Durante sete dias, Portugal será a Meca da orientação europeia

A elite da orientação pedestre reúne-se a partir de quarta-feira em Palmela para a mais relevante prova da especialidade disputada em território português. Por cá, a modalidade tem conquistado seguidores ano após ano

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Thierry Gueorgiou, bicampeão Mundial Reuters

“Nasci para fazer orientação”. Não serão muitos os atletas que poderão dizer o mesmo, mas na Noruega, uma superpotência da modalidade, Olav Lundanes cedo descobriu o caminho a seguir. O bicampeão mundial de longa distância (2010 e 2012) é uma das figuras de proa do Campeonato da Europa de orientação, que entre quarta-feira e o dia 16 de Abril tomará conta de parte do território de Palmela e Sesimbra. É a maior prova da especialidade realizada em Portugal, com 312 atletas de 30 países à procura do melhor trajecto.

Este é o ponto alto de uma modalidade que tem dado sinais de franco e continuado crescimento ao longo dos anos, num país que acordou tarde para o fenómeno. Reza a história que a primeira prova organizada de orientação terá acontecido na cidade norueguesa de Bergen, em 1897. Em Portugal, a sociedade civil só tomou contacto com ela em 1980, mas desde então os números não têm parado de subir: 670 atletas federados em 1996, 1190 em 2000, 2018 em 2005, 2752 na actualidade.

Para os menos familiarizados com esta prática desportiva, aqui fica um resumo rudimentar de um percurso de orientação: é constituído por uma partida assinalada com um triângulo num mapa, um conjunto de pontos de controlo, de passagem obrigatória, identificados por círculos e numerados na ordem pela qual devem ser visitados e por uma meta, simbolizada por um duplo círculo. Os atletas partem para o desafio munidos do mapa fornecido minutos antes pela organização e de uma bússola.

A partir daí, é a capacidade atlética dos participantes e a rapidez e precisão na leitura das indicações a ditar a lei. Thierry Gueorgiou, também ele bicampeão mundial de longa distância (2011 e 2013) e heptacampeão de média distância (2003, 2004, 2005, 2007, 2008, 2009 e 2011), deu recentemente uma entrevista em que expunha algumas das complexas técnicas utilizadas, que foi apurando ao longos dos anos. A partir de quarta-feira, também o francês terá oportunidade de as pôr em prática em território português.

“É a prova mais importante realizada em Portugal. Houve já um Campeonato do Mundo de orientação em BTT, mas acaba por ser menos importante do que este Campeonato da Europa”, explica ao PÚBLICO Jorge Simões, da Federação Portuguesa de Orientação (FPO). Os custos da organização também o atestam: para o Mundial da variante BTT despendeu-se uma verba cinco vezes inferior à investida para a competição deste ano, que prevê um total de 17 mapas para todo o evento.

Só a taxa de organização que a FPO tem de pagar à federação internacional da modalidade para acolher o evento ronda os 25 mil euros, fora os gastos associados à logística. Ainda assim, tendo em conta o impacto que o evento terá na região (as unidades hoteleiras mais próximas estarão lotadas por esta altura), “é expectável um saldo final positivo”. 

Muitas das selecções de topo, de resto, nos últimos meses já visitaram Portugal para ciclos de treino específicos e para se familiarizarem com algumas das nuances do território. “Há sempre algumas variações de cartografia. Nós temos um certo tipo de vegetação, por exemplo, que não existe em terreno nórdico. Nesse sentido, é importante a adaptação”, explica Jorge Simões.

Por razões históricas, os nórdicos assumirão o papel de favoritos neste Europeu, que se dividirá entre Orientação Pedestre e Orientação de Precisão (que abrange também atletas portadores de deficiência) e contará, na primeira vertente, com 18 atletas portugueses. O objectivo? A obtenção de duas finais A e um top 20 na estafeta, de acordo com o plano de alto rendimento traçado pela FPO para 2014. À espera do vencedor, já se sabe, não há um prémio monetário, mas uma medalha de ouro e o prestígio que ela carrega.

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