“Não precisamos nascer dez vezes para demonstrar o nosso talento”

Estrela, médio do Orlando City, que fez toda a formação do Benfica, recorda a falta de aposta do actual treinador do Sporting nos talentos “made in Seixal”. A célebre frase foi proferida por Jorge Jesus aquando da saída de Matic para o Chelsea, em Janeiro de 2014.

Foto
Estrela deixou o Benfica e joga actualmente no Orlando City DR

14 de Abril de 2014. Data histórica para uma geração. O Benfica, treinado por João Tralhão, ia jogar a final da Youth League, a Liga dos Campeões dos juniores. Mas o sonho "encarnado" transformou-se em pesadelo em tons azul e grená. As "águias" perderam por 0-3 diante do Barcelona, numa partida em que Munir El-Haddadi, com dois golos, se deu a conhecer ao mundo. Um ano e cinco meses depois o PÚBLICO falou com um dos vinte e dois jogadores que iniciaram esse encontro. Valdomiro Lameira, Estrela para o mundo do futebol. O médio decidiu emigrar e aceitou o desafio que lhe foi proposto pelo Orlando City, emblema recém-criado que actua na Liga norte-americana, a MLS. Do "onze" que iniciou a partida contra os juniores do Barcelona, apenas Gonçalo Guedes e Nuno Santos integram o plantel treinado por Rui Vitória.

Desde o calor abrasador da Flórida, o internacional sub-20 acompanha com atenção o dia-a-dia do clube que representou desde os nove anos de idade. Se por um lado aplaude a escolha de Rui Vitória para assumir o comando técnico da equipa, por outro, lança inúmeras farpas a Jorge Jesus.

“A aposta foi feita pelo presidente Luís Filipe Vieira e temos de aceitá-la e apoiar o clube. Toda a gente viu o trabalho que Rui Vitória fez no Vitória de Guimarães, mesmo com as dificuldades que o clube atravessava em termos financeiros. A aposta dele em jovens jogadores deu frutos. Foi a escolha correcta. Rui Vitória já passou pelo clube, ele treinava os juniores e eu estava nas escolinhas. Saiu, fez o seu trajecto e voltou a uma casa que bem conhece. Rui Vitória é um treinador que nunca escondeu que aposta nos valores da casa, que não tem medo de arriscar”, sublinhou Estrela, que detalha o aparecimento de jogadores que fizeram a formação no clube da Luz.

O jogador recordou uma célebre frase que ficou conhecida aquando da saída de Matic para o Chelsea. “Substituto [vindo da] formação? Tinham de nascer dez vezes. Temos de encontrar uma solução, seja onde for. O valor do Matic não é fácil. É o melhor médio defensivo do mundo. Não estou a falar de segundo volante. Médio defensivo é o melhor. Também acho que no mercado em nenhuma parte do mundo seríamos capazes de encontrar um substituto para ele. Para mim o Matic é o melhor médio-defensivo do mundo, é escusado ir à equipa A ou à equipa B, pois é algo que não existe”, referiu Jesus na altura, depois de um jogo do Benfica diante o Leixões para a Taça da Liga.

“Nos primeiros jogos oficiais da época Nélson Semedo foi titular, Gonçalo Guedes e Victor Andrade também jogaram. Há talento, não precisamos nascer dez vezes como dizia o outro treinador (Jorge Jesus). Há que apostar e não ter medo. Rui Vitória é um treinador firme e se as coisas não correrem bem estará a dar o 'peito às balas'”, acrescentou.

Contundente, o médio do Orlando City lamenta, ainda, que outros talentos do viveiro do Seixal não tenham tido espaço para demonstrar as suas qualidades ao mais alto nível e tenham de fazê-lo noutras paragens.

“Também gosto de ver o sucesso do Ivan Cavaleiro, André Gomes, Bernardo Silva e Hélder Costa. Foram apostas da equipa B e deram resultado. Não tinham lugar no Benfica? Claro que tinham. O outro treinador entendeu que não tinham valor e eles estão a demonstrar o contrário ao mais alto nível. A nossa geração foi praticamente desperdiçada. O Rafael Ramos foi considerado o melhor lateral-direito da Youth League, em 2013-14. O Rochinha também esteve no melhor onze da competição. Fomos elogiados pelo treinador do Barcelona (Jordi Vinyals) na final”, recordou.

Apesar da mágoa, Valdomiro Lameira abandonou o Benfica porque quis. “Não guardo rancor nem raiva, cada um decide o seu caminho. Optei por sair, ninguém me empurrou, nem fui obrigado. Tinha contrato até 2020. Decidi sair porque naquele momento, com jogadores como Rúben Pinto, Lindelof, João Teixeira, era difícil jogar com regularidade. Não posso estar desiludido com a opção que tomei, apesar de não estar a jogar com desejava. É preciso arriscar, não deixo de acompanhar o Benfica, é o clube do meu coração e vai continuar a ser. Foi onde fiz a formação e a quem agradeço tudo, é a minha casa. Um dos sonhos que tenho é jogar na I Liga do meu país. Se tenho qualidade para isso? Claro que sim. Sinto que tenho qualidade para tal. E sinto-me preparado”, finalizou.

  

 

 

Sugerir correcção
Comentar