Em tom crítico, Luís Figo retirou candidatura à presidência da FIFA

Ex-internacional português sai da corrida a uma semana das eleições para o organismo que tutela o futebol mundial. “Assisti a episódios que devem envergonhar quem deseja um futebol livre, limpo e democrático”

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Alex Morton/Reuters

A candidatura foi anunciada a 28 de Janeiro e chegou a suscitar algum entusiasmo, mas a uma semana do acto eleitoral surgiu a notícia do abandono: Luís Figo não irá apresentar-se às eleições para a presidência da FIFA, justificando a decisão com episódios “que devem envergonhar quem deseja um futebol livre, limpo e democrático”. “O que vai acontecer dia 29 de Maio em Zurique não é um acto eleitoral normal. E não sendo, não contam comigo”, decidiu o ex-internacional português, recusando-se a participar num processo que descreve como “um plebiscito de entrega do poder absoluto a um só homem”, numa referência ao actual presidente, Joseph Blatter, que concorre a um quinto mandato consecutivo (ocupa o lugar desde 1998).

“Viajei e conheci gente extraordinária, que reconhecendo o valor de muitas das coisas que foram feitas, também se identifica com esta necessidade de mudança, que limpe a FIFA do selo de organização obscura e tantas vezes olhada como espaço de corrupção. Mas nestes meses não assisti apenas a esta vontade, assisti a episódios consecutivos, em diversos pontos do planeta, que devem envergonhar quem deseja um futebol livre, limpo e democrático”, denunciou Luís Figo, num comunicado divulgado ao final da tarde. “Vi presidentes de federação que num dia comparavam os líderes da FIFA ao diabo e no outro subiam ao palco a comparar as mesmas pessoas a Jesus Cristo. Ninguém me contou. Fui eu que presenciei”, acrescentava.

Luís Figo queixa-se também das diferenças de tratamento das várias candidaturas: “Os candidatos foram impedidos de se dirigir às federações em congressos enquanto um dos candidatos discursava sempre sozinho do alto de uma tribuna. Não houve um único debate público sobre os programas de cada um.” E deixa questões sobre todo o processo. “Haverá alguém que ache normal uma eleição para uma das mais relevantes organizações do planeta decorrer sem um debate público? Haverá alguém que ache normal que um candidato não apresente sequer um programa eleitoral para ser sufragado no dia 29 de Maio?” A resposta surge logo a seguir: “Seria normal, mas este processo eleitoral é tudo menos isso, uma eleição. Este processo é um plebiscito de entrega do poder absoluto a um só homem – algo que me recuso a caucionar.”

Este discurso contrasta com a determinação que Luís Figo demonstrava quando anunciou a candidatura: “Ninguém é intocável. Quem pensar assim, está errado. Claro que ele [Blatter] está lá desde 1998 e pode ser o favorito para muita gente. Tenho a esperança e a energia e posso dizer que, para mim, é um desafio fantástico tentar convencer as pessoas a seguirem-me. Do que eu vejo da imagem da FIFA não gosto.” A candidatura de Luís Figo mereceu o apoio da Federação Portuguesa de Futebol e do próprio Governo. “Quer para o desporto português, quer em particular para o futebol português, seguramente que seria uma honra muito grande poder ter alguém com o prestígio do Luís Figo à frente dos destinos daquele que é o desporto-rei hoje em dia”, afirmou na altura o ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares, Marques Guedes.

O abandono de Luís Figo foi tornado público um dia depois de um porta-voz da candidatura do ex-internacional português ter rejeitado qualquer cenário de desistência. E surgiu poucas horas após a desistência de outro candidato, o holandês Michael van Praag. “Após profunda reflexão com as diferentes partes interessadas, Michael van Praag decidiu retirar a sua candidatura à presidência da FIFA e apoiar o candidato Ali Bin Al Hussein”, anunciou a candidatura do presidente da Federação holandesa. Jérôme Champagne e David Ginola não chegaram a conseguir entrar na corrida pela liderança da FIFA porque não obtiveram os apoios necessários.

Assim, as eleições de dia 29 de Maio vão ser disputadas a dois: o príncipe jordano Ali Bin Al Hussein, vice-presidente da FIFA, de 39 anos, concorre contra Joseph Blatter, líder do organismo que tutela o futebol mundial há 17 anos (mas que trabalha na FIFA desde 1975, incluindo 17 anos como secretário-geral). Desalojar o suíço de 79 anos da presidência da FIFA será uma missão praticamente impossível.

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