Nasceu uma estrela em Wimbledon que ofuscou Nadal

Maria Sharapova também foi eliminada deixando Petra Kvitova como a única em prova que já triunfou no Grand Slam.

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Nadal nem queria acreditar no que lhe aconteceu Stefan Wermuth/Reuters

Se o ténis utilizasse a mesma terminologia do golfe, Nick Kyrgios seria apelidado de “pistoleiro” – alguém que vale mais do que o que o seu handicap indica. Na realidade, este tenista nascido há 19 anos no far east australiano é bem melhor do que o 144.º lugar do ranking que ocupa, como ontem ficou comprovado no court central do All England Club: derrotou o número um mundial, Rafael Nadal, e qualificou-se para os quartos-de-final do torneio de Wimbledon.

“Vi numa entrevista a minha mãe a dizer que ele era demasiado bom. Isso fez-me ficar um pouco zangado”, brincou Kyrgios, depois da exibição monumental, que lhe permitiu ganhar, por 7-6 (7/5), 5-7, 7-6 (7/5) e 6-3. Uma demonstração de potência, agressividade e auto-confiança, traduzida em 70 winners e apoiada no serviço: 37 ases (e somente quatro duplas-faltas) e 83% de pontos ganhos com o primeiro serviço (81 em 98)!

“Não consegui ler o seu serviço em todo o encontro”, reconheceu Nadal. No entanto, o espanhol não dramatizou a eliminação. “Não penso que tenha jogado mal; ele jogou melhor. Quando não se tem nada a perder, pode-se jogar como ele fez”, disse Nadal, até ontem, o último teenager a vencer um número do ranking – Roger Federer, em 2005, em Roland Garros.

Kyrgios surpreendeu ao recompor-se após ceder o segundo set, ao perder o serviço a 5-6, e mostrou ter nervos de aço ao ganhar o segundo tie-break. Motivado, obteve o break no quarto set para 3-1, que se revelou fatal para Nadal. “Acreditei que podia ganhar desde o primeiro ponto. Tenho estado a jogar muito bom ténis na relva”, recordou Kyrgios, que entrou no quadro principal graças a um wild-card, ganho por ter triunfado no challenger de Nottingham. Mas a relação com a relva já vem dos juniores, escalão em que conquistou o troféu de pares juniores, nos dois últimos anos.

Talvez por isso, não tenha acusado o “peso” de jogar no mais famoso court central do mundo. “Penso que estava um bocado na ‘zona’ e não reparei muito no público”, confessou Kyrgios, que também não foi muito exuberante a celebrar a vitória. “Nem sabia o que fazer, as emoções eram muitas. Virei-me para todos os que me apoiaram a minha vida toda, todos os que se sacrificaram tanto para me trazer até onde estou agora”, confessou o australiano, após a vitória, que lhe vai permitir subir cerca de 80 lugares na tabela ATP.

Kyrgios, o primeiro nascido nos anos 90 a derrotar Nadal, vai amanhã discutir um lugar nas meias-finais com o canadiano Milos Raonic (9.º), também ele, nascido na mesma década. Nesta terça-feira, o canadiano eliminou o japonês Kei Nishikori (12.º), por 4-6, 6-1, 7-6 (7/4) e 6-3.

O outro quarto-de-final irá opor, pela primeira vez nesta fase do torneio de Wimbledon dois suíços:  Roger Federer e Stan Wawrinka. Federer ainda não perdeu um set e é o único nos torneios individuais que ainda não perdeu o serviço. Nesta terça-feira, o número quatro do ranking somou 11 ases, perdeu somente cinco pontos com o seu primeiro serviço nos 14 jogos de serviço para eliminar o espanhol Tommy Robredo (22.º), por 6-1, 6-4 e 6-4. Wawrinka chegou aos 31 ases para ultrapassar outro espanhol, Feliciano Lopez, por 7-6 (7/5), 7-6 (9/7) e 6-3.

Também no torneio feminino, a campeã de Roland Garros foi eliminada. Maria Sharapova (5.ª) foi surpreendida pela alemã Angelique Kerber (7.ª) que realizou a melhor exibição da sua vida em torneios do Grand Slam, para vencer, com os parciais de 6-7 (4/7), 6-4 e 6-4. Mas os 49 erros não forçados da russa foram fatais perante uma Kerber muito aguerrida e sólida.

A eliminação de Sharapova significa que 2014 será o quarto ano consecutivo em que haverá três vencedoras diferentes nos três primeiros torneios do Grand Slam. A única sobrevivente que já triunfou em majors é Petra Kvitova (6.ª) que, nesta terça-feira, afastou a também checa Barbora Zahlavova Strycova (43.ª), por 6-1, 7-5. Nas meias-finais, a campeã de Wimbledon de 2011, vai defrontar a compatriota Lucie Safarova (23.ª) que eliminou a russa Ekaterina Makarova (22.ª), por 6-3, 6-1.

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