Mais dinheiro para os agentes, menos para os formadores

FIFPro denuncia desequilíbrio na distribuição de receitas, baseado em dados da FIFA relativos a 2015.

Foto
Ruben Sprich/Reuters

Os clubes de futebol receberam apenas 0,5% das verbas despendidas em transferências, no ano passado, a título de direitos de formação. A informação foi avançada nesta segunda-feira pelo sindicato internacional de futebolistas (FIFPro), que dá conta de que o valor em causa, o mais baixo desde que a contabilização é feita, contrasta largamente com o recorde de 3,8 mil milhões de euros gastos no mercado em 2015.

"O sistema de transferências está a compensar mais os agentes do que os clubes que produzem o talento", alerta Theo van Seggelen, secretário-geral do FIFPro, que em Setembro de 2015 apresentou uma queixa na União Europeia, advogando que o actual sistema "ilegítimo e injustificado". O caso ainda está a ser avaliado.

Os direitos de formação foram introduzidos pela FIFA em 2001, com o objectivo de encorajar os clubes a investirem nas academias. Na prática, prevê-se uma compensação financeira para os emblemas que formem jogadores, entre os 12 e os 21 anos, ainda que o resultado prático desta medida esteja longe do que foi idealizado.

Em 2015, o valor global que foi parar aos cofres dos clubes formadores não ultrapassou os 20,7 milhões de euros, de acordo com o relatório extraído do Transfer Matching System da FIFA. Isto significa que igualou o mínimo registado em 2012 (este sistema de monitorização só foi implementado em 2011), num contexto em que os clubes viram aumentar em 15% o montante pago aos agentes, num total de 228 milhões de euros.

"O dinheiro está a circular entre a elite do futebol, mantendo uma mão-cheia de clubes e alguns agentes ricos, e não há dinheiro suficiente a ser canalizado para os clubes mais pequenos", insiste Van Seggelen.

Outro sinal de que a chegada das receitas aos emblemas mais modestos está a falhar decorre do facto de apenas 1,3% do valor das transferências internacionais estar a ser atribuído a título de pagamentos de solidariedade. Esta compensação cifra-se em 5% do total do negócio para jogadores entre os 12 e os 23 anos.

De resto, a defesa dos jogadores é também feita de viva voz pela presidente do sindicato croata, Dario Simic, que considera que os dirigentes adoptam muitas vezes uma atitude dominante sobre os atletas. "Não é verdade que os jogadores estejam destinados a conduzir Mercedes e a viver em casas luxuosas. Só 1% dos jogadores consegue jogar a um nível que lhe assegure um salário decente", adianta.

 

Sugerir correcção
Comentar