Cumprida parte da história, o badminton quer ir mais além

É repetente nestas andanças o duo que vai representar Portugal nos Jogos. Pedro Martins está determinado a deixar a sua marca na modalidade. Telma Santos aponta a uma despedida que confirme o legado que deixa para trás.

Foto
Portugal terá dois representantes no badminton no Jogos do Rio 2016 JONATHAN NACKSTRAND/AFP

Unir primeiro para separar depois. É este o efeito que os Jogos do Rio 2016 vão provocar no percurso de Telma Santos e Pedro Martins, os dois representantes do badminton português na competição. Em comum, têm a herança desportiva familiar, uma estreia olímpica em 2012 e o mesmo 17.º lugar obtido em Londres, mais gratificante no caso da atleta de Peniche por ter sido obtido à custa da primeira vitória de sempre para Portugal na modalidade. A separá-los estará o futuro pós-Brasil: Telma vai arrumar a raqueta e o volante, enquanto Pedro continuará a perseguir o objectivo de chegar ao topo da pirâmide.

Já lá vão cinco, cinco presenças consecutivas de Portugal no calendário olímpico de badminton. O ciclo começou em 2000, com Marco Vasconcelos, que assinou a proeza de acumular três participações seguidas (Sydney, Atenas e Pequim) – na última contou também com a companhia de Ana Moura –, e prosseguiu com Telma Santos e Pedro Martins. Até hoje. Mas antes, mais concretamente em 1992, já as bases tinham sido lançadas, quando Ricardo Fernandes e Fernando Silva integraram a comitiva portuguesa nos Jogos de Barcelona.

Foi essa edição da prova que, de certa forma, contribuiu para a escalada na carreira de Telma. Sobrinha de Fernando Silva, começou por se desmultiplicar por diferentes desportos, desde o futebol ao voleibol, passando pelo basquetebol, mas acabaria por se fixar no badminton e por fazer uma promessa precoce ao tio: “Um dia também vou chegar aos Jogos Olímpicos”.

Com o 33.º aniversário marcado para 1 de Agosto, a atleta do Club Badminton IES La Orden procura, no Rio de Janeiro, uma despedida em grande para uma carreira que já conta com 341 jogos e 222 vitórias e que, antes da qualificação para os Jogos, chegou a estar em risco, depois de duas operações ao joelho direito. “Houve quem dissesse que estava acabada e não iria voltar a conseguir jogar badminton de alto nível. Pensar que já não era possível deu-me força para continuar”, confessou a penichense numa entrevista ao Jornal de Leiria, em Maio.

Certo é que Telma não só voltou ao activo como deu uma prova de vida, confirmada pelo triunfo nos Internacionais da África do Sul, em Dezembro passado. Com a retracção dos apoios – mais um sintoma de uma crise financeira que continua a afectar de forma mais severa as modalidades menos populares -, foi encurtado também o ciclo competitivo com vista ao apuramento, que se resumiu a 13 torneios e a um conjunto alargado de sacrifícios pessoais. 

Instrutora de fitness, a atleta que ganhou o primeiro título sénior em 2000, quando se sagrou campeã nacional, é forçada a conciliar o badminton com um calendário profissional exigente, o que não lhe deixa uma folga de mais de hora e meia por dia (quase sempre da parte da manhã) para os treinos, sob a supervisão de Luís Carvalho. Um treinador com uma ligação de longa data à família, ou não tivesse já acompanhado Fernando Silva em 1992.

Por isso, quando tenta antecipar o momento em que entrará em campo para a segunda aventura olímpica, Telma Santos sacode a pressão: “Sei que posso fazer um bom resultado consoante a adversária que me calhar. Em 2012, calhei com a campeã do mundo de juniores e esse era aquele jogo em que eu ia desfrutar. E o segundo jogo era aquele em que eu sabia que podia fazer história para Portugal e consegui. Agora o objectivo passa por dar o máximo”, expôs, num recente encontro com jornalistas.

Se a 67.ª jogadora do ranking mundial, que tem como ritual ouvir música antes de começar a competir, garantiu já um lugar na história dourada do badminton português (com o tal triunfo, em Londres 2012, sobre Thilini Jayasinghe, do Sri Lanka), para Pedro Martins o desafio é outro. Ir além do que alcançou em Londres, onde perdeu às mãos do conceituado Peter Gade no jogo de estreia. De resto, quando lhe perguntam qual a fonte de motivação que o alimenta, é taxativo: “Ser o número um, lutar pelo primeiro lugar”.

Mas para chegar a este patamar, a uma segunda presença consecutiva entre a elite do badminton, teve de percorrer um longo trajecto, que começou ainda criança, quando, aos seis anos, foi contagiado pelo entusiasmo do pai, que praticara uma modalidade com alguma tradição no concelho de Lagoa. “Experimentei nessa altura, adorei e depois fiquei viciado neste desporto”, descreveu o algarvio, ao site a Federação Mundial de Badminton (BWF).

Com a prática, com o treino, com a disciplina veio a subida de rendimento e percebeu-se quão séria poderia ser a sua carreira quando terminou as épocas de 2007-08 e 2008-09 como líder do ranking júnior da Europa, tornando-se no primeiro português a alcançar a proeza. A caminhada competitiva começara pouco antes, em 2006, no campeonato nacional. Uma década depois, está de novo no mapa olímpico, graças a um ano em que conquistou os Internacionais do Brasil e da Jamaica, ambos em Março, e em que se aproximou do 52.º lugar de 2011, que continua a ser o seu melhor ranking de sempre.

Para quem não tem sequer uma amostra de concorrência a nível interno (não perde um jogo em Portugal há oito anos), e para quem teve de superar uma lesão improvável que lhe afectou a cervical e o impediu de treinar durante um longo período, Pedro Martins tem-se habituado a fintar as previsões. Talvez por isso não se coíba de pensar em grande, mesmo com o tema é o desempenho nos Jogos. “É pensando mais além que chegamos mais além”.

Atletas

Telma Santos (2.ª participação) singulares

Pedro Martins (2.ª participação) singulares

 

Sugerir correcção
Comentar