Chapas de zinco e camas de casal para contratar reforços

Pela primeira vez no futebol da Guiné-Bissau, uma mulher foi eleita para a presidência de um clube.

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O futebol na Guiné-Bissau voltou este ano DR

Mais uma vez, a Guiné-Bissau vai ver a Taça das Nações Africanas (CAN, na sigla francesa) à distância. A equipa nacional ficou fora da corrida ao ser derrotada (0-2 no conjunto das duas mãos), logo na primeira ronda da qualificação, frente aos Camarões (equipa quatro vezes campeã de África). Carlos Manuel, que assumiu o comando técnico da equipa alguns dias antes do jogo da segunda mão, em Junho (sucedeu a Norton de Matos, actual treinador da equipa B do Benfica), não foi capaz de evitar a repetição do resultado da primeira partida: derrota por 0-1. Foi o final da caminhada para os djurtus, que, na mais recente actualização do ranking da FIFA, ocupam o 174.º posto.

Foi uma desilusão para um país que vive intensamente o futebol: “É o desporto nacional. Em qualquer hora, em campos improvisados, vêem-se miúdos a jogar à bola”, disse ao PÚBLICO, por email, o comentador desportivo Júlio de Oliveira.

Mas nem tudo são más notícias. Em Dezembro, algo mudou no futebol guineense. Maria da Conceição Évora - dirigente local, jornalista, a primeira mulher a dirigir a Rádio Nacional e também a primeira chefe de gabinete de um Presidente da República - foi eleita para dirigir o Atlético de Bissorã. Algo inédito no futebol da Guiné-Bissau. “É um exemplo para o país e a imagem dela ajudará a promover a inclusão das mulheres no desporto”, apontou Etyandro Ucha, responsável pelo portal Bola na Bantaba. O primeiro desafio da presidente São Évora, como é conhecida, foi preparar o Atlético de Bissorã (campeão em título) para disputar a Supertaça da Guiné-Bissau. No final do ano, a equipa defrontou o Desportivo de Mansabá, emblema do escalão secundário e detentor da Taça. O Atlético de Bissorã saiu derrotado (0-1).

Um percalço para um clube que não escapa às dificuldades que afligem o futebol guineense. “Há falta de organização e de dinheiro”, explicou Júlio de Oliveira, acrescentando: “Por norma, é o presidente que arca com as despesas, como prémios de jogo ou viagens e refeições quando jogam fora. Os jogadores têm as suas vidas e jogar futebol é uma forma de ganharem mais alguma coisa.”

“Não há salários e, nas transferências entre clubes, não há grandes somas em jogo. Um jogador pode ser aliciado com uma televisão, umas chapas de zinco, uma cama de casal...”, contou Júlio de Oliveira.

Depois de um ano sem campeonato - “a Federação não se entendia e passou o tempo em discussões e queixas”, disse o comentador desportivo -, a Liga foi retomada no início deste ano. E a instabilidade que se vive no país não abala a confiança dos responsáveis pelo futebol. Manuel Nascimento Lopes, presidente da Federação de Futebol da Guiné-Bissau, acredita em melhores dias: “Eu sou uma pessoa optimista. Digo e repito que a Guiné-Bissau vai estar presente na próxima CAN”. Veremos se assim é, em 2015.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias e campeonatos de futebol periféricos

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