Em Sochi, a água é amarela, há hotéis sem chão e é proibido pescar na sanita

São os Jogos Olímpicos de Inverno mais caros de sempre, mas, a dois dias da cerimónia de abertura, ainda há muita coisa por fazer.

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Os pares de sanitas que povoam as casas de banho de Sochi Lucy Nicholson/Reuters

Para um evento que é tido como uma gigantesca e dispendiosa operação de propaganda, as coisas não estão a começar bem para os Jogos Olímpicos de Inverno, que estão prestes a começar em Sochi, na Rússia. Tanto os organizadores locais como os responsáveis do Comité Olímpico Internacional garantem que tudo está pronto, mas não é o que diz a imprensa internacional que está nesta estância balnear do mar Negro. A dois dias da cerimónia de abertura, Sochi, dizem os jornalistas, é um estaleiro e nem o mais básico parece estar pronto.

Shaun Walker, correspondente do The Guardian em Moscovo, chegou a Sochi há dois dias e, no hotel que tinha marcado, não havia qualquer registo da sua reserva. E não havia recepção. “O meu hotel em Sochi não está pronto e não sabem da minha reserva… Acho que vou ao bar enquanto eles resolvem o assunto”, escreveu Walker no Twitter, acompanhando o seu tweet com uma foto do bar do hotel. Esperem, o bar do hotel também não está pronto.

“Os quartos não estão prontos, construção vai terminar ‘em breve’. Existem ‘planos para ter wi-fi no futuro’. Muito útil num hotel para jornalistas”, acrescenta Walker pouco depois da chegada. Durante a noite, Walker acordou com um alarme de fogo no hotel. O hotel foi evacuado e, 15 minutos depois, disseram que era um exercício. O hotel de Kevin Bishop, jornalista da BBC, ainda não tinha chão. “Mas tinha esta fotografia de boas-vindas”, escreve Bishop. De quem era a fotografia? De Vladimir Putin, o Presidente russo.

O Twitter tem sido o meio privilegiado para divulgar as idiossincrasias organizativas de Sochi, que são os Jogos de Inverno mais caros de sempre, com um investimento a rondar os 37 mil milhões de euros. Este investimento não parece ter sido suficiente para que houvesse água corrente no quarto de Stacy St. Clair, jornalista do Chicago Tribune. “A recepção do hotel diz que, quando voltar a ter água, não lave a cara com ela porque contém algo muito perigoso”, escreve a jornalista. O seu quarto teve água corrente, mas o que saía da torneira era amarelo a puxar para o castanho e pouco parecido com água. St. Clair acabou a lavar a cara com água engarrafada. Talvez seja whisky o que está a sair da torneira, como sugere Sean McIndoe, outro jornalista norte-americano.

As lâmpadas também parecem estar em falta nos hotéis de Sochi e transformaram-se em artigo de mercado negro. Dan Wetzel, da Yahoo Sports, propõe um negócio aos colegas: “A quem estiver em Sochi: tenho três lâmpadas. Troco por uma maçaneta. Oferta real.” Wetzel foi um dos muitos que ficaram com a maçaneta na mão quando tentou entrar no quarto. Outros que conseguiram abrir a porta do quarto descobriram operários a dormir na cama e de um dos quartos, como conta Jay Onrait, da Fox Sports, saiu um cão.

As casas de banho em Sochi serão, talvez, o maior fenómeno viral destes Jogos Olímpicos. Não se sabe com que objectivo, mas as sanitas das instalações olímpicas foram instaladas aos pares. Algumas têm até cadeiras “para o júri”, como sugere um utilizador do Twitter chamado Russian Market. Outro grande êxito das redes sociais são os pictogramas das casas de banho sobre o que não se pode fazer. E uma das regras fundamentais das casas de banho olímpicas é: não pescar na sanita. O que só pode significar que há cardumes de peixes a viver nos canos de Sochi.

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