Champions League – o dinheiro e a felicidade!

A selecta Champions League é uma competição de referência. Esta semana joga-se a última jornada da fase de grupos. Para alguns emblemas, será a derradeira oportunidade de continuarem em prova na maior competição do universo futebolístico europeu, reforçarem os seus cofres com o prémio de passagem para os oitavos-de-final e aumentarem seu prestígio.

Algumas equipas jogam cartada decisiva. É o caso do Benfica, que vai ao Camp Nou em busca de conseguir algo aparentemente utópico: bater o Barcelona. Na Catalunha defrontam-se o Benfica, a melhor equipa do mês de Novembro para a IFFHS (Federação Internacional de História e Estatística do Futebol), e a mais que provável melhor equipa do mundo do ano corrente para o mesmo organismo, o singular Barcelona.

Será mais que um jogo de futebol!  Ambos se vão bater pela vitória, o Barcelona porque a sua grandeza e a sua história a isso obrigam e o Benfica para depender apenas de si próprio. Enfrentar-se-ão projectos, ideias, filosofias, enfim paradigmas distintos! De um lado, o Barcelona, bandeira regional do orgulho catalão, utiliza cada vez mais jogadores regionais e um plantel maioritariamente da sua cantera, e do outro, um Benfica no apogeu do recurso a jogadores estrangeiros. Apesar de o clube ter anunciado recentemente o retorno a uma política de aproveitamento da sua própria formação, como resposta ao contexto económico-financeiro, nunca jogaram tão poucos portugueses no seu onze inicial. Curiosamente, até 1979 os "encarnados" só incluíam portugueses nas suas equipas…

Será também um embate de identidades e dinâmicas de jogo díspares. O Barcelona assenta o seu jogo em características muito próprias: ofensivo, três atacantes com grande mobilidade, circulação de bola e jogo indirecto paciente, transição defensiva muito rápida e agressiva. O Benfica é uma equipa compacta, muito bem organizada defensivamente e com um estilo de jogo eficaz, normalmente também ofensivo, com dois atacantes em ponta e entusiasmante na forma como procura aproveitar os espaços e chegar à baliza adversária. Nas bolas paradas são ambos fortes. O Barça mais criativo e versátil, ao passo que os lisboetas são muito eficazes. Também neste aspecto tenho curiosidade acerca de quem irá sobrepor-se ao adversário.

Os espanhóis assumem o tiki-taka, com uma circulação de bola meticulosa, de jogador para jogador, eliminando linhas defensivas adversárias de forma progressiva, mantendo a posse de bola com linhas de passe de proximidade, como forma de subjugar o rival e fazê-lo sentir-se subjugado e dominado. Assim, forçam o adversário a entrar em crise de raciocínio táctico e a abrir espaços no seu bloco defensivo. A perda de bola? Só assumem esse risco praticamente na última fase de jogo ofensivo, nas acções que poderão levar ao golo.

Esta forma de jogar define a identidade do seu jogo atacante. Uma dinâmica funcional assente numa grande mobilidade dos seus jogadores do meio-campo, sempre disponíveis para criar linhas de passe no centro do jogo, mas também com capacidade para desenvolverem penetrações ou desmarcações de ruptura nos espaços criados pelos atacantes muito móveis, em especial no corredor central. Os seus laterais projectam-se no eixo profundo pelos seus corredores, aproveitando o facto de os extremos jogarem muito em espaços interiores e aparecem também em zonas de finalização.

Além disso, têm Messi, estrela maior de uma constelação ímpar… Defensivamente? Neste aspecto, linha defensiva muito subida e um enorme compromisso colectivo em recuperar bolas o mais perto da baliza adversária. Defendem “atacando” os espaços, o portador da bola e as linhas de passe subjacentes, destruindo o processo ofensivo do adversário quase à nascença e num período de espaço muitíssimo reduzido. Assim, o risco de sofrer golos é menor, pois recuperam a posse de bola em espaços muito subidos e com gastos energéticos muito menores. Treinam isto de uma forma obstinada!

O Benfica, com baixas em posições importantes, poderá promover alterações no seu sistema ou repensar alguns posicionamentos estratégicos, mas é uma equipa com identidade. Funciona muito bem colectivamente, organizada de uma forma meticulosa, solidária, equilibrada e muito bem preparada para todos os momentos do jogo. Apresentará defensivamente um bloco defensivo intermédio e baixo, bem articulado, com linhas próximas e a agrupar-se nas transições defensivas para melhor defender os caminhos para a sua baliza.

Nas transições ofensivas vai ser mais objectivo, pois terá de aproveitar os espaços nas costas da linha defensiva subida dos catalães. É uma equipa com bastante inteligência táctica. Saberá adequar-se às exigências do jogo e, apesar de ser normalmente uma equipa também impositiva, creio que terá de assumir que irá ter menos posse de bola, aguentar de forma sólida e aproveitar os espaços para sair, buscando referências para a transição.

Acredito que, se pontualmente conseguir subir o seu bloco defensivo e exercer uma pressão mais agressiva e também subida, o Benfica criará alguns constrangimentos ao Barcelona. Alternando zonas de pressão e obrigando-os a ter menos tempo e espaço na segunda fase de construção, deixá-los-á mais expostos e menos equilibrados em eventual perda de bola, colocando o Barça à prova.

A equipa do Benfica vai procurar a felicidade, desafiar-se a si mesma para ombrear com o rival na posse de bola, mas mais do que nunca tentará ser eficaz. Tal como diz o meu amigo e ilustre benfiquista Professor Doutor José Antunes de Sousa, “não há campeões infelizes”!

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