Dez medalhas depois, Naide Gomes acaba carreira e deixa um grande vazio

A atleta do Sporting, que foi campeã mundial do comprimento e do pentatlo em pista coberta, já não competia desde 2013. Abandona as pistas aos 35 anos, culpa de lesões recorrentes.

Foto
Naide Gomes já não competia desde 2013 JOHN MACDOUGALL/AFP

Naide Gomes anunciou nesta quinta-feira, definitivamente, o fim da sua carreira atlética, algo que de há algum tempo já era esperado após uma sucessão de lesões, sobretudo na zona do tendão de Aquiles, que a obrigaram a diversas cirurgias e a longas paragens competitivas. Um calvário que a atleta do Sporting, actualmente com 35 anos, suportou sempre com a esperança de poder voltar em condições à competição. Só que, com o passar do tempo e com as recuperações a tornarem-se cada vez mais difíceis, Naide Gomes resolveu abandonar de vez as pistas. Dez medalhas depois (11 se se contabilizar a ganha em 2005, no comprimento, nas Universíadas).

Ao terminar a sua carreira, Naide Gomes deixa, sem dúvida, um enorme vazio no atletismo português. Apesar de existirem alguns jovens talentos a destacarem-se nas provas que ela abraçou — como Teresa Carvalho e Marisa Vaz Carvalho, no salto em comprimento, e Lecabela Quaresma nas provas múltiplas — é muito difícil que alguém atinja o seu nível.

Naide deixa as pistas como co-recordista nacional do salto em altura e, claro, como recordista do pentatlo e heptatlo, para além do salto em comprimento. “Um atleta de alta competição quer sempre muito mais. Obviamente gostaria de ter chegado à medalha olímpica. Não o conseguimos, mas acredito que tudo tem o seu porquê. Mas tive uma carreira brilhante, ganhei 11 medalhas, foi uma carreira exemplar”, declarou no momento da sua despedida.

Enezenaide (Naide mais tarde) do Rosário da Vera Cruz Gomes nasceu em São Tomé e Príncipe, a 20 de Novembro de 1979, e veio viver para Portugal ainda muito jovem. A si própria se descreveu um dia como “Maria-rapaz” pelas sua qualidades físicas que lhe permitiam ganhar aos rapazes a todos os níveis em capacidade de impulsão e velocidade, pelo que na sua escola secundária na margem Sul do Tejo acabaria por ser indicada como potencial grande atleta, indo treinar-se para o Belenenses. Nos primórdios da sua carreira, dado que apenas se tornou oficialmente portuguesa em 2001, continuou a competir por São Tomé e Príncipe, tendo-o feito, inclusive, nos Jogos Olímpicos de 2000, em Sydney. Por aquele arquiélago africano bateu 30 recordes nacionais.

A sua melhor prova, inicialmente, era a do salto em altura, mas a sua polivalência valeu-lhe a aposta nas múltiplas no início da década passada. A vinda para o Sporting e o encontro com o professor Abreu Matos foi um ponto marcante na sua carreira.

As suas primeiras grandes competições internacionais verificaram-se no pentatlo, em pista coberta, tendo sido segunda dos Europeus de 2002, um ano depois quinta nos Mundiais e, outro ano volvido (dois Mundiais indoor seguidos para arranjo do calendário internacional) chegou ao seu primeiro título mundial, com um total de 4759p em Budapeste. Durante este pentatlo Naide Gomes igualou o recorde nacional do salto em altura, ao passar 1,88m. Um registo que se mantém em vigor.

Nos Europeus de 2002, em Munique, já competiu no salto em comprimento, sem chegar à final, mas também o fez no heptatlo, tal como o faria nos Jogos Olímpicos de 2004, em Atenas, onde terminou 13ª. Mas os problemas que já se vinham fazendo sentir na perna de chamada do salto em altura levaram-na a optar pelo salto em comprimento. Quanto ao recorde do heptatlo deixou-o nos 6230p, em Logroño, a 17 de Julho de 2005.

Assim, nos Europeus de pista coberta de Madrid, em 2005, obteve a sua primeira vitória, dois anos mais tarde, em Birmingham, renovou o título, e em 2011, em Paris, naquela que foi a sua última grande medalha, acabou a prova como segunda com 6,79m.

Foi nos Mundiais de pista coberta que obteve os maiores sucessos da carreira, chegando a uma medalha de bronze em 2006, em Moscovo, ao título mundial dois anos depois, em Valência, e uma terceira medalha, desta feita de prata, para completar a colecção, em Doha 2010.

Nos Europeus de ar livre foi segunda em 2006, em Gotemburgo, e de novo segunda quatro anos mais tarde, em Barcelona.

Nos Mundiais ao ar livre não se qualificou para a final em Helsínquia 2005, e dois anos depois, em Osaca, foi quarta. Repetiu essa posição em Belim 2009, para ficar no 10.º posto em Daegu 2011, na sua última aparição.

De permeio ficaram os Jogos Olímpicos de Pequim de 2008, e aqui reside a maior tristeza de uma carreira fabulosa. Naide Gomes era claramente a melhor de todas as saltadoras, pouco antes dos Jogos colocara o recorde português em 7,12m, a 29 de Julho, (marca que foi a melhor mundial desse ano), mas só teve um ensaio válido na qualificação, ficando-se pelos 6,29m e fora da final. Quatro anos volvidos, nos Jogos de Londres, já não teve outra oportunidade. E não terá mais.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários