Este Mundial não é para pobres

Brasileiros que vão aos estádios pertencem às classes mais altas e têm mais estudos.

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Adeptos brasileiros nos estádios representam uma minoria da sociedade Damir Sagolj / Reuters

Ir ao estádio para apoiar o Brasil é coisa para homens, brancos, ricos e com escolaridade superior. Pelo menos no Mundial. Uma sondagem feita por um jornal brasileiro revela que os adeptos brasileiros nos estádios fazem parte de uma elite.

A sondagem foi realizada pela Datafolha, um instituto de sondagens associado ao jornal Folha de São Paulo, nas imediações do Estádio Mineirão, antes do jogo dos oitavos-de-final entre o Brasil e o Chile, e visa traçar um retrato dos brasileiros que assistem aos jogos nos estádios. Para esta partida, os bilhetes mais baratos para o público brasileiro custavam cerca de 36 euros e o mais caro chegava aos 115 euros.

A esmagadora maioria (90%) dos 693 inquiridos pertence às classes A e B – as mais altas em termos de rendimento. Cerca de dois terços (63%) é de raça branca, 24% são mestiços e 6% de raça negra. A larga maioria dos inquiridos disse ter um curso superior (86%), enquanto 13% afirmou ter concluído o ensino secundário. Uma minoria (1%) disse ter apenas o curso fundamental – equivalente ao terceiro ciclo em Portugal.

A comparação com a realidade social brasileira mostra que os adeptos que conseguem um lugar nos estádios do Mundial fazem parte de uma minoria rica, branca e muito letrada. Apenas 31% dos brasileiros pertence às classes superiores e os brancos representam apenas 39%, ultrapassados ligeiramente pelos mestiços (41%). O mais comum, em termos de habilitações, são os brasileiros que estudaram até ao ensino fundamental (39%) ou até ao secundário (45%). O curso superior abrange apenas 16% da população total.

As realizações televisivas bem tentam captar as adeptas mais bonitas, mas a verdade é que são os homens que estão presentes em maioria (75%) nos estádios. Este é outro dado que contraria as tendências nacionais, em que se regista uma maioria de mulheres (52%). A média de idades dos adeptos está nos 34 anos e a faixa etária maioritária é a dos 25-34 anos (44%).

Os receios em relação aos problemas com a organização parecem não ter confirmação no terreno. Cerca de 90% deu uma avaliação positiva nos acessos ao estádio e 79% deram boa nota aos transportes públicos para o Mineirão.

O orgulho em ser brasileiro parece ser condição necessária para assistir aos jogos da “canarinha”. A esmagadora maioria (91%) diz ter mais orgulho do que vergonha em ser brasileiro e apenas 7% afirma o contrário. No entanto, a presidente Dilma Rousseff não merece a aprovação dos “torcedores”, com a maioria (55%) a avaliar a sua gestão como ruim ou péssima. Apenas 20% consideram a governação da sucessora de Lula da Silva como óptima.

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