Defeso dos três "grandes": o empréstimo é a alma do negócio

Benfica voltou a gastar muito, Sporting gastou e recebeu mais do que o habitual e o FC Porto vacilou nas vendas.

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Joel Campbell foi uma das contratações sonantes deste mercado de Verão Patrícia de Melo Moreira/AFP

Neste mercado de transferências, um ponto comum entre os três “grandes” foi a aposta no empréstimo de jogadores credenciados. O Benfica, com Danilo, o Sporting, com Joel Campbell, Marcelo Meli e Markovic, e o FC Porto, com Óliver Torres e Diogo Jota, recebem a ajuda temporária de atletas com provas dadas no futebol nacional e internacional.

Em termos financeiros, este defeso, em Portugal, foi o mais gastador dos últimos anos. Os três “grandes”, em conjunto, desembolsaram cerca de 100 milhões de euros, na aquisição de reforços. Em sentido contrário, entraram, nos cofres dos três principais clubes nacionais, cerca de 150 milhões de euros.

Benfica: dois titulares a sair, vários a entrar

Dos três “grandes”, o Benfica foi o que mais gastou neste mercado de Verão. Tudo somado, investiu mais de 40 milhões em reforços, sendo certo que, desse valor, cerca de metade não foi aplicado em caras novas, mas na aquisição definitiva de Mitroglou (sete milhões) e na compra do restante passe de Jiménez (12). 

O campeão nacional subiu a média de gastos dos últimos anos (35 milhões, em 2014, e 19, em 2015), com uma grande contribuição dada pela contratação de Rafa Silva (16,4 milhões), Franco Cervi (quatro) e Óscar Benítez (cerca de três milhões).

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Francisco Leong/AFP

Mas as “águias” também receberam alguns presentes mais económicos. O peruano André Carrillo, o sérvio Andrija Zivkovic e o croata Branimir Kalaica chegaram a custo zero, sendo que Danilo Barbosa (empréstimo), André Horta (menos de um milhão) e Guillermo Celis (dois milhões) também não representaram grandes encargos financeiros.

No prato da balança das vendas, os “encarnados” facturaram quase 70 milhões de euros, com as saídas de Gaitán (25 milhões), Renato Sanches (35 milhões), Carcela (quatro) e Bebé (1,5), e ainda com os empréstimos de Talisca e Djuricic.

Saldo: 68,5 - 44 = 24,5 milhões de euros (valores aproximados, dado que os montantes de algumas transferências não foram confirmados)

Uma fome que deu em fartura

Rui Vitória perdeu Gaitán e Renato Sanches. Os dois jogadores eram peças fulcrais no “onze” do Benfica, que não demorou a arranjar potenciais substitutos.

Para render Gaitán, foi uma autêntica “chuva” de candidatos. Carrillo poderá ser opção em ambos os corredores, enquanto Cervi chegou como “homem para a esquerda”, Zivkovic como “homem para a direita” e Rafa como opção na esquerda ou ao centro. Zivkovic é uma das principais esperanças do Benfica, que terá pago um prémio de assinatura bastante elevado para ganhar a corrida por um jogador muito cobiçado no mercado europeu.

No Benfica, a fome deu mesmo em fartura. Para os corredores laterais, Rui Vitória tem Pizzi, Salvio, Rafa, Cervi, Carrillo, Zivkovic e Gonçalo Guedes. Pizzi, Rafa e Guedes poderão contar também para posições mais interiores.

No meio-campo, Danilo rivalizará com André Horta, pelo lugar que era de Renato Sanches, enquanto Kalaica será opção de recurso, no centro da defesa.

Sporting: se entra mais, sai mais

É de La Palice, mas funciona tanto para o cidadão comum, como para o futebol. Neste mercado de transferências, o Sporting gastou mais do que o habitual, mas também facturou mais do que o habitual.

Feitas as contas, o clube “leonino” gastou cerca de 26 milhões em reforços, mas facturou quase 75 milhões em vendas. O máximo de receita (com jogadores) conseguido pelo Sporting tinham sido os cerca de 30 milhões, em 2007, impulsionados pela venda de Nani.

No que diz respeito às entradas, e com Bas Dost à cabeça (custou 10 milhões, que podem chegar aos 12), o Sporting gastou mais de três milhões nas aquisições de Alan Ruiz e Bruno Paulista (pago neste ano), enquanto Elias e Castaignos foram comprados por 2,5 milhões de euros. Jogadores como Petrovic, Douglas e Spalvis ficam no grupo dos “baratos” (valores a rondar os dois milhões), enquanto Marcelo Meli chegou por empréstimo e Beto a custo zero.

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Nas contas do “leão” não entram dois reforços dos quais se espera grande impacto desportivo: Joel Campbell e Markovic chegaram por empréstimo de dois “tubarões” ingleses, sendo que a imprensa desportiva tem avançado que o salário dos jogadores nem será suportado, na totalidade, pelo Sporting.

No capítulo das vendas, Bruno de Carvalho tem sido elogiado pela sagacidade negocial e pela intransigência na hora de libertar os seus activos. O Sporting conseguiu vender Slimani (com 28 anos e sem experiência num dos principais campeonatos) por 30 milhões de euros. A outra grande contribuição financeira foi dada por João Mário que, depois do Euro 2016, ficou (ainda mais) nas bocas dos “tubarões”. O Inter Milão pagou 40 milhões pelo médio campeão europeu (com a possibilidade de deembolsar mais cinco), enquanto o brasileiro Naldo foi vendido ao Krasnodar por 4,5 milhões de euros.

