Muito dinheiro a mudar de mãos e muita gente a trocar de camisola

Campeões do mercado de transferências foram os clubes ingleses, com um máximo histórico de gastos em contratações. Diminuição sem precedentes da procura de futebolistas brasileiros

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Van Gaal viu os seus desejos serem cumpridos no Manchester United IAN MACNICOL/AFP

A bola ainda não estava a rolar nos relvados da Premier League (que arrancou a 16 de Agosto) e já tinha sido estabelecido um novo recorde de gastos em contratações pelos clubes ingleses (14 de Agosto). Este foi o Verão de todas as loucuras, com um total de 835 milhões de libras (1050 milhões de euros) a saírem dos cofres dos 20 emblemas da Liga inglesa — eclipsando o máximo registado há um ano, que era de 630 milhões de libras (792 milhões de euros, ao câmbio actual). O total de gastos feitos pelos clubes das principais ligas europeias ultrapassou os 1800 milhões de libras (mais de 2300 milhões de euros).

Os dados do sistema de transferências da FIFA (Transfer Matching System) mostram que houve um total de 2774 futebolistas contratados durante este Verão nas 26 Ligas cujo período de transferências terminou na segunda-feira (entre as quais a portuguesa). Destes, 1164 são jogadores negociados por clubes dos cinco maiores campeonatos — Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França. E, apesar de as duas contratações mais caras terem como destino a Liga espanhola (Luis Suárez no Barcelona por 81 milhões de euros e James Rodríguez para o Real Madrid por 80 milhões de euros), os campeões do mercado foram mesmo os ingleses. Os clubes espanhóis foram os que mais se aproximaram, mas ainda assim os gastos foram sensivelmente metade dos registados em Inglaterra. Somado, o investimento feito por clubes italianos, alemães e franceses foi 27% inferior ao dos ingleses, mostra um estudo da consultora Deloitte.

Sensivelmente um quinto do valor astronómico atingido pela Premier League em contratações foi desembolsado pelo Manchester United, que leva a coroa do mercado. Os dirigentes não olharam a gastos para satisfazer os desejos de Louis van Gaal, estabelecendo um novo recorde para a transferência mais cara do futebol inglês: Di María chegou do Real Madrid por 59,7 milhões de libras (75 milhões de euros). No total, os red devils ultrapassaram os 150 milhões de libras (188 milhões de euros) gastos em reforços, subindo ao pódio dos mais gastadores da história do futebol inglês — superaram o Manchester City em 2009 (quando foram contratados Carlos Tévez, Emmanuel Adebayor, Joleon Lescott ou Roque Santa Cruz, por exemplo) e também o Chelsea em 2003 (quando chegou Roman Abramovich e jogadores como Damien Duff, Hernán Crespo, Claude Makélélé, Adrian Mutu, entre outros).

A dimensão dos gastos dos clubes ingleses neste Verão explica-se pelo aumento das receitas com direitos televisivos. O novo contrato entrou em vigor na época passada e durará até 2015-16. O acordo ultrapassa os 3000 milhões de libras (mais de 3700 milhões de euros) e foi uma autêntica revolução: o Cardiff City, último classificado em 2013-14, recebeu 62 milhões de libras (quase 78 milhões de euros) — mais do que o campeão do ano anterior. “Na temporada passada, em média, os clubes da Premier League receberam mais 25 milhões de libras (31,4 milhões de euros) em receitas de direitos televisivos do que em 2012-13, o que ajudou a alimentar o novo recorde de gastos neste Verão”, apontou Dan Jones, da divisão de negócios de desporto da Deloitte. E, no futuro, os valores aplicados em contratações podem ser ainda maiores: a emissora britânica BBC lembrava que na próxima época será assinado o novo contrato de direitos televisivos da Liga dos Campeões, que irá distribuir mais dinheiro aos clubes participantes na mais importante prova europeia.

Quem ficou a perder (ou a ganhar, conforme a perspectiva) neste Verão foi o futebol brasileiro: houve uma diminuição da procura de futebolistas desta nacionalidade, e apenas 178 jogadores foram transferidos para clubes europeus neste Verão — o número mais reduzido desde que a FIFA começou a manter registos, em 2011. “É o pior mercado dos últimos 30 anos para os clubes brasileiros”, notou Paulo Vinicius Coelho no diário Folha de S.Paulo. Para além da recessão mundial e de os salários já serem tão elevados no futebol brasileiro como no europeu, o colunista identifica ainda uma “crise técnica”: “O Brasil não produz mais jogadores como no passado. Não há craques indiscutíveis no Brasileirão actual.”

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