Estados Unidos da América não são “United States of America”

Compromissos publicitários não se sobrepuseram à tradição olímpica e a cadeia televisiva NBC viu recusado o pedido para alterar o desfile das comitivas nacionais na cerimónia de abertura dos Jogos.

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A cerimónia de abertura vai decorrer no estádio do Maracanã PAWEL KOPCZYNSKI/Reuters

A ordem do desfile das comitivas nacionais, na cerimónia de abertura do Rio 2016, respeitará a ordem alfabética da língua do país organizador – o português, neste caso –, seguindo o protocolo do Comité Olímpico Internacional (COI). Apesar de a estação televisiva NBC, que vai emitir os Jogos para os Estados Unidos, ter pedido para as comitivas serem organizadas pela ordem alfabética inglesa, os regulamentos do COI não permitem essa alteração.

O pedido da NBC deveu-se à tentativa de optimizar as audiências e os lucros publicitários com a transmissão da cerimónia. É que, segundo a ordem alfabética inglesa, os “United States” seriam um dos últimos países a desfilar no Maracanã, permitindo manter os telespectadores “colados” à televisão até à parte final da cerimónia. Por oposição, segundo a ordem alfabética do português, os Estados Unidos (EUA) serão dos primeiros países a desfilar no Rio, terminando relativamente cedo a expectativa em torno da sempre muito aguardada comitiva do gigante americano. Sobrepõe-se, portanto, a tradição à optimização dos lucros financeiros com os Jogos Olímpicos.

Mario Andrada, director de comunicação do Rio 2016, mostrou-se compreensivo perante o pedido da NBC. “Sim, é verdade, nós também queríamos modificar a ordem, pensámos que o pedido era pertinente”, reconheceu, antes de explicar: “O protocolo do COI estabelece que o desfile deva respeitar a ordem alfabética local, pelo que não haverá mudança”. As excepções serão, como é habitual, a Grécia, que, como “inventor” das Olimpíadas, será o primeiro país a entrar no Maracanã, e o Brasil, que, como país organizador, é “guardado” para o último lugar.

O pedido da NBC foi recusado, mas a influência do canal norte-americano já fez “estragos”. As finais das provas de natação estão agendadas para as 23h, no Rio de Janeiro, para que possam ser transmitidas em horário nobre nos EUA. Esta decisão já provocou alguma polémica, depois do descontentamento de nadadores e treinadores com a hora adiantada a que as provas serão realizadas. Já em Pequim 2008, as finais de natação e ginástica artística foram disputadas no período da manhã, geralmente utilizado para as eliminatórias. Na altura, o COI acedeu ao pedido da NBC de privilegiar as transmissões nos EUA, com um fuso horário de mais de 10h para a capital chinesa.

A NBC também já anunciou que, em 2016, não transmitirá toda a cerimónia de abertura, dado que o canal pretende que a emissão comece quando forem 20h na costa Este americana, uma hora depois de já ter começado a cerimónia, no Rio.

Estes pedidos da NBC não são apenas um capricho, dado que, por exemplo, nos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, a cerimónia de abertura foi vista por mais de 40 milhões de americanos. Nas Olimpíadas de Londres, a cadeia televisiva obteve lucros na ordem dos 120 milhões de dólares. Mas os lucros não ficarão por aqui. A NBC – que já transmite os Jogos para os EUA desde 1988 – assegurou as transmissões até às Olimpíadas de 2032, a troco de 12 milhões de dólares. Texto editado por Jorge Miguel Matias

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