Saldo: 75 - 26 = 49 milhões de euros (valores aproximados, dado que os valores de algumas transferências não foram confirmados)

Polivalência dá várias opções a Jesus

Jorge Jesus perdeu três titulares: Slimani, João Mário e Téo Gutierrez. E não perdeu só três titulares. Perdeu o seu principal goleador, um campeão europeu e um jogador problemático, mas que se mostrou eficaz (15 golos em 2015/16).

Para a frente chegaram Bas Dost, André e Castaignos. Dost será o “novo Slimani”. Com um perfil semelhante, o holandês terá mais técnica, mas menos agressividade defensiva. O valor pago ao Wolfsburgo não é baixo, mas é justificado pela veia goleadora que Dost já mostrou na sua carreira. Como outras opções para a frente de ataque chegaram André e Castaignos, dois jogadores que prometeram bastante, no início das carreiras, mas que tardam em confirmar o potencial.

Para o lugar de João Mário, chegaram Joel Campbell, Lazar Markovic, Meli e Elias. Logo pelas características tão diferentes destes quatro jogadores, percebe-se a variedade de opções para Jorge Jesus. Campbell e Markovic podem ser opções nas alas ou como segundo avançado (no lugar deixado em aberto por Téo), enquanto Meli e Elias podem assumir-se como “backup” de Adrien ou como flanqueadores, embora menos verticais. A chegada de Elias era entendida, de resto, como a substituição de Adrien, que acabou por não sair do plantel.

Chegou ainda Alan Ruiz, que ainda não confirmou as credenciais que levaram os “leões” a pagar cerca de cinco milhões pela sua contratação. O argentino pode ser opção numa das alas, embora renda mais como segundo avançado.

Em suma, Jesus pode “brincar”, de várias formas, com as suas peças ofensivas. Markovic, Campbell, Bryan, Bruno César, Alan Ruiz e o próprio Gelson têm capacidade para fazer tanto a posição deixada por João Mário, como a deixada por Téo. Jesus consegue assim soluções técnicas e tácticas numa abundância que não existia.

Na defesa, Douglas – um “amor” antigo de Jesus – ocupa a vaga deixada pela venda (e que venda) de Naldo. Na baliza, Beto será o suplente de Rui Patrício.

FC Porto: saldo negativo em Verão com “chapa seis”

Dos três “grandes”, o FC Porto foi o que teve o defeso mais tranquilo e foi o único a ter saldo negativo entre compras e vendas, sobretudo porque facturou menos do que o habitual. O valor que entrou, em vendas, foi o mais baixo da última década.

Uma época pouco conseguida, no ano passado, colocou poucos “dragões” na rota dos grandes clubes. Brahimi e Danilo eram apontados como os mais cobiçados, mas ambos ficaram no Dragão. O caso do argelino é até surpreendente, dado que parecia não contar para Nuno Espírito Santo. O facto é que não houve acordo e Brahimi fica no Porto.

No dinheiro gasto em compras, houve “chapa seis”. O FC Porto adquiriu Felipe, Alex Telles, Miguel Layún, Depoitre e Boly, todos por valores a rondar os seis milhões de euros. Chegaram ainda Óliver Torres e Diogo Jota, por empréstimo, e João Carlos Teixeira, a custo zero.

No capítulo das vendas, o FC Porto não esteve particularmente activo, especialmente depois do encaixe milionário da época passada, embora tenha conseguido amealhar algum dinheiro com a venda de Maicon e os empréstimos de Aboubakar e Suk. Por cedência, saíram ainda Martins Indi, Bueno, Marega e José Ángel.

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Miguel Riopa/AFP

Saldo: 9 - 30 = -21 milhões de euros (valores aproximados, dado que os valores de algumas transferências não foram confirmados)

Retoques na defesa e fé nos “miúdos”

Apesar de um Verão tranquilo, sem contratações sonantes, o FC Porto de Nuno será muito diferente do de Lopetegui, ainda que nenhuma das peças-chave tenha saído.

A defesa foi o sector mais reforçado. Chegou Alex Telles, um lateral muito ofensivo, que já ganhou o lugar numa posição que até estava bem servida, com Layún. Felipe foi contratado para fazer dupla com Marcano, enquanto Boly chegou nas últimas horas de mercado, numa opção que pareceu um recurso à opção preferencial: Mangala, que foi para o Valência.

O avançado Depoitre chegou para o lugar deixado em aberto por Aboubakar e será a sombra do jovem André Silva, que tão bem tem dado conta de si.

Um dos grandes reforços não custou dinheiro (pelo menos, não agora). Otávio regressou do empréstimo ao Vitória de Guimarães e assumiu o lugar que era de Brahimi.

Perante a falta de criatividade do meio-campo, os “dragões” movimentaram-se nos últimos dias de mercado e conseguiram dois empréstimos, de dois jogadores jovens: Óliver Torres deverá ganhar o lugar a André André como médio mais ofensivo, enquanto Diogo Jota será uma opção extra a Otávio e Corona, nas alas, juntando-se ao “regressado” Brahimi e ao “esquecido” Varela.

Texto editado por Nuno Sousa

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