Monica Quinteros, a “arma secreta” que levou o Equador ao Mundial

Estava para abandonar o futebol, mas voltou e fez o golo que levou a selecção feminina do Equador à estreia em Mundiais.

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Monica Quinteros persegue a japonesa Yuri Kawamura Bruce Fedyck-USA TODAY Sports (Reuters)

Os números da estreia da selecção do Equador em fases finais do Mundial feminino podem dar a entender que foi um desempenho para esquecer, mas há motivos para acreditar no contrário. É verdade que regressar a casa mais cedo, com três derrotas em outros tantos encontros, zero pontos somados e 17 golos sofridos (apenas um marcado) não envaidece ninguém, mas o simples facto de as equatorianas terem estado no Canadá a disputar o Campeonato do Mundo foi um feito histórico.

A primeira participação do Equador no Mundial aconteceu graças a um fenómeno de precocidade chamado Vanessa Arauz. Aos 26 anos, entrou para o livro de recordes do Guinness por ser a mais jovem treinadora da história dos Mundiais, femininos ou masculinos: superou Juan José Tramutola, que tinha 27 anos quando co-liderou a Argentina no Campeonato do Mundo de 1930. “O recorde é muito bom, mas não quero ser reconhecida por um feito desse género, prefiro sê-lo pelo trabalho que está a ser feito na selecção feminina do Equador”, sublinhou.

Mas a proeza não seria possível sem uma “arma secreta” chamada Monica Quinteros. A futebolista de 26 anos tinha abdicado de ir à Copa América (que serviu de qualificação para o Mundial) por motivos profissionais – dá aulas de Educação Física em Guaiaquil e a escola onde trabalha considerou que dois meses de preparação em Quito seria uma ausência demasiado prolongada – mas voltou a ser opção para o decisivo play-off contra Trindade e Tobago após uma conversa com a seleccionadora. “Torna o sonho realidade”, pediu-lhe Vanessa Arauz.

A primeira mão da eliminatória, em Quito, terminou 0-0. Tudo seria decidido no terreno adversário, em Porto Espanha. E foi-o com o dramatismo devido: o golo da vitória equatoriana surgiu apenas aos 90+2’, com Monica Quinteros a aproveitar uma falha da defesa para, do alto do seu 1,62m, cabecear para a história. Ninguém mereceria mais marcar o golo da qualificação do que a futebolista que, aos 13 anos, foi lançada na selecção principal do Equador.

Com 26 anos, Quinteros era uma das mais experientes da selecção que esteve no Campeonato do Mundo. Apesar de ter disputado as duas primeiras partidas no Mundial contra outras duas selecções estreantes, a missão da equipa tricolor nunca seria fácil: foi goleada pelos Camarões (0-6) e arrasada pela Suíça (1-10), mas despediu-se com um honroso 0-1 diante da selecção do Japão, campeã em título – e que, na madrugada de domingo para segunda-feira, disputa a final contra os EUA. A selecção orientada por Vanessa Arauz estava entre as mais jovens da competição, com uma média etária de 23,3 anos.

Equipa jovem e seleccionadora jovem – mas a juventude da treinadora não significa inexperiência ou falta de qualificação. Vanessa Arauz foi a primeira mulher a formar-se no Instituto Tecnológico Superior da federação equatoriana de futebol, com a segunda melhor nota do curso, em 2011. Dois anos depois estava a trabalhar nas selecções jovens e no Verão passado assumiu o comando da equipa principal. Pode ter apenas 26 anos, mas se há coisa a que a treinadora equatoriana está habituada é a fazer história: “No hospital onde nasci só fazia partos de bebés rapazes. Fui a primeira rapariga a nascer ali”, costuma contar.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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