Chamam-lhe Zico e ajudou o Burkina Faso a estrear-se a ganhar na CAN

Kassoum Ouédraogo foi herói da selecção burquina e ficou conhecido pelo mesmo nome de um célebre brasileiro

Foto
Kassoum Ouédraogo, de vermelho, durante o jogo com a Argélia que o Burkina Faso venceu em 1998 Reuters

O que têm em comum Arthur Antunes Coimbra e Kassoum Ouédraogo? São dois futebolistas que se destacaram pelos golos. O primeiro ficou conhecido na história como Zico: antiga glória do Flamengo, comemorou ao serviço do emblema carioca três títulos de campeão brasileiro e também venceu a Taça Intercontinental e a Taça dos Libertadores. Disputou os Mundiais de 1978, 1982 e 1986 pela selecção brasileira, da qual é um dos melhores marcadores de sempre, com 66 golos em 89 partidas. Já como treinador, levou o Japão ao Campeonato do Mundo em 2006. O segundo também ficou conhecido como Zico: com uma carreira muito mais discreta em comparação com a do brasileiro, o ex-atacante do Burkina Faso ficou intimamente ligado à primeira vitória da sua selecção em fases finais da Taça das Nações Africanas (CAN, na sigla francesa).

Hoje começa mais uma edição da CAN e o Burkina Faso, comandado pelo português Paulo Duarte, é um adversário ao qual é reconhecido potencial. Os “garanhões” ocupam o oitavo lugar na hierarquia continental e podem orgulhar-se de terem chegado ao pódio da competição em 2013, quando perderam a final para a Nigéria. Mas houve um longo caminho a percorrer para o Burkina Faso aqui chegar. As duas primeiras participações, em 1978 e 1996, saldaram-se por falhanços completos: a equipa foi eliminada logo na fase de grupos, só com derrotas.

Tudo mudaria em 1998. O Burkina Faso foi escolhido como anfitrião da CAN e, perante os seus adeptos, os “garanhões” não podiam falhar. Comandada pelo francês Philippe Troussier, a equipa perdeu o jogo inaugural, perante os Camarões (0-1), mas começou a escrever uma história diferente na segunda jornada da fase de grupos. Perante a Argélia (campeã africana em 1990), Kassoum Ouédraogo colocou o Burkina Faso pela primeira vez em vantagem numa partida em fases finais da CAN, ao converter o penálti que ele próprio tinha sofrido, iniciando um percurso que só terminou no jogo atribuição dos terceiro e quarto lugares, que os “garanhões” perderam para a RD Congo nos penáltis.

Terá sido o momento mais brilhante da carreira de Ouédraogo, que deixara o seu país aos 24 anos, rumando à Bélgica e depois à Alemanha, sempre a representar clubes dos escalões inferiores. Despediu-se dos relvados em 1999, no Dubai.

De regresso ao Burkina Faso, fundou em 2010 um clube com o seu nome. Literalmente: Kassoum Ouédraogo dit Zico Académie de Football (Academia de Futebol Kassoum Ouédraogo conhecido como Zico), ou simplesmente KOZAF. A equipa subiu ao primeiro escalão em 2013-14 e destaca-se por aliar os resultados ao bom desempenho escolar dos seus jovens jogadores.

Ouédraogo apresentou-se como candidato à presidência da Federação burquina de futebol, nas eleições de Novembro de 2016, mas não chegou a ir a votos. O seu lugar na história do futebol local já estava garantido com aquele golo em 1998.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

Sugerir correcção
Comentar