“Não há nada melhor do que competir contra quem é melhor do que eu”

Gonçalo Foro, capitão do CDUL, vai falhar amanhã a Taça Ibérica devido a lesão, mas acredita numa vitória portuguesa. O Jogador do Ano da FPR fala ainda sobre o actual momento das selecções nacionais.

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“O râguebi é um desporto de combate e temos tantas dores ao longo do jogo que parece tudo a mesma coisa” Rui Gaudêncio

Respeitado dentro e fora do campo por colegas de equipa e rivais, Gonçalo Foro é um dos símbolos do râguebi português. Aos 32 anos, o capitão do CDUL reconhece ter agora um papel importante junto dos mais novos, mas garante que enquanto se sentir “útil”, não pensa abandonar. O Jogador do Ano da FPR viaja hoje com a sua equipa para Valladolid, palco da Taça Ibérica que colocará amanhã frente a frente o campeão espanhol e português, mas ficará de fora após ter fracturado a mão há uma semana. Uma lesão que o vai deixar fora dos relvados por dois meses, mas não o retirou do campo: com a mão fracturada, o “11” marcou um ensaio que seria decisivo para o triunfo do CDUL. Abandonar o campo? “Não valia a pena. Já sabia que estava fora do próximo jogo.”

A lesão vai deixá-lo de fora da Taça Ibérica, do apuramento para a Challenge Cup e, muito provavelmente, dos cinco jogos de Portugal no Torneio Europeu nas Nações. Foi uma péssima prenda de Natal…
Uma lesão nunca é uma boa notícia, principalmente quando vamos jogar uma final. Já não tinha lesões há algum tempo. Parti o pé, mas ainda como juvenil. Não sou muito de ter lesões.

Percebeu logo que era grave?
Não me lembro bem da jogada, mas na luta com o Bernardo Seara Cardoso, não sei se foi ao tentar meter o “hand-off”, o dedo veio para trás. Ainda pensei que seria uma luxação, mas depois de o fisioterapeuta ligar-me a mão, ao mexer o pulso, senti dores e percebi que o osso estava instável. Disse-lhe que estava de certeza partido. Ainda me perguntou se queria sair, mas para quê? Não valia a pena. Já sabia que estava fora do próximo jogo.

No râguebi as mãos têm um papel importante, mas apesar de ter um fractura, jogou cerca de uma hora e marcou um ensaio. Porquê?
É difícil responder depois. Na altura não sentimos tanta dor e estamos com a adrenalina lá em cima. O jogo não estava a correr como queríamos e queria ganhar. Nessas alturas pomos as lesões de lado. O râguebi é um desporto de combate e temos tantas dores ao longo do jogo que parece tudo a mesma coisa.

Há favoritos na Taça Ibérica?
O Valladolid é uma equipa diferente da que defrontamos há dois anos  - contrataram recentemente seis ou sete estrangeiro. Estão mais equilibrados e têm poucos pontos fracos. Mas a nossa equipa está mais crescida e temos miúdos cheios de vontade. Acho sempre que vamos ganhar…

Quais são os pontos fortes do Valladolid?
Jogam bem ao pé e os avançados são todos enormes. Já estamos preparados para isso e é por essa razão que também haverá algumas alterações na nossa equipa para tentar resolver esses problemas.

Falando da selecção, depois de um mau apuramento para o Mundial 2015, Portugal terminou o ano com uma vitória contra a Namíbia. Que conclusões tirou desse jogo?
Gosto sempre de falar sobre os mais novos e o meu papel agora também é o de os ajudar a evoluir. Nesse jogo senti que a vontade que havia em 2007 voltou a existir, com os jogadores a não desistirem e a jogarem de igual para igual. Vi muita gente satisfeita, o que não acontecia há muito tempo.

O Luís Cassiano Neves, que foi seu treinador no CDUL, afirmou num artigo que escreveu no P3 Râguebi que o Gonçalo Foro é “um dos mais relevantes Lobos da nossa história”. As novas gerações sabem o que significa ser Lobo?
Nós custamos dizer que o difícil não é chegar à selecção. O difícil é manter-se lá. Alguns sabem, outros não. O nosso papel, também é tentar contagiar os mais novos e fazer-lhes ver o que significa representar o nosso país. Nas primeiras vezes há o fascínio de vestir a camisola e cantar o hino, mas só depois começamos a perceber o valor real daquilo.

Abdicou de participar no Circuito Mundial de Sevens por motivos profissionais. Foi uma decisão difícil?
Nem imaginam o quanto. Eu adoro aquilo. Adoro sevens, pelo que nos proporciona. Por nos permitir jogar contra os melhores do mundo e estar na elite. Para mim não há nada melhor do que competir contra quem é melhor do que eu. Mas há alturas da vida em que é preciso tomar decisões. Tenho um negócio com o Pedro Cabral e não pode sobrar sempre tudo para ele. Nesta fase é muito difícil estar 15 dias fora.

Em Junho, se for convocado, estará disponível para disputar os torneios de apuramento para os Jogos Olímpicos?
Sim, estarei disponível. Disse ao Pedro Netto e ao Tomaz Morais que iria treinar com a selecção e depois logo se vê se serei escolhido…

Que balanço faz das três primeiras etapas do Circuito Mundial?
No princípio senti que faltava alguma maturidade e jogadores que se chegassem à frente, mas agora já vejo o Adérito [Esteves] a assumir responsabilidades e a ser um dos mais importantes, vejo o Carl [Murray] muito bem, vejo o [Nuno] Sousa Guedes a fazer-se jogador… Está a ser construída uma equipa porreira, que está a melhorar de torneio para torneio.

Já há condições em Portugal para separar o XV dos sevens e manter equipas competitivas ou isso deve acontecer em situações pontuais?
Respondo a isso no final da época [risos]. Vai, pelo menos, evitar que alguns jogadores cheguem a Maio todos rebentados. Há dois anos, chegamos a sair de Vigo, depois de jogar com a Espanha pela selecção de XV, de carro para Lisboa, fizemos a mala e arrancamos para Hong Kong… Isso não se faz em lado nenhum.

Esteve no Mundial 2007, em dois Mundiais de Sevens, disputou o Circuito Mundial, ganhou todos os troféus nacionais pelo CDUL. Falta os Jogos Olímpicos?
Isso do “falta” não é a maneira como penso. Se jogasse a Taça Ibérica, era o que importava. Não penso no que já ganhei ou falta ganhar. Jogo porque me divirto e adoro competição. Jogar nos Jogos Olímpicos é obviamente um objectivo, mas sei que será difícil.

Falou da idade. Já definiu um prazo para deixar de jogar?
Enquanto me sentir útil…

Jogar no Mundial 2019 no Japão, não é impossível…
Nem fiz as contas para saber que idade terei em 2019 [risos]. Não é impossível. Sou relativamente bom fisicamente, vamos ver…

Foi distinguido como o Jogador do Ano pela FPR. O que é que significou para si esse prémio?
Sendo um desporto colectivo, depende sempre do resultado da equipa. É óptimo ver o nosso trabalho reconhecido e não vou ser hipócrita e dizer que não me interessava. Um dos meus objectivos sempre foi tentar ser um dos melhores jogadores portugueses e marcar uma geração no CDUL e na selecção. Vou continuar a tentar ser sempre melhor. Foi uma satisfação enorme, ainda para mais com a competição do Vasco [Uva] e do Carl [Murray].

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