faquirá: “A equipa foi a Vila do Conde refém daquela exibição [frente ao Real] e iludida. Depois, perdeu o Adrien [no meio-campo] e devia ter mudado um pouco a sua forma de jogar, até para poupar o [reforço] Elias. Houve falta de gestão do plantel.”

“Olhando para o banco durante um jogo, a impressão que dá é que os jogadores que vão entrar são sempre inferiores aos que vão sair. Se a equipa estiver forte pode resultar, mas quando não está não há hipótese”, conclui Pedro Henriques, que critica ainda a estratégia comunicacional do Sporting em relação às arbitragens: “Esta história das arbitragens terá tirado um pouco o foco aos jogadores. Serviu sempre para desresponsabilizar tudo e todos, jogadores e treinadores, que cometem mais erros durante um jogo do que um árbitro. E agora quando a culpa não é do árbitro é de quem?”

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