Ninguém pensou que João Mário e Slimani fossem fazer tanta falta
A actual crise desportiva do Sporting assenta muito na saída de dois jogadores que foram fundamentais na boa performance da época passada.
Com menos dez pontos no campeonato do que na temporada passada, quando liderava por esta altura, e afastado de todas as restantes frentes competitivas, o futebol do Sporting está a atravessar a pior crise da era Bruno de Carvalho. A equipa é menos competitiva, tem poucas soluções, um futebol previsível e a política de reforços não teve em conta a importância estratégica da saída de peças tão fundamentais como João Mário e Slimani. Bas Dost, a única contratação segura para o “onze” titular, é goleador, mas sem as características combativas do ponta-de-lança argelino. Já a saída do internacional português não foi devidamente acautelada e o seu impacto é indisfarçável na qualidade e rendimento do conjunto. Estas são algumas das ideias-chave de analistas de futebol contactados pelo PÚBLICO para falar sobre o actual momento dos “leões”.
“A grande diferença que se sente em relação à época passada deve-se, em grande parte, às saídas de jogadores como João Mário e Slimani. Imagine-se o que seria o Benfica sem Pizzi ou Jonas, por exemplo?”, compara o antigo jogador Pedro Henriques, salientando ainda as perdas de Téo Gutierrez e Freddy Montero no ataque. “O Slimani e Téo Gutierrez tinham um tipo de movimentação à perda de bola que ajudava muito o meio-campo, que hoje é enganado com mais facilidade. Aquela pressão na primeira fase de construção, onde funcionava também bem o João Mário.”
Opinião partilhada por Luís Freitas Lobo, particularmente em relação ao jovem médio das escolas “leoninas”. “Saíram dois jogadores fundamentais. Entre Slimani e Bas Dost, acho que as coisas ficaram equilibradas dentro do possível. Mas não foi bem avaliado o impacto táctico da saída do João Mário. Ele foi fundamental no Sporting, em todos os momentos do jogo, e é fundamental na selecção portuguesa. Tacticamente era o jogador mais importante”, reforça este analista, que aponta o dedo aos responsáveis pelo futebol “leonino”: “Que a equipa é mais fraca, acho que isso é claríssimo e não houve consciência disso, nem externa, nem interna.”
E para o treinador Daúto Faquirá não será no mercado de Inverno que o Sporting irá conseguir corrigir estas lacunas. “A equipa tem de se organizar de uma forma diferente porque os jogadores não são os mesmos. Do Gelson [Martins] espera-se que resolva, mas ele não é o João Mário. O Bas Dost marca 13 ou 14 golos, mas não é o Slimani. Tem de perceber-se que o contexto é diferente e é preciso organizar a equipa de modo diferente.”
Mas Faquirá não reduz a crise desportiva dos “leões” apenas à deficiente política de reforços. O técnico critica ainda a “política comunicacional” e a gestão que tem sido feita em alguns jogos. “Criaram-se expectativas altas esses objectivos foram colocados internamente de forma natural tendo em conta a época passada.”
A derrota com o Rio Ave (3-1) para o campeonato, após a excelente exibição em Madrid, frente ao campeão europeu Real, para a Liga dos Campeões, é apontada por estes analistas como o momento-chave desta temporada, que terá marcado a espiral descendente do conjunto de Jorge Jesus. “Há um momento fundamental: o jogo de Madrid, que embebedou as hostes leoninas e que não foi bem gerido”, refere Faquirá: “A equipa foi a Vila do Conde refém daquela exibição [frente ao Real] e iludida. Depois, perdeu o Adrien [no meio-campo] e devia ter mudado um pouco a sua forma de jogar, até para poupar o [reforço] Elias. Houve falta de gestão do plantel.”
“Olhando para o banco durante um jogo, a impressão que dá é que os jogadores que vão entrar são sempre inferiores aos que vão sair. Se a equipa estiver forte pode resultar, mas quando não está não há hipótese”, conclui Pedro Henriques, que critica ainda a estratégia comunicacional do Sporting em relação às arbitragens: “Esta história das arbitragens terá tirado um pouco o foco aos jogadores. Serviu sempre para desresponsabilizar tudo e todos, jogadores e treinadores, que cometem mais erros durante um jogo do que um árbitro. E agora quando a culpa não é do árbitro é de quem?”