FIFA promete fiscalização de verbas para desenvolver futebol brasileiro

Organismo que rege o futebol mundial anunciou o investimento de cerca de 86 milhões de euros para impulsionar a modalidade no Brasil.

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José Maria Marin e Jérôme Valcke, em São Paulo Nelson Almeida/AFP

Os efeitos desportivos do Campeonato do Mundo de futebol de 2014 ainda estão para durar, no Brasil. Seis meses depois do final da competição, a FIFA desvendou o programa com o qual pretende ajudar a impulsionar a modalidade no país e que vai permitir canalizar cerca de 86 milhões de euros para 15 dos estados que não acolheram qualquer jogo durante o torneio. E para que não restem dúvidas sobre a correcta aplicação das verbas, os responsáveis do organismo prometem uma monitorização pormenorizada dos gastos.

O acordo que foi assinado tem o nome de Fundo Legado do Mundial e foi nesta terça-feira detalhado por Jérôme Valcke, secretário-geral da FIFA, em pleno Itaquerão, em São Paulo. Do valor total, a maior parcela (52 milhões de euros) vai ser aplicada na construção ou melhoramento de infra-estruturas, ficando 13 milhões reservados para a formação de jovens futebolistas, outro tanto para o futebol feminino e a verba remanescente para dividir entre projectos sociais, clínicos e custos administrativos e de logística.

Até agora, de resto, foram gastos apenas 4,7 milhões de euros dos 86 previstos, essencialmente na construção de um centro de treinos em Belém (com quatro campos, um deles de relva natural), ao lado do Estádio Olímpico. Seguem-se, de acordo com o caderno de encargos, novas unidades de treino em Alagoas, Piauí, Sergipe, Rondônia e Tocantins, sendo que o investimento futuro será cautelosamente escrutinado pelo organismo que rege o futebol mundial. Palavra de Jérôme Valcke: “Temos feedback da informação para o processo de tomada de decisão, não transferimos imediatamente o dinheiro. Ele é gasto gradualmente em projectos específicos”, anotou.

“A FIFA tem um sistema de auditoria permanente para garantir que as verbas são utilizadas dentro das regras. É impossível utilizá-las fora dessas regras. Nem um centavo será utilizado sem que a FIFA saiba como”, acrescentou.

Parceira directa neste acordo, e responsável pela gestão dos fundos, é a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), tantas vezes associada a suspeitas de corrupção. Pela voz do seu presidente, o organismo fez questão de enfatizar os benefícios que a organização do Campeonato do Mundo trouxe ao país. “Através deste Fundo Legado, a Copa do Mundo será um catalisador do desenvolvimento do futebol no Brasil, especialmente no âmbito do futebol para jovens e de base. Temos a certeza de que os brasileiros se lembrarão por várias gerações da Copa de 2014 como um torneio que contribuiu fundamentalmente para o nosso futebol”, destacou José Maria Marin, que será rendido no cargo, durante o mês de Abril, por Marco Polo Del Nero.

Mas a herança que a competição deixa no Brasil também tem levantado críticas, em especial no que respeita à subutilização dos estádios construídos para o efeito — uma preocupação transversal aos países que têm assumido cadernos de encargos ambiciosos para organizar grandes competições desportivas. Uma pesquisa levada a cabo pelo Instituto Dinamarquês para estudo do desporto, em Outubro de 2014, apontou quatro casos como especialmente problemáticos e fortes candidatos ao estatuto de Elefante Branco: o Estádio Nacional, em Brasília, a Arena Amazónia, em Manaus, a Arena Pantanal, em Cuiabá, e o Estádio das Dunas, em Natal.

A este respeito, Valcke admite que nem tudo é um mar de rosas e pede paciência: “Vocês vão poder criticar sempre o facto de nem todos os estádios serem muito utilizados. Mas eles estão a ser utilizados, e vai levar tempo até que sejam utilizados no seu máximo.”

 

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