Depois da violência, o Brasil discute o racismo no futebol

Tinga, actual jogador do Cruzeiro e antigo futebolista do Sporting, foi visado num encontro da Taça dos Libertadores.

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Tinga durante o jogo em Huancayo Luka Gonzales/AFP

A violência no futebol tem estado na ordem do dia no Brasil, a quatro meses do início do Mundial 2014. Mas um episódio na quarta-feira trouxe para o centro das atenções o racismo nos estádios: Tinga, médio do Cruzeiro que representou o Sporting entre 2003 e 2005, foi alvo de actos racistas por parte dos adeptos peruanos do Real Garcilaso, numa partida da Taça dos Libertadores. O impacto mediático foi tal que a própria presidente Dilma Rousseff declarou o Mundial 2014 como “a Copa contra o racismo”.

O Cruzeiro esteve a ganhar no terreno do Real Garcilaso, mas a equipa peruana deu a volta ao resultado no segundo tempo. A segunda parte também marcou a entrada no jogo de Tinga, para o lugar de Ricardo Goulart. O que se seguiu envergonha o futebol: cada vez que o médio tocava na bola ouviam-se nas bancadas sons a imitar macacos.

“Eu queria não ganhar todos os títulos da minha carreira e ganhar o título contra o preconceito, contra esses actos racistas. Trocaria por um mundo com igualdade entre todas as raças e classes”, disse Tinga no final da partida.

Em comunicado publicado na página oficial na Internet, o Cruzeiro repudiou os actos racistas dos adeptos peruanos.

Através da rede social Twitter, a presidente Dilma Rousseff considerou “lamentável” o episódio de racismo contra Tinga. “Hoje o Brasil inteiro está fechado com o Tinga. Acertei com a ONU e a FIFA que a nossa Copa das Copas também será a Copa contra o racismo porque o desporto não deve ser jamais palco para o preconceito”, acrescentou.

O ministro brasileiro do Desporto, Aldo Rebelo, revelou já ter pedido “providências enérgicas” ao presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol): “No ano em que o mundo inteiro se une para disseminar uma mensagem contra o preconceito durante a Copa do Mundo do Brasil, é inconcebível o comportamento que vimos em Huancayo. Tinga tem todo o nosso apoio na luta contra o racismo, que, esperamos, será combatido com firmeza pela Conmebol”.

A visita do Cruzeiro ao Peru ficou marcada por vários outros incidentes para além dos actos racistas. O treino da “raposa” no dia antes do jogo foi interrompido por uma falha na iluminação do estádio. A gasolina nos geradores que mantinham a iluminação acesa tinha acabado, explicaram os responsáveis do Real Garcilaso.

O relvado do Estádio Huancayo – localizado a uma altitude de 3200 metros – não esteve à altura da partida, muito irregular e cheio de buracos. E no intervalo do encontro, quando regressou ao balneário, o Cruzeiro teve (mais) uma surpresa desagradável: não havia água.

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