Como uma bola de neve, o escândalo dos abusos sexuais cometidos nos escalões mais jovens do futebol inglês continua a crescer. Depois do testemunho de Andy Woodward publicado pelo jornal The Guardian, o país parece ter despertado para o tema e têm-se sucedido denúncias junto das autoridades. Na prática, serão já 350 as vítimas cujos casos estão sob investigação.

Tudo começou com o modesto Crewe Alexandra (clube que actualmente compete na 4.ª divisão) no centro do furacão e com o antigo treinador Barry Bennell, que já foi condenado na Grã-Bretanha e nos EUA por agressões sexuais cometidas sobre jovens rapazes, em ponto de mira. Mas desde essa confissão pública de Woodward, outros ex-futebolistas ganharam coragem e seguiram-lhe as pisadas.

Nesta quinta-feira, foi a vez de Derek Bell dar a conhecer o seu caso, também nas páginas do The Guardian, explicando os contornos de uma história que também contribuiu para levar à justiça o antigo treinador George Ormond. Foi enquanto atleta do Montagu & North Fenham, clube que recebia atletas dos 12 aos 16 anos, que Bell viveu o drama que agora descreve, acabando por descobrir mais tarde que Ormond prosseguira os seus crimes, mais tarde, no Newcastle.

Ormond acabaria por ser detido em 2001 - já com a ajuda dos testemunhos de Bell - e condenado em 2002 a seis anos de cadeia por 12 crimes de agressão sexual. E entre as suas vítimas contam-se outros futebolistas, como David Eatock, que confessou ao jornal britânico ter vivido durante anos com um sentimento de "culpa e de vergonha" difícil de suportar.

Aos relatos dos dramas pessoais destes ex-futebolistas poderão juntar-se em breve vários outros, já que as autoridades policiais já admitiram terem recebido "um número significativo de chamadas". Entre telefonemas nos últimos dias - graças à disponibilização de uma linha especial para o efeito - e investigações já em curso, estima-se que sejam 350 os casos sob avaliação, de acordo com a BBC.

São actualmente 17 as forças policiais a lidar com casos de abusos sexuais no futebol juvenil, com os telefonemas para a linha aberta pela sociedade de protecção das crianças a ultrapassarem a barreira dos 850 no decurso de uma semana apenas.

Todo este escândalo está a ser acompanhado de perto pela Federação Inglesa de futebol, com muitos clubes a abrirem inquéritos internos por forma a apurar responsabilidades.