Jogadores assustados e a um passo de abandonar o Corinthians

Depois da invasão de sábado às instalações do clube, os atletas têm recebido ameaças por telefone por parte de adeptos e já estudam a possibilidade de dar início a uma greve geral.

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Os adeptos do Corinthians estão a ameaçar jogadores da equipa Yasuyoshi Chiba/AFP

Pânico, revolta e medo são os sentimentos que se hospedaram na vida dos jogadores do Corinthians, após a invasão às instalações do clube, no passado sábado, por adeptos. Barricados no balneário, os atletas além de não terem conseguido evitar algumas agressões, foram incapazes de impedir o roubo de três telemóveis. As ameaças surgem agora através de mensagens de texto. Tudo isto está a fazer com que alguns jogadores equacionem a hipótese de abandonar o clube.

O serviço de informação da Polícia Civil já está a tratar da localização dos adeptos autores das ameaças. No entanto, a intimidação continua. Nem a contratação de sete seguranças particulares, feita pelo Corinthians, descansa os futebolistas. No domingo, a equipa compareceu no jogo frente ao Ponte Preta por causa de “riscos contratuais” do Corinthians com os patrocinadores, a Federação Paulista de Futebol e a Rede Globo de Televisão”.

Na passada segunda-feira, a equipa do Corinthians ainda se treinou – no centro de treinos do Parque Ecológico, onde o episódio ocorreu -, mas a hipótese de uma greve geral é cada vez mais forte. Faltar ao jogo da próxima quarta-feira, contra o Bragantino, para o Campeonato Estadual, está fora de questão, devido à falta de tempo para mobilizar as 19 equipas que participam no campeonato estadual. Portanto, a ideia de um movimento de jogadores liderado por Paulo André, do Corinthians, Edu Dracena, do Santos e Fernando Prass, do Palmeiras, é iniciar a greve só na próxima jornada.

“Os episódios vividos neste último sábado por nós, jogadores, e por todos os funcionários do Sport Club Corinthians Paulista (SCCP), determinam que está para ocorrer uma tragédia sem precedentes no ambiente de trabalho de qualquer clube de futebol profissional no país, e nós não seremos cúmplices disso", explicaram os atletas do Corinthians.

No dia da invasão ao centro de treinos do Parque Ecológico a Polícia Militar foi chamada, mas nenhum dos adeptos foi detido, o que deixou os jogadores ainda mais revoltados: “Admitimos o nosso fracasso dentro do campo nos últimos meses, assim como admitimos um fracasso maior por termos comparecido no último jogo. Poderíamos ter acabado com a situação [nesse dia] e chamado à atenção de todo o país, das autoridades, dos clubes e daqueles que organizam os campeonatos, para uma tragédia que há-de acontecer, caso nada seja feito para acabar com a violência a todos os níveis, no futebol.”

Um cenário como aquele que foi vivido no passado sábado, não é novidade no Brasil, mas foi o suficiente para que a equipa de São Paulo quisesse pôr um ponto final à violência no futebol que se tem verificado no país. “Não vamos admitir mais nenhum desrespeito ao nosso compromisso como profissionais dedicados e honestos com o clube e com os adeptos. A nossa vida e a nossa segurança valem mais do que qualquer contrato ou interesse político/financeiro/particular de terceiros”, pode ler-se no comunicado divulgado ontem.

De acordo com o jornal brasileiro Folha de São Paulo, alguns jogadores já reflectem sobre a sua permanência no clube. A equipa “alvinegra” acredita que a direcção do Corinthians deveria ter sido mais veemente nas reacções após a invasão. Este não é um caso virgem. Em tempos, os excessos de adeptos fizeram com que alguns jogadores se afastassem do clube. Foi o caso de Roberto Carlos, que saiu em 2011, depois do autocarro da equipa ter sido apedrejado. Já Tévez abandonou o Corinthians em 2006, depois de lhe terem vandalizado o carro. Em 2000, Edílson também abandonou, por ter sido encurralado por adeptos num parque de estacionamento.

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