"Gerações de ouro" e riqueza de um país

Uma das atracções dos encontros desportivos prende-se com a competitividade das ligas e com a incerteza dos resultados finais, quer em termos de antecipação dos vencedores de cada momento desportivo quer em termos do vencedor final de cada competição. Este é o sentido final do termo inglês competitive balance que está intimamente ligado a competições com mais audiências, com mais receitas e com maior sustentabilidade.

Para conseguirmos campeonatos competitivos, precisamos que os participantes partilhem características próximas, desde as características de partida (como orçamentos, recursos de infra-estruturas de apoio desportivo e como nível de qualidade dos atletas) até às caraterísticas de desenvolvimento (como centros de alto rendimento, qualidade de treino e nível de organização das competições). Obviamente, esperamos que o nível de competitividade cresça com um nivelamento por cima dos participantes que deverão ter acesso a características próximas no padrão mais elevado. Poderemos, pelo reverso, ter competições mais competitivas se assistirmos a um nivelamento por baixo, fruto da saída dos melhores atletas ou de uma depauperação dos recursos alocados na competição e nas equipas/participantes.

No desporto profissional, o aumento da competitive balance é, de um modo recorrente, fruto de um trabalho acumulado de épocas, que envolve os organismos organizadores das provas, as entidades reguladoras, e a intervenção dos privados (atletas, equipas, direcções) numa estratégia simbiótica. No entanto, de tempos a tempos, somos surpreendidos com a chegada de "gerações de ouro" que comportam consequências muito positivas para as competições, inclusive em termos de equilíbrio competitivo.

Por exemplo, a "geração de ouro" de Riad (1989) e Lisboa (1991) – a geração de jogadores como Luís Figo, João Vieira Pinto, Rui Costa ou Fernando Couto – espalhou-se por 17 clubes das principais competições profissionais portuguesas entre 1989 e 1991. De acordo com a investigação que assinei com César Cima no International Journal of Sport Finance (intitulada Studying the Golden Generations’ effects and the Changes in the competitive balance of the Portuguese Soccer League e publicada neste ano de 2015), essa "geração de ouro", dada a sua dispersão antes da emigração que a afectou a partir de meados da década de 1990, contribuiu para alguns dos campeonatos profissionais de futebol em Portugal de que há registo. Noutros campeonatos, idêntico efeito foi alcançado pela "geração Zidane" no futebol francês (que em 30 anos teve mais de 10 campeões diferentes).

O nosso trabalho implica três chamadas de atenção. As duas primeiras são de foco específico sobre o mundo desportivo; a última é de uma leitura geral. As duas primeiras referem-se à importância, em primeiro lugar, da promoção equilibrada das potencialidades dos campeonatos de formação (nomeadamente, os campeonatos nacionais de juniores) e, em segundo lugar, à defesa/retenção de alguns dos atletas nos clubes de formação nalguns anos de séniores (evitando a emigração precoce de muitos que não têm a reacção/desenvolvimento do Cristiano Ronaldo na chegada ao Manchester). A terceira chamada de atenção recorda uma tautologia – se todos ganham com a emigração dos mais competentes para os mercados de trabalho mais valorizadores das competências, também todos os que ficam podem perder com a saída das gerações de ouro (não só do desporto, mas também da ciência, dos negócios ou da política) para centros de decisão longínquos. Ficaremos mais pobres, ficaremos mais desiguais e deixaremos as Ligas dos Campeões para os outros.

Professor do Departamento de Economia da Universidade do Minho

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