Após conquistar o Mont Ventoux, Chris Froome precisou de oxigénio

Ciclista britânico voltou a ser o rei da montanha e reforçou a liderança no Tour.

Foto
Froome, imparável no Mont Ventoux JEFF PACHOUD/AFP

Quando Chris Froome chegou ao topo de Mont Ventoux, uma das mais míticas escaladas da Volta à França, após 242,5km, os últimos 20 sempre a subir, agarrou-se de imediato a uma máscara de oxigénio. Prova de que o britânico é humano. Mas o que ele fez ontem, na mais longa etapa do Tour, foi algo parecido à precisão de uma máquina. Aproveitando o suporte da equipa, Froome atacou nos momentos certos, deixou a concorrência para trás e ainda ganhou a etapa, reforçando assim a sua liderança e o estatuto de candidato número um a chegar de amarelo a Paris. Não admira, portanto, que tenha ficado sem fôlego.

“Não me lembro de alguma vez ter precisado de oxigénio após uma chegada. Mas, no Ventoux, é normal. Tinha acabado de fazer um esforço total e estava com dificuldades em respirar. Mas fiquei normal passados alguns minutos”, confessou Froome, que neste domingo recuperou o tempo que havia perdido dois dias antes para os seus adversários. 

Antes do Tour entrar nos Alpes e com o dia de hoje para descansar, Froome, aumentou para 4m14s a sua vantagem em relação ao holandês Bauke Mollema (Belkin) e para 4m25s sobre o espanhol Alberto Contador (Saxo-Tinkoff), que não teve pernas para acompanhar o britânico na subida. 

Já sem Alejandro Valverde e Rui Costa nos dez primeiros, restava à Movistar ajudar Nairo Quintana para consolidar a sua posição na geral e foi a equipa espanhola que liderou a perseguição a um grupo de fugitivos. Depois, a Sky entrou em acção, o pelotão fragmentou-se já durante a subida e formou-se um grupo com os homens da frente, enquanto, na cabeça da corrida, o jovem colombiano da Movistar mostrava as suas credenciais de trepador e seguia no encalço do fugitivo sobrevivente, o espanhol Mikel Nieve Iturralde (Euskatel). 

A 7km do topo, o momento decisivo. Praticamente sem se levantar do selim, Froome arrancou a enorme velocidade, deixando Contador e o seu companheiro de equipa Richie Porte para trás. O espanhol não conseguiu acompanhar o ritmo do britânico e entrou em perda, assistindo a Froome encostar em Quintana. Os dois conversaram durante a subida, dando a entender que poderia haver um entendimento, mas Froome quis juntar a etapa ao que já ia ganhar em termos de classificação geral e, a menos de 2km, acelerou outra vez, chegando ao topo isolado, repetindo o feito de ciclistas como Raymond Poulidor, Eddy Merckx ou Marco Pantani. 

“Nem pensava em ganhar a etapa. Pensava que seria o Quintana a ganhar. Eu apenas pensava no tempo. Aos 2km vi que era possível e prolonguei o meu esforço”, disse Froome, que voltou a ganhar uma etapa de montanha — para além de líder da geral, também é o líder do prémio da montanha — depois de já o ter feito nos Pirenéus, cumprindo os últimos 15,65km em 48m35s, um recorde para esta mítica subida que apenas fez a sua 15.ª aparição no Tour e onde já morreu um ciclista, o também britânico Tom Simpson, em 1967. 

Contador, que ainda tinha alguma esperança de se aproximar de Froome, parece conformado com a superioridade do britânico e resignado a não repetir os seus triunfos de 2007 e 2009. “É muito superior a todos os outros na montanha. Demonstrou-o nos Pirenéus e aqui outra vez. Fiz o que podia, subi ao meu ritmo, de forma regular. Vim ao Tour para ganhar, mas o Froome está fortíssimo e em cada mano-a-mano ele distancia-se”, admitiu o ciclista espanhol, que terminou em sexto da etapa, com mais 1m40s que o britânico. O objectivo do espanhol passa agora por tentar chegar ao segundo lugar, depois de quase ter apanhado Mollema na vice-liderança. 

Para os dois ciclistas portugueses, foi um dia mau. Rui Costa (Movistar) chegou em 70.º, a 19m20s de Froome, e desceu para o 29.º posto, a 33m42s do camisola amarela. Quanto a Sérgio Paulinho (Saxo-Tinkoff), foi 121.º da etapa, a 27m36s do vencedor, e subiu para 134.º, a 2h13m09s de Froome.


 
 
 

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