Helton, um dos últimos exemplares de uma espécie em vias de extinção

Guarda-redes brasileiro cumprirá em 2015-16 a 11.ª temporada ao serviço do FC Porto. Mas a tendência no futebol português é para os casos de longevidade se tornarem cada vez mais raros

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Helton, de 37 anos, soma 322 jogos com a camisola do FC Porto Miguel Vidal/Reuters

A mudança, no início da temporada 2005-06, da União de Leiria para o FC Porto, permitiu a Helton rechear o currículo – mas não só. O guarda-redes conquistou 18 títulos (sete campeonatos, uma Liga Europa, quatro Taças de Portugal e seis Supertaças) e ascendeu ao estatuto de símbolo do clube. A renovação por mais duas épocas do contrato do internacional brasileiro significa que, a ser cumprida a duração do vínculo, serão no total 12 anos de ligação. Aos 37 anos, Helton prepara-se para cumprir a 11.ª temporada pelos “dragões” e não é só um exemplo de longevidade: encarna também o valor das figuras de referência nos clubes de futebol, que vão escasseando por estes dias.

Olhando para os três ditos “grandes” do futebol português, sobram dedos numa mão para contar os casos de futebolistas cuja ligação aos respectivos clubes seja tão duradoura. O bicampeão nacional Benfica tem Luisão, que completou a 12.ª temporada de “águia” ao peito. Maxi Pereira, cuja renovação do contrato estará a ser negociada pelos dirigentes do emblema da Luz, soma oito anos no Benfica. No Sporting, o homem com mais épocas de ligação ininterrupta ao clube é Rui Patrício: o guarda-redes da selecção portuguesa foi lançado por Paulo Bento em 2006, quando tinha 19 anos, e cumpriu a nona temporada no plantel principal dos “leões”.

A estes quatro exemplos juntam-se os nomes de Briguel e Luís Olim, futebolistas do Marítimo, como únicos “sobreviventes” de um levantamento dos jogadores com mais tempo de ligação aos clubes feito em 2010 pelo PÚBLICO. “É fundamental que existam alguns jogadores com paixão pelo clube que sejam uma referência, que transmitam esse gosto a quem chega”, dizia na altura o ex-futebolista do FC Porto Jorge Costa.

Essa tem sido exactamente a função de Helton nos “dragões”. Apesar de ter feito o menor número de jogos numa época desde que chegou ao FC Porto – mereceu a confiança de Julen Lopetegui em 11 partidas, contra as 13 que disputou sob o comando de Co Adriaanse em 2005-06 – o guardião brasileiro terminou a temporada a titular na baliza e chegou às 322 partidas com a camisola do clube. Já está no top-3 dos futebolistas estrangeiros com mais presenças pelo FC Porto, apenas atrás de Aloísio e Drulovic.

Chegado ao Dragão com 27 anos, Helton mereceu a confiança de todos os treinadores que foram passando pelo banco de suplentes: Co Adriaanse, Jesualdo Ferreira, André Villas-Boas, Vítor Pereira, Paulo Fonseca, Luís Castro e, por fim, Julen Lopetegui. E, da mesma forma, foram vários os guarda-redes que viveram na sombra do internacional brasileiro. Helton começou por superar Vítor Baía na disputa pela baliza e ao longo dos anos teria como suplentes, entre outros, Nuno Espírito Santo, Ventura, Beto, Kieszek, Rafael Bracalli e Fabiano.

Voltando à contagem de 2010, havia 12 futebolistas nos plantéis dos três “grandes” que somavam pelo menos cinco temporadas de ligação ininterrupta ao clube – alguns deles estavam precisamente a iniciar o quinto ano com a mesma camisola. Decorridas cinco épocas, o número de exemplares reduziu-se drasticamente: para além de Helton, Luisão, Maxi Pereira e Rui Patrício, juntam-se-lhes Maicon e Gaitán. Outros ficam próximos, como por exemplo Jardel (quatro anos e meio de “encarnado”), Capel e Carrillo (quatro anos cada em Alvalade).

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