Mário sentiu “o coração a tremer” e não foi por causa da “Miss bumbum”

Cerca de duas centenas de adeptos portugueses e brasileiros esperaram durante horas a chegada da selecção ao hotel em Campinas. Mas só uma adepta, estrela de televisão, deu espectáculo.

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"Miss bumbum", apresentadora brasileira, esteve na recepção à selecção em Campinas Reuters

Mal viu o autocarro da selecção ao fundo da ladeira de acesso ao Royal Palm Plaza de Campinas, Andressa Urach entrou em alvoroço e pulou energicamente para a berma da estrada de microfone em punho. “Cristiano deixa de marrar, larga a Irina e vem viver na minha casa!”, gritou em voz rouca. A antiga “Miss bumbum” brasileira e apresentadora do programa “Muito Show” da Rede TV não quis passar minimamente despercebida e exibiu-se com uma pintura de uma camisola com as cores portuguesas da cintura para cima.

A performance indiscreta de Urach foi minuciosamente captada pelas câmaras da sua estação de televisão e deixou de boca aberta muitos dos presentes. De olhos arregalados ficaram também alguns dos jogadores portugueses que olhavam incrédulos da janela do autocarro. Um pedido de reconciliação mediático que acabou abafado pelos gritos “Portugal” das cerca de duas centenas de adeptos portugueses e brasileiros que esperaram durante várias horas a chegada da selecção ao hotel que irá albergar a equipa durante o Mundial de futebol.

Entre eles estava Mário Oliveira, o mais persistente da manhã desta quarta-feira. Chegou ao local com o dia ainda a clarear. Foi o primeiro. Avisou a família onde estava e desligou o telemóvel para não ser incomodado. Sentiu “o coração a tremer” por ir ver, por instantes que fossem, a equipa do seu país. Caixeiro-viajante reformado, com 71 anos, não queria perder a oportunidade e posicionou-se no melhor local para ver as estrelas que conhece da televisão.

Há 53 anos, partiu da freguesia de Gondemaria, em Ourém, e atravessou o Atlântico rumo ao Brasil. Para ficar. Em Campinas conheceu a mulher com quem casou, Rosa Pereira, uma minhota de Monção. E por aqui construíram uma vida longe de Portugal. Mário Oliveira queria que fosse um dia especial. “Vim apoiar a selecção. É um acontecimento que nunca esperava que acontecesse na minha vida”, disse ao PÚBLICO.

Foram-se juntando a ele outros portugueses ao longo da manhã e ainda mais brasileiros, fãs da selecção nacional e de Cristiano Ronaldo em particular. As notícias do aeroporto indicavam que o avião iria chegar atrasado, mas ninguém desmobilizou. Ensaiaram-se gritos de “Portugal” para tudo estar afinado na altura certa. 

O exército e a polícia militar mantinham a via desimpedida e procuravam desviar as dezenas de jornalistas, operadores de câmara e repórteres fotográficos, principalmente portugueses e brasileiros, que rivalizavam em número com os adeptos.

O ciclista azarado
Andressa Urach não era a única cara conhecida nas imediações do Royal Palm Plaza. Um ciclista muito especial chamou também as atenções, mas por motivos bem distintos: Jorge Franco, “adepto número 1” da selecção nacional, que segue religiosamente a equipa das quinas desde 1996. Já em Janeiro deste ano, este português, nascido em Torres Vedras, tornou-se particularmente conhecido nos dois lados do Atlântico quando foi notícia por ter sido abalroado por um carro em Itapecerica da Serra, no Estado de São Paulo, no quinto dia de uma aventura que pretendia ligar de bicicleta as 12 cidades-sede do Mundial, num total de 20 mil quilómetros.

Antes de se dedicar inteiramente às duas rodas, o ex-gerente-hoteleiro, de 42 anos, percorreu de autocaravana todo o continente africano, em 2010, rumo ao Mundial da África do Sul, e só no Europeu de 2012, apostou no veículo a pedais, percorrendo os 3600 quilómetros que separam Palmela da Polónia (um dos países que sediaram o torneio), em 37 dias. Agora, não esconde alguma frustração pelo insucesso no Brasil.

“Ainda estou a recuperar”, lamentou ao PÚBLICO, mostrando uma cicatriz na perna esquerda, resultado de uma operação a um fémur fracturado no acidente. Nada que o impedisse, três meses depois, de arriscar uma nova odisseia, ainda que menos ambiciosa. “Fui de avião até Fortaleza e regressei na minha bicicleta a Campinas. Fiz quatro mil quilómetros durante um mês e meio, descansando em pousadas e motéis.” Chegou no fim-de-semana, sem nódoas negras.

“Agora penso um pouco mais nos perigos quando ando de bicicleta, a concentração tem de ser muito grande”, salientou, antes de saltar repentinamente para cima da sua “Conquistadora” e partir para mais uma volta ao quarteirão, com a bandeira portuguesa a esvoaçar como capa. 

No Twitter com CR7
Entre os brasileiros presentes, o mais feliz era, sem dúvida, Lucas de Carvalho, um paulistano de Santos, de 21 anos, fã incondicional de Ronaldo. Mostrava orgulhoso a resposta de CR7 a um twit que tinha postado momentos antes. “Ele [Cristiano] segue-me no Twitter há dois meses. Enviei esta manhã uma mensagem a dizer que já estava na porta do hotel esperando a chegada de Cristiano Ronaldo e a desejar-lhe as boa vindas. Ele respondeu-me com um ‘obrigado’”, contou.

“Há mais de dez anos que sigo CR7 e tenho uma enorme colecção de camisetas dele”, prosseguiu, revelando que o próprio Ronaldo postou uma foto sua, na página oficial do Facebook, a mostrar a referida colecção, a 12 de Março deste ano. Lucas já garantiu bilhete para dois jogos da selecção portuguesa, em Salvador e Brasília, mas não conseguirá ir a Manaus para a segunda partida: “Já a selecção brasileira eu vou acompanhar pela televisão. Adoraria uma final Brasil-Portugal.”

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