Do céu ao inferno em ano e meio

O Dnipro lutou pela conquista da Liga Europa. Um ano e meio depois, luta pela permanência na Liga ucraniana.

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Os jogadores do Dnipro num jogo da caminhada rumo à final da Liga Europa em 2015 Valentyn Ogirenko/Reuters

A história era tão boa que dava para desconfiar que ia acabar mal. E acabou. Há cerca de ano e meio, o Dnipro protagonizava uma espécie de conto de fadas. Sobrevivendo ao caos que se vivia na altura na Ucrânia, com a invasão da Crimeia pelas tropas russas, o clube da cidade de Dnipropetrovsk foi capaz de chegar à final da Liga Europa mesmo sendo obrigado a jogar em Kiev, longe dos seus adeptos. Pelo caminho fez tombar emblemas como o Olympiacos, o Ajax, o Club Brugge e o Nápoles, este último na meia-final. Caiu na partida decisiva perante o Sevilha. Agora, 18 meses depois, o surpreendente Dnipro luta por não descer de divisão.

O plano começou a inclinar-se logo a seguir à final de Varsóvia. O “craque” da epopeia europeia, Yehven Konoplyanka, deixou o clube um mês após a final. Jaba Kankava, que tinha 135 jogos com a camisola do emblema ucraniano, rumou ao Reims na mesma altura, e o goleador Nikola Kalinic seguiu para a Fiorentina.

Mas não era apenas no relvado que os problemas começavam a surgir. Em Dezembro de 2015, a UEFA colocava a nú os maus lençóis em que o Dnipro dormia. Em comunicado, o organismo que tutela o futebol europeu afastava o clube ucraniano das provas europeias por dívidas a terceiros.

Estava à vista de todos a gestão desastrosa do oligarga Igor Kolomoisky, que enriqueceu rapidamente com o desmantelamento da URSS mas que nunca escondeu o desejo de se colocar a par de outros compatriotas que também compraram clubes, como Rinat Akhmetov, o homem mais rico da Ucrânia e dono do Shakhtar Donetsk, ou os irmãos Surkis, Igor e Grygoriy, proprietários do Dínamo Kiev.

A crise ucraniana, contudo, afectou a robustez financeira de Kolomoisky, que ainda arriscou uma carreira política e se tornou governador da região de Dnipropetrovsk em 2014.

A fuga dos melhores jogadores e o descalabro financeiro da gestão de Kolomoisky, que impediram a compra de futebolistas que reequilibrassem a equipa, levaram o Dnipro ao precipício e, embora o clube tenha conseguido limitar os estragos na época de 2015-16, terminando no terceiro lugar do campeonato, o colapso desportivo era uma fatalidade anunciada.

Nesta época o Dnipro é uma caricatura da equipa que chegou à partida decisiva da segunda competição europeia de futebol há apenas um ano e meio. A tentar escapar à zona de despromoção, sofreu mais um rude golpe no mês passado quando a federação ucraniana condenou o emblema por salários em atraso, retirando-lhe seis pontos. Nono classificado no campeonato, com 11 pontos, a 27 do líder Shakhtar e a oito da salvação, o Dnipro definha.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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